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Lendo & Comentando

19/03/2016
Lendo & Comentando

Fiz uma visita à casa do Cel. J.F. Maya Pedrosa na semana passada. Naquela oportunidade, conversamos sobre a situação do País e, ao mesmo tempo, sobre o papel das Forças Armadas no momento que o Brasil passa pelas crises econômica/política sem precedentes. Segundo ele, a crise política tem que ser resolvida pelo Congresso Nacional, enquanto a econômica é da responsabilidade da presidente Dilma Rousseff.

A propósito, ofereceu vários exemplares do seu novel livro intitulado No Tempo da Guerra Fria. Coube ao Professor/ Historiador Douglas Apratto Tenório, vice-reitor do Centro Universitário Cesmac, opinar sobre a obra no tocante a pujança do documentário histórico no contexto nacional. E, por isso, deve-se reproduzir o seu pensamento na íntegra.

“ Maya Pedrosa é um ativo debatedor de temas importantes e não foge a qualquer convite para discutir assuntos tabus e defender suas ideias. Debruça-se agora sobre o movimento militar de

1964, visto sob sua ótica. Quer dar a sua versão, abrir seu baú de recordações. Gritar sua insatisfação e posicionar-se. Sabe que desagradará muitos gregos e troianos com a sua narrativa. Inclui em sua análise importantes momentos daquele período e insere neles os principais “ dramatis personae”. A História é insepultável . Por mais amargas que tenham sido as experiências de um povo, é preciso que elas sejam lembradas, discutidas, criticadas, para que delas se extraia a verdade histórica, para que nos seus anais se tirem lições para o presente e para o futuro.”

No Preâmbulo de seu festejado livro, Cel. Maya não economiza palavras. Pelo contrário, emite seu pensamento de escritor e, sobretudo, de comandante do Exército brasileiro que coleciona vitórias fruto de sua excelsa inteligência, bem como de sua fantástica memória.

Segundo ele, “ No tempo da Guerra Fria, o mundo esteve envolvido na disputa do poder entre potências, enquanto o liberalismo, considerado uma conquista da civilização, ficava fora de moda em algumas partes do planeta ( 1974/91). Apesar de não ter sido por inteiro um conflito armado, a rudeza de seus fatos não permite apreciações amenas sobre ele e suas consequências porque envolveu a segurança, a liberdade e a propriedade.

Nesse conflito, parte expressiva de intelectuais, militares e políticos não concordou com a inserção do Brasil entre as democracias ocidentais alegando as misérias do capitalismo e desacreditando na iniciativa privada. Pelo contrário; apoiou a revolução socialista ou foi omissa diante dela, ao mesmo tempo em que fazia carga contra a repressão e o imperialismo.

Muitos deles consideravam que seu movimento estava ligado a uma estratégia sob a égide de Moscou, desde a Revolução de 1917/1918, enquanto valorizavam o partido único, o coletivismo e o materialismo histórico nas tribunas, redações, cátedras, púlpitos e até por imposição das armas, visando a uma “democracia popular “. Juntaram-se, doutrinaram, ameaçaram e ficaram atrelados à estratégia revolucionária dos sovietes, enquanto estabeleciam ligações com a guerrilha latino-americana.”

Trata-se, portanto, de uma História narrada com o amor d’alma, isto é, sem fugir da realidade que aconteceu a Guerra Fria. E, portanto, merece crédito pelos relevantes esclarecimentos que veio à tona por um escritor/historiador da estirpe do Cel. Maya Pedrosa. Conheço-o há bastante tempo, sócio efetivo da provecta Associação Alagoana de Imprensa (AAI), bem como de outros sodalícios de relevo na sociedade caeté.

Por essas e outras razões, recomendo a leitura da obra a intelectuais, estudantes universitários da Ufal/Cesmac/SEUNE e, principalmente, escritores envolvidos com a historicidade brasileira. E, sendo assim, a obra interessa àqueles defensores da democracia participativa. Urge, portanto, valorizar um homem probo, e, sobretudo, atento à Nação a ponto de defender sem receio o seu abalizado ponto de vista.

O autor sentencia: “ Abre-se uma nova era na qual não posso passar de espectador, o que me faz encerrar meu ciclo memorialista e de reflexões. Que Deus nos proteja agora da ganância dos países poderosos e nos livre da mediocridade que tenta explicar a vida nacional com tanto rancor e radicalismo em uma ideologia já superada pelos tempos.

Quanto aos militares, o universo político brasileiro manda que continuem atentos às distorções ideológicas que afetam a nossa democracia, mas submetidos às limitações impostas por sua posição institucional.” Cel. Maya no alto de seus 83 anos bem vividos, por hipótese alguma, pode encerrar sua participação de homem ligado às Forças Armadas, bem como na sociedade brasileira. Almejo novos livros que, por certo, sairão em breve.