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UCPM

27/03/2016
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Maceió vivia uma época áurea, anos 50, tempos de Arnon de Mello governador, boa qualidade de vida, a cidade parecia uma só família. Ainda não acontecera a invasão dos trabalhadores rurais procurando melhoria de vida, inchando a urbe, ocupando áreas à beira do Rio Salgadinho, o maior desastre urbano – ambiental da cidade. Devido à falta de política agrária, nos anos 60 aconteceu esse perverso êxodo dos camponeses à capital, não conseguiram emprego, nem tiveram uma merecida reforma agrária no campo.

D.Leda Collor, primeira dama, revolucionava a cultura, o que havia de melhor de teatro no Brasil vinha à Maceió, Teatro Deodoro cheio. A Aliance Francaise um sucesso, Juventude Musical, projetos culturais enchiam os olhos e ouvidos dos alagoanos.

Nós adolescentes formávamos grupos, turmas (hoje galeras), unidos e adversários nas brincadeiras, jogos, festas de rua, folguedos populares. No pastoril torcíamos veementemente emocionados, Azul x Encarnado, no campo de futebol, CRB x CSA.

Várias turmas de jovens tomavam conta das áreas de lazer, turma da Praia da Avenida, da Praça Deodoro, da Praça Sinimbu, da Pajuçara, da Praça Rayol, do Farol, entre outras.

Maior rivalidade entre time de futebol e voleibol de cada turma, ou namoradas. Os jovens convergiam, misturavam-se nas praias da Avenida ou Pajuçara; nos clubes, Fênix, Iate, Portuguesa ou CRB; nos colégios, Diocesano, Liceu, Guido e Batista. Resultava intercâmbio de amizade, todos se conheciam na província de Maceió nos meados dos anos 50.

Eu morava na Avenida da Paz, junto ao bairro boêmio de Jaraguá, entretanto, rodava toda Maceió de bicicleta. Certa vez namorava uma bela morena na Pitanguinha (onde nasceu Djavan), quase toda noite, depois do jantar, eu subia a ladeira do Farol pedalando e empurrando a bicicleta. A namorada tinha uma irmã, gêmea. Numa noite, a namorada adoeceu, sua irmã resolveu fazer uma brincadeira, tomou seu lugar. Andei pelas ruas da Pitanguinha sem perceber, sem saber que dava cheiro, amasso, na irmã da namorada. Na despedida, depois de um beijo, ela confessou ser a irmã, pediu segredo, guardei até hoje.

Numa noite, passando pela Praça do Centenário, encontrei Humberto, um dos amigos que guardo no peito. Depois de conversa informal e amena sobre mulheres, futebol e festas, convidou-me para reunião de uma associação inusitada que a turma do Farol havia fundada com imaginação e bom humor.

Assisti à reunião e me tornei sócio da UCPM- União dos Conquistadores de Peniqueira de Maceió, com sede na casa do presidente, meu primo.

Tinha regulamentação. O sócio ganhava patente ao contar aventuras, conquistas, com empregadas domésticas, chamávamos maldosamente de peniqueira, naquele tempo havia penico. Conforme a emoção da aventura ganhava promoção aos postos, havia hierarquia da UCPM.

Quase sempre se ouvia alguma aventura com a Nêga Odete, bonita negra, uma rainha africana, a rainha de Sabá, a própria Nêga Fulô do poeta Jorge de Lima. Lábios carnudos, bunda rebitada, riso debochado. Empregada doméstica na casa dos Montenegro na Praça Sinimbu, saía à noite em busca de aventuras, dedicava-se literalmente ao que mais gostava, o que mais sabia fazer, amor. Não era prostituta como algumas madames diziam, não recebia dinheiro em troca do carinho, principalmente se o parceiro fosse jovem e bonito. Ao anoitecer desfilava sua silhueta divina, calipígia de ébano dos sonhos eróticos da nossa juventude, uma rainha. Metade de minha geração da Avenida da Paz teve iniciação sexual nas areias mornas da Praia da Avenida da Paz, nos braços, na sabedoria da negra bonita.

Cheguei a tenente na UCPM, sem merecimento. Entretanto, alguns amigos galgaram ao posto máximo, houve apenas dois generais na hierarquia da UCPM. Por coincidência, os dois hoje moram em Brasília. Um deles, político dos mais influentes e queridos do nosso Brasil, o outro chegou a ministro de um egrégio Tribunal.