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De como Cristina, bela, recata e do lar, transformou-se na dona da noite

01/05/2016
De como Cristina, bela, recata e do lar, transformou-se na dona da noite

Era uma vez em Maceió, uma jovem, bela, recatada e do lar, casada, marido de tradicional família do açúcar alagoano. Cristina, aluna do Colégio Santíssimo Sacramento, aprendeu costura, cozinha, ser rainha da casa. Pai evangélico, a filha saía à rua, às festas, se acompanhada dos irmãos, assim, sua virgindade permaneceu invicta até o casamento. Sua beleza e sensualidade exuberantes chamavam atenção . Numa festa de Carnaval conheceu Antônio Alfredo, mancebo de família rica, estudante de Direito em Coimbra, bonito, másculo, o xodó das mulheres, passava férias na cidade.

Antônio Alfredo encantou-se com Cristina, a bela, iniciaram namoro de portão de casa, horário e vigilância rígidos. Dentro de dois anos casaram-se, apesar da resistência dos pais do noivo, não era bem querer a entrada de uma filha do pastor na família. Antônio, advogado das empresas familiares, se impôs, casou-se, com direito à Lua de Mel na Europa.

Três anos se passaram, o casal bonito chamava atenção. Antônio não queria filho, Cristina frustrada. O ritmo de amor na cama diminuiu, às vezes mais de um mês sem um carinho. Em conversa com Sofia, Cristina ouviu com atenção o relato das peripécias sexuais da prima na cama com o marido, ele não podia viver sem aqueles carinhos especiais. Cristina, ingênua, encantou-se com os detalhes contados, acendeu uma fogueira em suas entranhas, quase adormecidas.

À noite, depois do banho, vestiu minúscula lingerie preta, divina. Antônio ao deitar disse apenas cansado Foi um tabefe em Cristina, ela não admitiu, abraçou o marido, atacou com volúpia, mãos e bocas entornaram aquele corpo másculo. Antônio levantou-se, olhou para esposa, repreendeu, “quem faz isso é prostituta, quem lhe ensinou? Você quer ser rapariga? Me deixe me paz”. Foi dormir em outro quarto.

Cristina chorou, seus instintos desejavam aqueles carinhos ensinados pela prima. Ela se perguntava, era uma tarada? uma quenga? Custou a dormir. Antônio jamais voltou a falar sobre os acontecimento daquela noite.

O casal gostava de passar fim de semana no bucólico sítio na Bica da Pedra, beirando a lagoa. Certo domingo Cristina teve que retornar à Maceió mais cedo, o motorista viria buscar Antônio perto da noite, deixou o marido cheio do uísque deitado na rede. Vinte minutos de viagem sentiu a falta da bolsa, naquela época não havia telefone, resolveu voltar ao sítio. Ao entrar na casa não havia vestígio do marido, apanhou a bolsa em cima da mesa, retornava ao carro, de repente ouviu barulho em seu quarto. Ao abrir a porta, um choque inesperado, a cena mais horripilante permaneceu na memória para o resto da vida. O belo Antônio, nu, na posição que Napoleão perdeu a guerra, de quatro, o filho do morador montado. Cristina soltou um grito de horror, correu, entrou no carro, chorando até chegar em casa.

Era noite quando Cristina parou de chorar, tomou um banho, nua, olhou-se no espelho, achou-se bonita. Colocou um belo vestido, pegou um taxi em direção ao Zinga Bar em Riacho Doce, avistou alguns conhecidos, sentou-se à mesa com amigas, a partir dessa noite, escandalizou a província saindo com homens solteiros e casados. Cristina e Antônio tornaram-se comentários em todas as esquinas, bares e lares da cidade..

Certo dia, sem avisar, Cristina viajou ao Rio de Janeiro. Amou a balada carioca, bonita, fez sucesso entre artistas, políticos, desocupados. Arranjava emprego, entretanto, três vezes demitida por falta. Ela caiu nas noitadas cariocas. A nova vida terminou arrastando-a a uma fina casa de mulheres. Fez sucesso, mestra em todas as posições do Kama-Sutra, homens faziam fila esperando sua vez. Até que um dia um senador se apaixonou, deu-lhe apartamento, jóias, um emprego no Senado, letra O, em troca da exclusividade. Os anos passaram, dois filhos. Hoje, em Copacabana, nenhum vizinho sabe a origem o segredo daquela bela setentona, “viúva”. Cristina, olha pela janela o mar azul, relembra da juventude, bela, recata e do lar. Tem planos, rever o sítio da Bica da Pedra.