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Almirante Saldanha (I)
No dia em que a Alemanha invadiu a Polônia, 1º de setembro de 1939, deflagrando a II Grande Guerra Mundial, nascia em Maceió, bairro da Pujuçara, Romeu Peixoto Saldanha, filho do ilustre professor de português e literatura, Manoel Saldanha, catedrático do Liceu Alagoano, Diocesano e Sacramento. O Professor Saldanha, intelectual, escritor bissexto, possuía excelente biblioteca em casa, gostava de ler e ensinar, amigo de Graciliano Ramos, homem de destaque no cenário alagoano. Naquela época professor recebia salário condizente, usava paletó para dar aula. A mãe de Romeu, Dona Margarida, linda morena, do lar, excelente dona de casa, gostava de cantar “Favela”, de Hekel Tavares, enquanto trabalhava em casa.
Romeu criou-se na Pajuçara, com um ano já andava na areia da praia, aos quatro sabia nadar, aos oito navegava no “snipes” de seu pai, proeiro, manejava a vela bujarrona como gente grande. Aos dez anos seu maior prazer, nadar até a piscina natural, deliciando-se com mergulhos entre pedras, recifes, matando peixe com arpão, retornando, muitas vezes, carona de jangadas de pescadores. Seu fascínio pelo mar tornou marcante em sua vida. Dona Margarida, a pedido do filho, o fantasiava de marinheiro nos carnavais, foi apelidado, não se sabe por quem, de Almirante, pegou.
Estudava no Colégio Diocesano, pela manhã pegava o bonde, junto ao pai. Nas horas vagas, brincadeira com amigos correndo praias e sítios, roubando coco, melancia, mamão, cana caiana. À noite no Gramado da Pajuçara, indefinida praça bucólica, gramada e arborizada – (onde hoje está criminosamente instalado um posto de combustível) – os meninos jogavam ximbra, pião, soltavam arraias, andavam de bicicleta, patins e outras brincadeiras. Almirante e os amigos tiveram uma infância livre, leve e solta na Maceió daquela época.
De repente foi aparecendo cabelos no sovaco, voz engrossando, hormônios transformando o menino em rapaz o que fez sentir atração pelas mulheres. Certo dia, Luzia, a empregada, amarrando os cadarços de seu sapato encostou-se em Romeu, ele sentiu a ereção, ficou encantado.
Gostava de ler feito o pai, aos 13 anos havia lido a coleção, Clássicos Jackson. Quando chegava a revista O Cruzeiro, ficava excitado olhando fotos das mulheres de maiô, lia a revista no banheiro. Colecionava escondido uma revista proibida, histórias em quadrinhos de Carlos Zéfiro, desenhista pornográfico. Na praia se achegava às moças de maiô, certa hora não aguentava, mergulhava, se aliviando na água tépida do mar de Pajuçara. Foi quando percebeu, surgiu outro fascínio em sua vida, além do mar, as mulheres. Com uma pua abriu um buraco no banheiro da empregada ficava no fundo do quintal, discretamente olhava Luzia tomando banho. Certo dia ela notou a artimanha do patrãzinho, passou a dar massagem em seu corpo ao tomar banho, deixando o Almirante eriçado. Em seu aniversário, 14 anos, Luzia cochichou no ouvido, tinha um presente, marcou às oito da noite atrás dos Sete Coqueiros. Romeu ficou excitadíssimo, ansioso, olhando o relógio. Foi devidamente desvirginado aos 14 aninhos. Caiu na besteira de contar prosa, se gabando para amigos, detalhou os pormenores do amor em plena areia da praia de Pajuçara. Seu primo Afrânio pediu a mesma noitada à Luzia, ela recusou, por vingança contou o acontecido aos tios. Dona Margarida colocou Luzia para fora do emprego e o professor Saldanha, orgulhoso do filho, contava aos amigos, tinha um macho dos bons em casa. Romeu aprendeu, nunca mais se gabou, tornou-se um come quieto.
Naquela época namorada era virgem, os jovens depois do agarrado no portão da casa da namorada, saía em busca de empregada doméstica ou subiam as escadas dos casarões do bairro boêmio de Jaraguá pagando o carinho, o amor das raparigas. Almirante tornou-se um frequentador assíduo, a sexualidade à flor da pele foi uma constante pelo resto da vida.
Certo dia uma revista da Marinha caiu em sua mão, naquele ano terminava o ginásio, em casa informou aos pais, queria ser oficial da Marinha, estar perto do mar, conhecer lugares. Fez os exames. Dia 15 de março de 1955 sentou praça como cadete no Colégio Naval de Angra dos Reis, Rio de Janeiro. Dali por diante dedicou sua vida à Marinha, ao mar e às mulheres.
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