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Pedro Olímpio conviveu com “ELA”

23/12/2015
Pedro Olímpio conviveu com “ELA”

Pedro Olímpio de Oliveira e eu fomos alunos do Colégio Pio XII, nos anos 60, onde estudamos com padres holandeses e brasileiros da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, na época de Ludgero Raaymakers, Clovis Antunes, Alberto Azevedo, Expedito, João Lemos, entre outros. Eu desfilava nos pelotões das classes, enquanto ele se destacava na Banda Marcial do Ginásio. Eu residia na Rua Moreira e Silva e ele na Rua Correia Paes, nesta cidade. Nossa convivência era pouca na adolescência. Eu fui um dos clientes na Loja de Discos “Luzitânia” de sua propriedade. Na vida adulta, após retornar das Minas Gerais, como advogado formado e militante, reencontro o colega Pedro Olímpio, na condição de comerciante na Rua Duque de Caxias. E, quando eu produzia e apresentava um programa radiofônico “Ponto de Encontro” diariamente, ao meio dia, na Rádio Educadora Sampaio, onde entrevistava pessoas da cidade, do estado e do país, a exemplo do Padre Cantor Antônio Maria; Dr. Humberto Gomes, chefe da Santa Casa de Misericórdia; médico e deputado Emílio Silva; Dom Fernando Iório Rodrigues, quando nomeado Bispo de Palmeira, entre outras figuras da vida profissional, social ou política, Pedro Olímpio era um dos meus ouvintes assíduos. Intimamente, eu e ele participamos do Movimento do Cursilho de Cristandade (MCC) e fomos membros (irmãos) na Fraternidade Rosa Cruz (ordem espiritual não sectária de homens e mulheres que buscam a harmonia consigo e com a natureza, através de práticas das leis naturais e espirituais), juntamente com o servidor público do DNOCS, Adelson Cordeiro. No mais, geralmente no fim da tarde, eu dava uma “passadinha” na Loja “Presenson” de Pedro Olímpio e na “Casa São Paulo”, de Luiz Barros Torres, para atualizar as
notícias da semana.

Quando meu amigo Pedro Olímpio de Oliveira ficou doente eu fiquei abalado. Dizia a mim mesmo como pode alguém dinâmico, jovial, sincero e amante da liberdade ficar imobilizado em uma cadeira de rodas por uma enfermidade crônica. Muito dos amigos lamentavam a triste sina, mas ninguém se atrevia a visitá-lo para não vê-lo sofrendo. Em certa altura da doença, ouvi de um deles uma confissão desesperadora: “Everaldo, se eu souber que tenho uma doença incurável e degenera eu praticaria a Eutanásia”. (A Eutanásia é o ato de matar ou de morrer, em razão do sofrimento diário de um doente atingido por afecção incurável que produz dores intoleráveis). Antes de tudo é um crime.

Então, eu respondi a este amigo comum: “não acredito que Pedro nem sua esposa sejam capazes de praticar a Eutanásia, até porque eles são religiosos e se ama muito, inclusive ele a chama de “mãe”.

Todavia, contrariado, ele me repreendeu: “Eu também sou cristão e Deus não quer o sofrimento prolongado de ninguém, principalmente sendo este paciente um bom filho, um bom marido e um bom pai!” Eu o retruquei, com veemência: “Amigo, se eu não conhecesse de perto o casal, talvez eu aceitasse seus argumentos. Mas a realidade que eu conheço é outra”. E eu disse mais, “ninguém pratica Suicídio ou Eutanásia se essa pessoa, embora angustiada pela dor, não se sinta amada e assistida. A solidão, o abandono e a rejeição são causas de mortes súbitas e de outras violências contra a vida”, ponderei, sem vacilar.

Por fim, contei-lhe sobre um episódio vivido por mim na casa de Pedro Olímpio. Certo dia, enquanto sua esposa preparava seu almoço, Ele me fitou nos olhos e disse: “Everaldo, eu quero que você elabore um documento para que eu assine, doando meu corpo a um Centro de Pesquisa de uma Faculdade de Medicina para que o meu cadáver seja estudado por médicos e cientistas na busca de se descobrir as causas da minha doença e para outras pessoas não passem pelo que eu estou passando”. Mas, antes que eu respondesse ao seu pedido consciente e sincero, ouvi na cozinha a voz da sua esposa: “Não, Pedro! Você será sepultado em túmulo como toda pessoa. Na Bíblia está escrito que “Eis pó e ao pó voltarás”. Eu nada falei. Naquele dia, pensei comigo, Pedro está certo. Porém, depois de tudo que li e ouvi, hoje a Medicina não sabe por onde começar tal pesquisa. Agora eu entendo que Maria das Graças Barbosa sempre esteve com a razão… Como ficaria a sua mente e das suas filhas com o corpo do seu marido exposto à curiosidade de pessoas desconhecidas num Centro de Pesquisa, quando esta doença ainda é um mistério e continua incurável… Será que esse anseio de Pedro Olímpio resolveria o drama de tantos outros pacientes?… Pensemos nisso! Por hoje é só.