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Fernando “Fosse Mãe”

20/03/2016
Fernando “Fosse Mãe”

Fernando Magalhães aportou em Maceió nos anos 60, arribou de Santo Amaro da Purificação, cidade célebre por conta de Caetano e Bethânia. Muitos baianos vinham tentar vestibular de engenharia em Alagoas, pensando ser mais fácil. Ele penou, três tentativas seguidas, levou ferro em todas.

Seu pai, rico comerciante, sustentava o filho com boa mesada, Fernando morava no Hotel Atlântico, praia da Avenida da Paz. Em vez de estudar, vivia na praia organizando “baba”, pelada como chamam os baianos, paquerando as meninas pudicas vestidas em maiôs comportados.

Ele não teve coragem de falar aos pais sua reprovação no vestibular na primeira vez que retornou à Santo Amaro, festa de arromba quando voltou à fazenda do velho. Todos crentes que nosso amigo cursava engenharia, os pais e parentes, orgulhosos.

Assim Fernando morou alguns anos em Maceió, vagabundeando com boa mesada. Gostava de se exibir, pagava uma conta aqui, outra acolá, os amigos boêmios alagoanos, adoravam. Por conta da simpatia, de boa conversa, fez muita amizade na alta e na baixa roda da cidade.

Acordava-se por volta das nove da manhã. Tomava café no hotel, descia à praia da Avenida, bola de couraça rodando nas mãos, chamando jogadores. Na extensa areia dura da praia dava um chute para cima, era o sinal, havia chegado, começava o baba entre os desocupados esperando pelo “Baiano”. Depois da pelada, um banho de mar com direito a algumas braçadas para estirar os músculos, e paquerar alguma jovem desavisada banhista, seu ponto fraco, mulheres.

Namorou algumas moças bonitas da cidade, contudo, seu habitat preferido foi a zona de Jaraguá, frequentou religiosamente os cabarés, tornou-se o dono da zona, íntimo do Mossoró, o rei da noite, Fernando era o queridinho de todas as raparigas. Além de bom pagador, tratava-as com carinho e respeito. Enfeitiçou as quengas acostumadas com clientes grosseiros.

Certa noite na Boate Tabaris (onde hoje funciona a Faculdade de Alagoas), ele contou-me a história do seu apelido.

Quem não tem uma prima, uma tia, uma parente que de quando em vez, se hospeda em sua casa? Pois Fernando também teve na época de sua adolescência. Sua tia Cida, bela quarentona, sempre passava alguns dias na fazenda da irmã, em Santo Amaro da Purificação. No mês de janeiro a fazenda enchia-se de parentes e aderentes, comida, bebida à vontade, banho de cachoeira. À noite dormiam em dois enormes quartos, homens e mulheres separados. Entretanto, tia Cida tinha privilégio, um quarto exclusivo, junto ao único banheiro dentro da casa grande.

Certa noite Fernando acordou-se, bexiga cheia, para entrar no banheiro mais rápido atravessou o quarto da tia Cida. Ao abrir cuidadosamente a porta, o sobrinho teve uma taquicardia ao ver sua amada tia deitada em decúbito ventral, vestindo apenas uma calcinha preta, dormindo como uma neném. Com o coração disparado, o sangue fervendo, andou na ponta dos pés em direção ao banheiro sem perder de vista aquela quarentona magnífica, coberta apenas por uma minúscula calcinha. Entrou no banheiro, fez o serviço, voltou no mesmo ritual. Pecou sozinho entre os lençóis de sua cama.

Dia seguinte no café da manhã, a tia cochichou no ouvido do querido sobrinho: “Eu lhe vi, ontem à noite!” Fernando não conseguiu sossegar o espírito, durante todo o dia vinha-lhe a imagem de tia Cida deitada na cama, o detalhe da calcinha de renda preta lhe deixava louco.

O ritual repetiu-se por mais três noites. Ele levantava-se, passava devagar pelo quarto, contemplando a beleza da tia, só sossegava na cama entre suas mãos. Cida, durante o dia, continuou provocando-o com olhares pedintes e sorrisos marotos.

No quinto dia, Fernando estava a ponto de bala, a tia não saía-lhe da cabeça. Havia passado da meia-noite, abriu a porta do quarto, Cida deitada, vestia apenas minúscula e provocante calcinha, mexia o corpo em movimentos lânguidos, ele endoidou, não conseguiu se segurar, quando se deu, estava por cima, a bela mulher o segurou repreendendo: “Sou sua Tia, menino!!””

Ele virou-a, antes de beijar-lhe a boca, gritou-lhe baixo no ouvido: “FOSSE MÃE!!!!!!!!!!!!!!!!!”. A tia abraçou-lhe às gargalhadas, arranhando-lhe as costas.

Manhã seguinte, feliz da vida, Fernando contou sua aventura, entre juras de segredo, em maior confidência, a seu amigo mais íntimo de Santo Amaro, Pedro Cabral. Quem poderia no mundo guardar um segredo desse? Daquele dia até hoje em Santo Amaro da Purificação e adjacências, nosso herói pegou o apelido, “Fosse Mãe”.

Para Cida ficaram inesquecíveis as férias na fazenda, principalmente quando a noite dormia.

Fernando conseguiu entrar na Faculdade no quarto vestibular. Hoje, meu amigo é engenheiro aposentado da Rede Ferroviária Federal, setentão, mora em Salvador, os amigos, sem saber o porquê, conhece-o por “FERNANDO FOSSE MÃE”.