Política

Aprovação de Temer cresce, mas maioria desconhece reformas, aponta pesquisa

13/10/2016
Aprovação de Temer cresce, mas maioria desconhece reformas, aponta pesquisa

De acordo com o estudo ao qual a BBC Brasil teve acesso em primeira mão, o presidente da República tem 30% de aprovação entre os entrevistados contra 60% que desaprovam sua gestão. A taxa de descontentes é alta, mas é a menor desde setembro de 2015, quando ele não tinha a aprovação de 55% dos brasileiros.

 

Em junho deste ano, a desaprovação de Temer atingiu 70% – seu patamar mais alto – contra apenas 11% de apoio. Em outubro de 2015, o então vice da petista Dilma Rousseff tinha apenas 4% de apoio.

O número de pessoas que disseram não conhecer Michel Temer o suficiente para avaliá-lo neste mês foi de 10% – o menor nível desde que Michel Temer passou a ser avaliado, em agosto do ano passado. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos.

Por outro lado, a pesquisa, que ouviu 1.200 pessoas, também revelou que os brasileiros sabem pouco sobre o governo do presidente peemedebista, que assumiu o poder após o impeachment de Dilma Rousseff no dia 31 de agosto. Durante o levantamento feito entre os dias 6 e 16 de setembro em 72 cidades do país, 55% das pessoas disseram desconhecer as reformas que Temer quer implantar no país.

Temer tem 30% de aprovação entre os entrevistados contra 60% que desaprovam sua gestão

Temer tem 30% de aprovação entre os entrevistados contra 60% que desaprovam sua gestão

Sem mérito

Para o responsável pela pesquisa e diretor da Ipsus Public Affairs, Danilo Cersosimo, o presidente Michel Temer não tem méritos pelo crescimento repentino de sua aprovação. Ele afirma que o principal responsável pela melhora nos indicadores é o fim da instabilidade política causada pelo processo de impeachment.

“Não podemos negar que a imagem do Temer melhorou desde agosto do ano passado, mas como ele nunca venceu uma grande eleição, apenas agora será avaliado pela população. Essa pesquisa é reflexo principalmente do fim de um um período de insegurança vivido no país. Agora, Temer terá a oportunidade de construir a sua imagem a partir das medidas que tomar”, afirmou Cersosimo.

Entretanto, o diretor do Ipsus ressalta que a avaliação do governo Temer como ruim ou péssima por 45% dos entrevistados revela uma rejeição muito alta. “É um patamar semelhante ao de políticos como Geraldo Alckmin, José Serra e Dilma Rousseff”.

Michel Temer começou a enfrentar nesta semana o primeiro teste de sua imagem na presidência: a votação da PEC 241, que limita os gastos do governo. Na segunda-feira, ele conseguiu provar que a Câmara está ao seu lado, aprovando o texto em primeira votação com larga folga. Foram 366 votos a favor da proposta (58 a mais que o necessário), 11 contra e duas abstenções.

Mas a medida, que estabelece um teto para o crescimento das despesas, está por congelar os gastos durante vinte anos e alterar o financiamento da saúde e da educação no Brasil. Ainda haverá uma nova votação no fim deste mês e só depois o projeto segue para o Senado.

De um lado, a PEC é considerada necessária para reduzir a dívida pública do país – que está em 70% do PIB (soma das riquezas produzidas) – e tirá-lo da crise fiscal. Do outro, é vista como muito rígida e criticada por, em tese, ameaçar direitos sociais. Com o passar do tempo ficará mais claro como a população interpretará essas medidas.

Primeiro as ruins

O diretor do instituto Ipsus afirma que as reformas propostas que o governo Temer quer implantar serão essenciais para a população avaliá-lo até as próximas eleições presidenciais, em 2018.

“O crescimento da aprovação de Temer evidencia um anseio da sociedade por mudanças, principalmente na educação – escolhida como prioridade de 20% dos entrevistados. Em breve, veremos quais mudanças serão feitas e qual será o impacto, pois muitas delas serão aprovadas sem o conhecimento de parte da sociedade e isso só vai se refletir depois”, afirma Cersosimo.

Ele diz ainda que Temer pode estar usando a estratégia de aproveitar a ressaca política sentida pelo povo brasileiro, aliada a sua imagem inicialmente ruim, para aprovar medidas mais impopulares.

Temer pode estar usando estratégia de implantar medidas menos impopulares mais perto das eleições de 2018

Temer pode estar usando estratégia de implantar medidas menos impopulares mais perto das eleições de 2018

“Ele sabe que a imagem dele não precisa melhorar agora. O que ele precisa é de apoio imediato no Congresso. Ele pode colocar todos os seus remédios amargos na pauta agora e ir soltando suas medidas mais populares ao longo de 2018 (ano eleitoral)”, analisa.

Cersosino ressalta que medidas aprovadas sem um debate prévio com a população pode ter um resultado negativo muito maior posteriormente.

“A reforma da Previdência, por exemplo, é delicada e difícil explicar. Isso demanda tempo e cuidado para que as pessoas entendam e depois não se vejam numa posição de perda de direitos. Esse reflexo pode demorar um pouco para acontecer.”