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Celular é o cão!

17/01/2016
Celular é o cão!

Marluce começou a desconfiar quando Germano colocou o celular para carregar na tomada da área de serviço. Tantas tomadas nas salas do amplo apartamento, onde sempre carregava o celular, porquê agora só na área de serviço? Quando o celular tocava o marido se levantava num rompante, atendia, voz baixa, às vezes conversas desconexas, marcando e desmarcando compromissos, a esposa achou estranho. Durante à noite aproveitando o sono pesado de Germano, ela apanhou o celular da cabeceira, trancou-se no banheiro, iniciou uma procura de ligações diretas e no WhatsApp. Não percebeu algum nome de mulher em destaque, porém, um tal de Dr. Sílvio era constante nas chamadas, conversas longas, 8 a 10 minutos. Saiu do banheiro, deitou-se, insone, elucubrações, histórias, fantasias, até suposição de homossexualidade do marido. Dr. Sílvio, não lembrou de algum, era quem mais aparecia nas ligações. Ao acordar, domingo, testou Germano com carinhos, ele correspondeu, transa fervorosa, surpreendente, para um sessentão.

Na segunda feira marcou com Audálio, detetive particular procurado no Google. Às três horas da tarde ela subiu o Edifício Breda, o mais antigo da cidade. Contou a verdade ao jovem detetive, a desconfiança de uma aventura do marido. Com uma foto de Germano, número da chapa do carro, local de trabalho e um adiantamento de R$ 500,00, o detetive prometeu trabalho, aguardasse.

Na segunda feira seguinte Audálio telefonou, convidou a madame a comparecer ao escritório. Marluce subiu no velho elevador às quatro da tarde, ao entrar na sala sentou-se numa confortável poltrona, encarou o detetive, “e aí?”

“Descobri tudo Dona Marluce”, disse Audálio mostrando-se vencedor. “Foi uma semana trabalhosa, muitas investigações, espero que a senhora me recompense. Aqui estão as provas em fotos”, disse, estendendo-lhe um envelope pardo.

Marluce num átimo tomou-o das mãos de Audálio, rasgando pela beira, abriu o envelope. Ficou surpresa, assustada e muda ao ver fotos de seu marido no carro entrando em motel com Silvinha, amiga de longas datas. Uma onda de raiva tomou seu ser, deu um tapa nos cinzeiros da mesinha, voaram longe. Audálio, abraçou-a, mandou chorar, ela chorou com tanta ira que molhou a camisa do detetive. Precisou algum tempo e um lexotan para se acalmar. Marluce calada, pensou meia hora, sentada. Levantou-se da poltrona, encarou o jovem detetive, num impulso abraçou-o, beijou-lhe a boca, dentro do escritório no chão de falso granito fez amor urrando, gritando, chamando Germano de corno, os vizinhos de salas ouviram e acudiram. Audálio abriu a porta, tudo sob controle. Já calma, vestida, ela fez um cheque de R$ 5.000,00, saiu da sala como se nada tivesse acontecido.

Ficou a matutar o quê fazer, ligou para o filho nos USA, descansou um pouco a alma. Na quinta feira telefonou para Eduardo, marido de Silvinha convidando para jantar no sábado, nunca mais os casais tinham se visto. Eduardo aceitou, comunicou a Silvinha, ela imediatamente ligou para Germano, a intuição feminina baixou em Silvinha, “ela está sabendo” disse convicta à Germano. “Sabe nada, tomo todo cuidado possível”, respondeu.

No sábado, o casal chegou para o jantar, Marluce se mostrava radiante, servia e tomava John Walker Blue, tira gosto o melhor possível servido pelo garçom Lourival. O jantar, uma delícia, Bijupirá ao molho de camarão e lagosta ao thermidor. Depois de muitas conversas e uísques, foram para varanda tomar licor, continuar a noitada, uma vista linda da praia de Ponta Verde.

Em certo momento, Marluce falou alto, “Ah! tenho uma surpresa interessante para mostrar”. Retornou com o envelope pardo, distribuiu para cada um, uma fotografia. Todos emudeceram olhando as fotos. Eduardo foi o primeiro a se manifestar, xingou a mulher de vadia, deu-lhe um soco, ela caiu, ele saiu. Germano olhou para a esposa, Marluce simplesmente sorriu-lhe, “pode sair, suas malas estão na portaria, nunca mais volte aqui”. Encarou a ex amiga com olho roxo, “vá embora daqui imediatamente, Dr. Sílvio, se não dou-lhe uma cacetada no outro olho.”

Dias depois Silvinha recriminava Germano, “você disse que tomou todos os cuidados!”. “Ela desconfiou quando carreguei o celular”, respondeu o amante, “celular é o cão!.”