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Vaquejada: O novo esporte milionário
Uma Ação Cível Pública, movida pelo Ministério Público e a Defensoria Pública Estadual junto à 2ª Vara da comarca de Palmeira dos Índios, impediu a realização da 25ª Vaquejada “Ulisses Miranda 2016”, a ser realizada no Agreste alagoano, nas terras de outrora consagradas como “Maracanã das Vaquejadas”.
Essa alusão se deve ao fato de que há cerca de 70 anos existiu na Terra dos Xucurús o PARQUE SÃO JOSÉ (Maracanã das Vaquejadas), propriedade de José Mendes “Preto”, avô da vereadora Marta Mendes Gaia. Cresci nesta cidade frequentando a Vaquejada, também conhecida como Festa de Apartação, Pegadas de Boi ou Corrida de Mourão.
Aliás, sob essa expressão “Corrida de Mourão”, os compositores Luiz Gonzaga e Fagner, em 1991, gravaram uma melodia inesquecível. Escreveu o saudoso “Gonzagão:
“Meu sertão tem Futebol, tem Samba, tem Farinhada,
Leilão, Reisado e Novena, mas nada disso me agrada;
Meu Fraco é Cavalo e Gado, Cantoria e Vaquejada!”
Desde cedo, na cidade de Palmeira dos Índios, eu aprendi que a VAQUEJADA é uma “atividade cultural” do Nordeste, na qual dois homens (vaqueiros) a cavalo encurralam o boi na pista e têm de derrubar o animal em corrida, puxando-o pelo rabo (calda), entre duas faixas de “cal” na Arena (Pista de Vaquejada). Nunca acreditei ser um Esporte, porque este é uma “atividade física” que objetiva à competição entre adversários da mesma espécie, podendo tais modalidades ser coletivas, duplas ou individuais, mas sempre com participantes iguais em espécie, diante de desafios que promovam a saúde e a educação, visando à inclusão social.
Para ser uma atividade esportiva, a modalidade tem de envolver habilidades e capacidades motoras, com regras saudáveis e preestabelecidas, na busca de uma identidade esportiva, com o incentivo e o apoio social.
Aliás, como atividade de tradição cultural, a Vaquejada tem que assegurar a “liberdade comportamental” dos animais, evitando que estes sofram desconforto, ferimento, doença, estresse, medo, ansiedade, fome ou sede. Certa vez, eu vi meu pai, pequeno fazendeiro, recusar o aluguel de boiada da sua propriedade para ser usada em pistas de vaquejada.
Disse ele à minha mãe: “não aluguei o meu rebanho porque há possibilidade de maus-tratos físicos no manejo dos bois antes e depois da corrida”. Meu pai, homem do campo, conhecia a origem da Vaquejada. Dizia ele: “no passado as fazendas de pecuária não eram cercadas e o rebanho bovino dos vários fazendeiros se misturava nos pastos. Assim, era preciso realizar a “Festa da Apartação” no mês de junho, depois da estação chuvosa.
Os vaqueiros se reuniam na sede de uma Fazenda para recolher os bois no pasto que se misturavam com o gado dos vizinhos. Eles amarravam, ferravam, castravam e separavam. Esse manejo da boiada exigia habilidade, força, criatividade e coragem do vaqueiro”. Esse costume perdurou até o início deste século.
Em 1934, um Decreto Federal, que ainda está em vigor, definiu que “consideram-se maus tratos praticar ato de abuso ou crueldade em qualquer animal”. E a Lei de Crimes Ambientais no Brasil considera crime contra a fauna “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”.
Muitos veterinários afirmam que “a natureza cruel das vaquejadas é atestada”.
Abusos ocorrem antes mesmo de o animal ser solto na Arena. Para que o bovino, manso e vagaroso, adentre a pista de corrida, o animal é confinado em um cercado e depois num labirinto, onde é atormentado, encurralado, espancado com pedaços de madeira pontiagudos, submetido a choques elétricos e a sucessivas trações de cauda, para que ele corra em disparada pela Arena, após a abertura da cancela que dá acesso à pista.
A professora de medicina veterinária da USP, Irvênia Luiza de Santis Prada, revela que: “conter o boi pelo rabo é o bastante para luxar as vértebras da cauda, romper vasos e ligamentos e, em alguns casos, arrancar completamente o rabo do animal”. Ela diz que, “além da dor física, o boi que é submetido constantemente a essa prática também sofre estresse crônico”.
Portanto, embora não se possa reconhecer como atividade esportiva, no sentido literal da palavra, a Vaquejada é uma tradição cultural. E como tal deve ser reconhecida, mas também há de se admitir que Cultura não é algo imutável. No Brasil, por muitos anos, aplicou-se a Escravidão contra os negros. As mulheres de cor branca não podiam votar até 1934.
Mas o povo evoluiu. A realidade agora é outra. Esse argumento simplista de “Tradição Cultural” não pode prosperar, em detrimento dos vaqueiros (homens simples) e do sofrimento dos animais… Pensemos nisso! Por hoje é só.
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