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Solamente una vez

24/01/2016
Solamente una vez

Há mais de seis anos deixei de dirigir, tornei-me amigo de taxistas. Gosto de conversar com esses motoristas anônimos, futebol, política (é um termômetro), o que acontece na cidade. A prefeitura da cidade de São Paulo proibiu taxistas conversarem esses assuntos com clientes, fico imaginando a conversa de taxista paulista, Sartre? Tchaikovsky? Marx?

 Semana passada peguei um taxi no posto, disse o destino ao amigo Arara, fomos conversando, perguntei sobre o movimento dos turistas. Ele não se fez de rogado, gosta de contar casos, ótimo contador de história. Enfrentamos o trânsito louco enquanto ele narrava com entusiasmo sua aventura.

  – “Coronel, o senhor não vai acreditar,  eu aguardava passageiro calmamente no posto, eram 10 horas, quando a argentina apareceu, coroa bonita, vestido transparente de renda branca, por baixo maiô azul claro. Sorrindo foi negociando o custo em levá-la à praia de Ipioca e ficar esperando até às três da tarde, o almoço ela pagava. Fiz meus cálculos, ela aceitou. Sentou-se no banco dianteiro, partimos rumo ao litoral norte. A coroa se apresentou, Filipa, mora em Córdoba, fascinada por Maceió, está comprando um apartamento na Jatiúca, sempre passa férias e feriados, conhece todas as praias, apaixonada por Ipioca. Ficou empolgada ao passarmos pelas novas ruas e avenidas em frente ao mar. Em Ipioca estacionei embaixo de uma árvore, Filipa desceu, rumou à barraca de praia, acompanhei-a à distância, pediu ao garçom, sombrinha, mesa, cadeira. Eu apreciando, a argentina tirou o vestido, de maiô respirou fundo, de repente correu, entrou no mar, pulou marolas, mergulhou.”

 Interessadíssimo na história, perguntei, que tal a coroa?

“Uma Deusa, corpo enxuto, tudo em seus lugares, foi campeã de natação na Argentina.” Respondeu o Arara com ar de cumplicidade. Continuou. “A bonitona nadou meia hora mar a dentro. Saiu da água saltitando, feliz, alegre, sorrindo, deu-me um adeus ao longe, retornou à mesa, ajeitou a sombrinha pediu ao garçom cerveja e peixe frito, camarão. Na segunda cerveja ela virou-se, chamou-me com os dedos, atendi, sentei-me a seu lado, num português com sotaque entendível, conversamos bastante. Trocou para uísque, eu na coca. Cada vez soltava-se mais, perguntou-me que tal a veterana? Só depois entendi que veterana é coroa, mulher usada, semi nova, em argentino. Respondi, a senhora ganha de muita jovem”

  Arara, todo orgulhoso disse ter notado depois da bebida um clima de paquera.

“Filipa puxou assuntos picantes, sexo e coisa e tal. Ela perguntou-me se queria almoçar em algum restaurante ou comeria na barraca, respondi-lhe que o peixe estava ótimo, matava a fome com aquele delicioso bijupirá e camarão. Ela tomava uísque como se fosse cerveja, sorria, cantava, quase embriaga, deu três da tarde, ela falou que não importasse a hora, pagava mais. Às quatro  ela pagou a conta, levantou-se, eu ajudei-a a levar o vestido, de maiô entrou no carro, cantando e sorrindo. Ao sentar-se, de repente olhou para mim, puxou meu rosto, beijou-me a boca, ficamos grudados. Olhamos, olhos nos olhos, ela deu as ordens, para o hotel. Segui com o carro conversando com a veterana, não deixava de sorrir e cantar. No hotel levei-a ao quarto, nos abraçamos, fomos ao banho. Passei um resto de tarde maravilhoso, coroa extraordinária a argentina nadadora, sabia tudo na cama. Sai às nove da noite, pagou-me o combinado, deixei-a dormindo.”

Eu ansioso por saber se a argentina estava ainda na cidade, perguntei se ele a procurou novamente, qual hotel se hospedava. Arara continuou sua história.

   “No dia seguinte fui ao hotel, encontrei-a no café da manhã, pediu-me para sentar, disse-me em seu espanhol. “Arara, me gustó sair con usted, pero, saio solamente una vez, sin repetir lo taxista, una vez cada uno, una vez nada más, solamente una vez.” Levantou-se, entrou no hotel. Com alguns dias descobri, três colegas taxistas tiveram a mesma aventura maravilhosa com a argentina. Vão completar dois meses, nunca mais avistei a veterana”.  

Chegamos ao nosso destino, Arara parou o taxi, eu pensando, “solamente una vez”, deu-me uma ponta de inveja do Arara.