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O gênio do Aleijadinho

16/12/2016
O gênio do Aleijadinho

Antônio Francisco Lisboa nasceu escravo. Era filho de um carpinteiro português e de uma escrava africana. A criança nasceu no dia 29 de agosto de 1730, em Vila Rica, Minas Gerais. Por ocasião do batismo o pai declarou a criança livre da escravidão.

Conforme diz a história, o menino tinha um temperamento impulsivo e a lembrança de sua origem muito influenciou na sua formação. Na verdade, nasceu escravo. Seus pais não eram casados.

Consequentemente tudo isso atingiu a vida de Antônio Francisco Lisboa, que ficou mais conhecido na história pelo nome da Aleijadinho.

Com certeza passou a infância em Vila Rica, onde aprendeu a ler e a escrever e tudo indica que teve noções de latim. Se uma instrução mais aprofundada faltou ao Aleijadinho, teve ele o ensejo de conseguir boa educação técnica.
Ocorre que tendo terminado o período luminoso da exploração do ouro, vão surgindo construções de belos templos religiosos. Consequentemente não são somente os garimpeiros que se dirigem para Minas mas escultores, arquitetos, pintores. Ora, o Aleijadinho passara a infância e adolescência a observar os trabalhos de construção. Ele aprendeu a fazer a planta de uma igreja, a planta de um altar, a planta de um púlpito

Vianna Moog lembra que Antônio Francisco Lisboa era um mestiço cheio de vida que muito se divertia. E acrescentou: “Baixo, pardo-escuro, atarracado de pescoço e com um nariz regular, embora um tanto pontiagudo, cabelo crespo e anelado, de voz forte e arrebatada, ele gosta de bródios e festanças retumbantes e não perde bailes”.

Eis que aquele gênio que ainda não se revelava, estava ainda como que hibernando, isso até os quarenta e cinco ou quarenta e sete anos de idade, encontra uma reviravolta em sua vida.

Os dedos das mãos e dos pés ficam inchados. Uma deformidade começa a devastar o seu corpo e tudo indica que Antônio Francisco Lisboa fora atacado pela lepra.

Como disse um de seus biógrafos: “O gozador, o boêmio Mestre Antônio desaparece de cena, para ceder lugar ao Aleijadinho, o artista, o criador”. A doença prossegue na sua devastação. E, pelo que observaram seus contemporâneos, enquanto o corpo definhava, a genialidade artística aumentava.

Não parava de trabalhar, parecia que ele não queria entregar-se ao desânimo e lutava contra a própria morte. O dinheiro que ganhava era distribuído com os pobres, à semelhança de São Francisco de Assis. Mas a sua missão era trabalhar e sempre trabalhar.

Mal chegava o alvorecer e eis que os escravos, discípulos e auxiliares levam-no numa liteira, para o doente transformar blocos de pedra em imagens barrocas. Em igrejas, ou mesmo no meio da rua estava sempre escondido por uma tenda para evitar as pessoas curiosas, que sempre existem, até o fim do dia, quando já não tinha condição de trabalhar.

Ao regressar ao lar, sentia-se dominado pelas dores causadas pela doença, sem ter medicamento para dar-lhe um alívio. O seu lenitivo era a leitura da Bíblia.
Ainda hoje muitas imagens continuam a ser apreciadas e não transparecem como algo que veio das mãos de um deformado.