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Histórias da caserna

08/02/2015
Histórias da caserna

Fui militar durante 17 anos, entrei na Escola Preparatória de Cadetes aos 16 anos, me formei na Academia Militar das Agulhas Negras final de 1961, servi pelo Brasil afora, por contingências da vida deixei o Exército como Capitão em 1971, tenho muito orgulho em ser Oficial do Exército Brasileiro, hoje na reserva. Durante minha época militar ouvi e vivi muitas histórias, lendas, acontecimentos, depoimentos contados no livro, “Confissões de um Capitão”, gosto de histórias da caserna como as lembradas, em conversa, pelo amigo General Veloso, tenho prazer em contá-las, assevero veracidade.

BENZETACIL

Nos anos 70, Veloso era capitão ajudante de ordem de certo general da 7ª Região Militar no Recife. Embora casado o chefe gostava de sair discretamente com garota de programa, pagou acaba a obrigação, ele dizia, não pagava os serviços prestados, pagava o descompromisso, pois amava muito a mulher, entretanto, tinha esse pequeno vício. Certa manhã o General chamou o Capitão, contou confidencialmente: estava com uma dor no canal do pênis, havia telefonado para o médico, ele pediu uma amostra de urina para análise. O general entregou uma garrafa verde de guaraná cheia de xixi matinal, bem fechada, para entregar ao médico no Hospital Militar. Veloso recomendou a encomenda ao soldado Cícero, ordem de entregar imediatamente ao Major médico no Hospital Militar.
Dia seguinte, no final do expediente, o general confessou ao Capitão, o resultado do exame deu gonorréia, ele estava admirado, há mais de um mês não saía com alguma das suas amigas, o médico esclareceu, era gonorréia encubada só agora se manifestou, passou quatro dolorosíssima Benzetacil, uma por dia. O General determinou ao Capitão sigilo de Segurança Nacional, a compra do remédio feita pessoalmente por Veloso, as injeções aconteceram na própria farmácia, a tropa jamais poderia saber da gonorréia do General.
No quarto dia o general antes do início de expediente, tomou a última Benzetacil, não aguentou sentar, a bunda dolorida, retornou para casa, disse a mulher que estava indisposto, deitou-se de lado ouvindo rádio.
Nesse mesmo dia o soldado Cícero apresentou uma licença médica, dois dias para tratamento de gonorréia. Veloso estranhou, muita gonorréia no Quartel General. Chamou Cícero em seu gabinete, apertou o soldado como sabia fazê-lo, finalmente ele confessou. Ao levar a urina do General, teve um desequilíbrio na bicicleta, a garrafa caiu, espatifou-se no chão. Com medo, Cícero comprou um guaraná, tomou o líquido delicioso, limpou, fez xixi na garrafa, entregou no Hospital como se fosse o mijo do General. Nessa altura o capitão Veloso preferiu guardar segredo. O General morreu ano passado, 91 anos, sem desconfiar que certa vez, tomou quatro Benzetacil sem precisão.

O ABSTÊMIO

Quando Veloso servia como tenente na 9ª Companhia de Fronteira em Roraima foi marcada uma visita de inspeção do General Comandante da Amazônia. O tenente preparou os soldados para as perguntas durante a inspeção. Quais as 10 deveres de um soldado quando incorpora no Exército? O soldado tinha que responder: 1º- Obediência aos superiores; 2º – Vestir a farda com dignidade e limpeza; 3º- Cortar o cabelo toda semana, 4º – Prestar serviços à comunidade, assim por diante, até o 10º.
Como o General era conhecido como severo crítico à bebida, dirigente da liga antialcoólica, na véspera da inspeção, o tenente Veloso reuniu a tropa, para puxar o saco inventou e recomendou aos soldados, quando perguntado, além de citar os 10 deveres do militar, citassem também o 11º: “Todo soldado deve se abster de álcool”.
O general desembarcou no avião, tropa formada, recebido com honras militares, dirigiu-se ao quartel, muito rigoroso fez a inspeção com seu Estado Maior anotando as deficiências, entretanto, o quartel estava nos melhores padrões de limpeza, o alojamento dos soldados brilhando, tudo dentro do gabarito, o general parco em elogios, deu parabéns ao Tenente Veloso. Para aquilatar a instrução da tropa, reuniu os soldados no pátio, demonstração de ordem unida, ao sopro de apito de um sargento, a tropa, o “pelotão elétrico”, apresentou 15 minutos de ordem unida ininterrupta com armas sem interferência, o general ficou mais que satisfeito. Finalmente os soldados foram reunidos, apertados, numa sala de aulas, o General olhou a tropa mandou sentar à vontade, apontou para o Soldado Perna, um índio macuxi, perguntando os deveres do soldado. Perna na posição de sentido citou os 10 deveres em voz bem alta, e completou sorrindo mostrando sapiência para o General: “Ainda tem o onze: Todo soldado ao incorporar no Exército de ve se abastecer de álcool.”
Precisou o Tenente Veloso explicar bem explicado ao General para não ser punido.