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Como nasce um Santo

06/01/2016
Como nasce um Santo

O piedoso e zeloso Padre Pedro Ribeiro, primeiro capelão da Capela de Nossa Senhora das Dores (antes um “Oratório”), em 15/09/1827, fundou o povoado de Juazeiro em terras da sua família. Ele era uma pessoa “santa” pelos escravos que obedeciam ao Pastor. Outros sacerdotes sucederam ao Padre Ribeiro, até que, em 24/12/1871, veio ao Juazeiro do Norte para celebrar sua primeira Missa na referida Capela, o Padre Cícero Romão Batista, nascido no Crato (24/03/1844), com apenas 27 anos de idade. O povo solicitou que ele ficasse em Juazeiro. Ele pediu uma casa para residir com a mãe, Dona Joaquina Vicência Romana, conhecida por Dona Quinô; duas irmãs solteiras, Angélica e Mariquinha, além da escrava Tereza (conhecida por Tereza do Padre). Em 11/04/1872 o Padre Cícero Romão assume a Capela de Nossa Senhora das Dores, na condição do “6º capelão”. Ele iniciou sua missão, recebendo confissões, oferecendo “extrema unção”, realizando casamentos e batizados e rezando com seus fiéis a “Oração do Rosário da Mãe de Deus”, como ele sempre dizia. Após a “Oração do Rosário”, o Padre Cícero reunia o povo para ministrar a Doutrina da Igreja Católica, lendo e explicando trechos da Sagrada Escritura. Ele também exigiu que os fiéis usassem ao pescoço o “Rosário” de Nossa Senhora.

Em 1873, a Capela de Nossa Senhora das Dores não mais comportava seus fiéis. O Padre Cícero liderou um movimento para reconstruir a Capela, em 1875, sem alterar o “estilo” da obra do primeiro vigário, capaz de receber todo povo cristão. A comunidade lhe deu apoio e foram escolhidos dois irmãos que eram pedreiros, Mestre Antônio e José Edwiges, para reunir um grupo de homens e assumir a ampliação do templo da “Mãe de Deus”. O povo trabalhava de graça. Os pedreiros e os operários que trabalhavam diariamente na “Casa de Deus” recebiam uma ajuda em dinheiro para se manterem. Em 1877 veio a “seca”, mas não houve paralisação dos trabalhos. No ano de 1884, o Templo estava construído e houve a bênção e a sagração do altar da Capela pelo Bispo de Crato, Dom Joaquim José Vieira. Neste ato afirmou o Bispo: “A Capela de Juazeiro, que começou a ser construída pelo Padre Cícero Romão, sacerdote inteligente, modesto e virtuoso, é um monumento que atesta o poder da fé e da Santa Igreja. É admirável que um sacerdote pobre tenha construído um templo vasto e arquitetônico em tempos anormais, quais aqueles que atravessavam esta Diocese, assolada pela seca, fome e peste”.

Durante a celebração de uma Santa Missa pelo Padre Cícero, em 06/03/1889, na hora da comunhão um fenômeno aconteceu com “a transformação da hóstia em sangue na boca da beata Maria de Araújo”. Este fato, divulgado pelo Monsenhor Francisco Rodrigues Monteiro, deu início a “Questão Religiosa” do Juazeiro, que resultou na Suspensão da Ordem Sacerdotal do Padre Cícero Romão Batista, por uma Portaria redigida e assinada pelo Bispo da Diocese do Crato, Dom Joaquim José Vieira, na qual proibia o sacerdote de pregar e confessar, como também de celebrar a Santa Missa. A Capela de Nossa Senhora das Dores ficou sob a direção da Freguesia do Crato até o ano de 1917, quando foi criada a Paróquia de Nossa Senhora das Dores, em Juazeiro do Norte.

A Diocese do Crato ignorou o Laudo Médico do Dr. Marcos Madeira que, em 28/03/1891 atestou e jurou “trata-se de um fato sobrenatural, para o qual não se encontra uma explicação científica”. Padre Cícero ficou afastado da prática religiosa com severas punições. Em 06/10/1898, após viver no exílio, ele teve audiência com o Papa Leão XIII, em Roma, sendo absolvido da acusação por Sua Santidade. Contudo, o Bispo Joaquim José Vieira manteve seu afastamento do sacerdócio na “sua” Diocese. Em 1910, fora da Igreja, Padre Cícero ingressou na vida política. Por duas vezes foi prefeito de Juazeiro e Vice Governador do Ceará, além de Deputado Federal. Ele fundou Orfanato e inaugurou o Campo de Aviação de Juazeiro. Com 90 anos de idade, em 20/07/1934, ele morreu e foi sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Juazeiro. Mas, seus inimigos continuaram a lhe perseguir. Eles esqueceram que Padre Cícero era um homem iluminado; uma figura notável sobre a qual existem mais de 200 livros sobre sua Vida e sua Obra. Sem sofismar, pode-se dizer que o “milagre” deste religioso se resume no binômio “Oração e Trabalho”, semelhante à doutrina de São Bento. Porém, por iniciativa do Bispo de Crato, Dom Fernando Panico, junto ao Vaticano, o Papa Francisco decidiu pela reabilitação do Padre Cícero, que sofreu “perseguição injusta” do Bispo Joaquim José Vieira, um “pastor” frustrado, invejoso e arrogante, que não admitia a admiração do povo para com o sacerdote “Padim Cíço”.