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Um líder falso

05/12/2015
Um líder falso

Este artigo publiquei na Gazeta de Alagoas, edição de 13 de março de 1981, e, portanto, disponho de cópia no meu arquivo particular. À época, vaticinei a trajetória política de Luís Inácio Lula da Silva, criador do PT ( Partido dos Trabalhadores). Trata-se do resgate da história política nacional que, no momento, vive crise  sem precedentes.

Mergulhamos numa fase em que têm aparecido vários homens com ares de líder. Aprendem a dizer que a greve é o único instrumento capaz de gerar divisas para as classes trabalhadoras deste país. Notadamente, vemos que a greve só traz prejuízos, tanto para o lado de quem está patrocinando, como também para o governo que, vezes muitas, é obrigado a tomar medidas drásticas visando manter a paz nos lares, nas escolas, nos campos e nas cidades.

Até o governo do general Geisel, não se falava em greve. Parecia até que era uma palavra proibida no dicionário revolucionário. O caminho foi árduo mas ninguém teve a coragem de dizer que iria fazer greve a fim de obter melhoria para determinada classe.

Veio o governo do Presidente Figueiredo. Com ele também chegou para o Brasil a crise do petróleo. Iniciou-se o processo inflacionário brasileiro, com cifras nunca vistas em toda a história econômica desta Nação. Nasceu também a ideia  da implantação da democracia plena nesta Terra de Santa Cruz. Dizia o Presidente Figueiredo: “ Hei de fazer desta Nação uma Democracia”. Aí, começou a sua abertura política, quando anistiou vários políticos que, hoje, jé têm uma vida normal em todo o quadrante brasileiro.

Com a porta aberta, apareceram os líderes dos metalúrgicos, das universidades, dos indígenas e tantos outros que tiveram coragem de lutar pelos interesses dos seus colegas de profissão, mesmo numa fase de abertura.

Começou a luta dos metalúrgicos do ABC. Apareceram os falsos líderes para comandar a guerra entre trabalhadores e empresários paulistas. Dentre eles, surgiu Luís Inácio da Silva, que,  dizia que lutava por melhores salários, melhor valorização profissional enfim, melhor  padrão de vida para os metalúrgicos de toda São Paulo. Porém, por traz dessa bandeira irreal, o metalúrgico Lula, misturava sindicalismo livre com política profissional. De um lado, vemos um órgão de classe lutando por melhores salários, do outro lado, uma face completamente diversificada. Não entendemos  por que o Lula misturou uma luta de classe com outra ala que tem a obrigação de lutar não só por uma classe trabalhadora e, sim, por todas as classes trabalhadoras. A política partidária  tem uma nova conotação bem diferente da política sindical. Ambas estão em caminhos diferentes. Não se concebe que um bom sindicalista seja um bom político. As razões são as mesmas apresentadas pelas próprias linhas de comando. Apenas, se confundem porque elas têm um significado social.

Não podemos olhar o Lula lutando por melhores salários com uma representação na Câmara  Alta. Ao nosso ver, foi o seu único erro que lhe trouxe a condenação de três anos e seis meses. De Líder passou a ser um falso líder. Não liderou dentro dos moldes de uma política exclusivamente sindicalista. Apenas se vestiu de líder para tumultuar os metalúrgicos do ABC, deixando margens para que o governo federal intervisse na sua administração.

Agora, tenta recorrer ao Superior Tribunal Militar para modificar a sua pena. Antevemos a sua derrota pelos simples fato de que a Nação, na realidade, necessita manter a sua soberania. Doravante Luís Inácio das Silva, o Lula, será um mero eleitor do Partido Trabalhista, do qual é presidente.

Passados trinta e quatro anos de publicado o artigo em epígrafe, nota-se que a Nação experimenta duas crises profundas. A política que envolve a presidente Dilma Rousseff  que, por sinal,  perdeu seu ex-lider senador Delcídio do Amaral (PT), preso por tentar interferir na operação Lava-Jato. Diga-se, de passagem, caso aceite à delação premiada o Palácio do Planalto será atingido  mortalmente.

Por outro lado, vê-se a crise econômica  que leva o País a patamares de desemprego ascen- dente, inflação de 10,5%, PIB assemelhando-se à Venezuela, e, o pior, ausência de crescimento econômica sem perspectivas desenvolvimentistas. Tudo isso, foi herança de Luís Inácio Lula da Silva que, durante oito anos de mandato, não viu nada acontecer de errado. Zé Dirceu, (preso), então Chefe do Gabinete Civil, criou o mensalão sob sua aquiescência. O Supremo Tribunal Federal (STF), por sua vez, deu um basta nesse mar de lama de corrupção que arrasta a ética e, principalmente, a transparência pública.