Na semana que passou a Rede BBC de Londres divulgou cartas escritas entre Karol Wojtyla (eleito Papa em 1978) e Anna Tereza Tymieniecka, filósofa e doutora em filosofia. Durante anos, essas missivas estiveram longe dos olhos do público na Biblioteca Nacional da Polônia. De acordo com a emissora britânica BBC, esse fato revela uma face diferente do Pontífice. Mas, o Vaticano defende o Papa João Paulo II, explicando se tratar de uma amizade entre duas pessoas responsáveis. Anna Tereza Tymieniecka, polonesa com nacionalidade norte-americana, era casada desde 1956 e mãe de três filhos. Mulher honesta, culta e intelectual que conheceu Karol Wojtyla em 1973, por ocasião de um livro de filosofia escrito por ele, quando era Arcebispo de Cracóvia (Polônia). Segundo o Vaticano “os dois decidiram se encontrar para discutir o trabalho e, pouco depois, começaram a se escrever”. Uma relação epistolar que durou por 30 anos até a morte dele. No início, as cartas entre Wojtyla e Anna eram formais, mas à medida que a amizade crescia foi se estreitando. As cartas tornaram-se confidenciais. Entretanto, a Rede BBC afirma que “não há qualquer evidência que o Papa João Paulo II tivesse rompido seus votos de celibato”. Logo, nunca existiram práticas sexuais. A amizade existente entre a filósofa Anna e o papa João Paulo II, que morreu em 2005, aos 84 anos, não era fato desconhecido pelo Vaticano. O Sumo Pontífice visitou sua amiga nos EUA, em 1976, quando este participou de uma conferência católica. Ela também o visitou várias vezes no Vaticano. Fotografias que nunca tinham sido divulgadas foram expostas: os amigos juntos, compartilhando viagens pelo campo e férias em estações de esqui. E Karol Wojtyla descreve Anna Tereza como um “presente de Deus”.

A questão posta nessa Crônica é a seguinte: é possível existir amizade entre duas pessoas de sexos diferentes?  Um homem e uma mulher podem ser amigos íntimos, sem serem amantes? É possível se manter uma amizade por longo tempo, com admiração e afeto entre ambos, mas sem qualquer interesse amoroso e sexual? Eu afirmo que “sim”, porque já vivi essa experiência em minha vida. No entanto, eu tenho um amigo intelectual, criativo, culto e sensível ao mundo, que responde que “não”. E não é só isso! Certa vez, ele me questionou “como poderia JESUS ter “amado” Maria Madalena, rica, bela e pecadora, sem que tenha tido ralação sexual com ELA”. Eu discordei, com o argumento de que as obras do espírito não se assemelham às obras da carne. E lhe disse mais, um homem ou uma mulher pode ter amizade com o outro, sem que haja interesse pessoal, com conotação sexual.

Ora, quando se tem confiança em alguém pode se conversar de tudo. Isso é amizade. A amizade fica mais íntima quando há permissão de ambos para compartilhar bons e maus momentos. A Amizade é a afeição recíproca entre seres racionais, com confiança, admiração e boas relações, sem interesse sexual. A intimidade entre amigos é diferente da amizade entre namorados e cônjuges, porque nesta relação se tem “segundas intenções”, com atração física que alimenta o desejo sexual. Entre amigos só existe cordialidade, confiança e espontaneidade. Amigo é aquele que faz companhia em todo o tempo, mesmo que não esteja sempre por perto. Por isso, já disse um poeta, enquanto a paixão te dá assas para sonhar, a amizade te dá chão para garantir sua tranquilidade emocional. Na escolha de um amigo, ensina-nos o Livro Sagrado dos Judeus (Talmude), “não escolhas para amigo um homem de mau caráter”.  O filósofo Pitágoras propagou: “Elege para teu amigo o homem mais virtuoso que conheces”. Outro notável pensador, Francis Bacon, confessou: “Não existe solidão mais triste do que a do homem sem amizades. A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto…” O Papa Francisco, em defesa de Karol Wojtyla, sentenciou: “A amizade com uma mulher não é um pecado, é uma amizade. Uma relação amorosa com uma mulher que não seja sua esposa, sim, isso é um pecado”. João Paulo II “era um homem que queria pensar como as mulheres. (…) Um homem que não sabe ter uma boa amizade com uma mulher é alguém a quem falta algo. Eu, por experiência, quando peço conselhos a colegas ou amigos, sempre gosto de receber a opinião de uma mulher, (…) nada impede que o Papa possa manter uma amizade saudável e santa com uma mulher”, afirmou Francisco, o Sumo Pontífice. Pensemos nisso! Por hoje é só.