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Climério Sarmento

05/11/2014
Climério Sarmento

    Vivia-se a década de trinta. O usineiro Climério Sarmento convida o guarda-livros Pedro Marinho Suruagy para ser o chefe do escritório da Usina Conceição do Peixe. Em alguns meses, graças a sua grande capacidade de trabalho e a uma personalidade marcante, assumiria a gerência. A amizade entre os dois homens se solidificaria nas adversidades que enfrentaram juntos. Problemas de toda natureza foram superados.  A  usina consolida-se.
Nasci nesta época. Março de 1937. Madrinha Zefinha Sarmento  levara mamãe para a Casa Grande logo que ela começou a sentir as primeiras dores do parto. Cheguei ao mundo, às onze horas, no dia cinco. Mas, somente dez anos depois é que conheceria o encanto da vida do campo. Cuidados com a saúde levaram papai a morar  em  Maceió. Com apenas alguns meses de  idade,  não tive noção da mudança. Formei uma idéia do que era a Usina Peixe através do encanto que Madrinha Cândido, ou Dinha, como eu e meus irmãos a chamávamos, emprestava às estórias que nos contava quando vinha passar alguns dias em nossa casa. Ao lado da narrativa de contos de fadas, da vida de reis e rainhas, aprendi que a Usina, geograficamente falando, ficava no distrito de Flexeiras, pertencente ao município de São Luiz do Quitunde. O primeiro encontro com a Usina Peixe foi à noite. Viajara oito horas em cima de um caminhão. Foi a minha primeira grande aventura. Uma viagem inesquecível.
Hospedado na Casa Grande, alvo das atenções bondosas de Débora Sarmento, preferia, no entanto, a residência humilde de Madrinha Cândido, atraído pelo dom maravilhoso, que ela possuía, de contar estórias, enriquecidas por sua fértil imaginação. Devo-lhe a minha paixão pela ficção.
Sentia-me importante e estimado por ser filho de Pedro Suruagy e de Dona Luizinha. Papai havia adquirido uma imagem de valente, justo e trabalhador. E mamãe a de ser “a bondade em pessoa”.
Climério Sarmento era um cavalheiro, no vestir e no proceder. Alto, magro, atencioso e distante, elegante, gostava de ternos de linho irlandês branco. Foi sempre, para o afilhado, a imagem física do milionário. Lendo as biografias dos magnatas internacionais, sempre os configurei como o velho Climério. Faleceu com noventa e dois anos de honradez e dignidade. Josefa Sarmento, ou Dona Zefinha, era uma mulher que aliava doçura com força de vontade. Adorada pelos filhos, enteados, genros, noras e netos, foi uma espécie de mãe para os moradores da Usina. Tomava-os sob sua proteção feminina e defendia-os do egoísmo capitalista. Ela, verdadeiramente, me fascinou. Essas matriarcas foram as responsáveis maiores pela amenização dos conflitos sociais na região canavieira alagoana.
Madrinha Helena era a jovem princesa de meus livros de contos de fadas. Porém, a impressão mais forte, da família Sarmento, é a de Juca. A fama de homem valente e de grande conquistador de mulheres, acrescida do fato de ser piloto de avião e de pagar as minhas entradas do circo mambembe, fizeram dele um de meus heróis.
Governador de Alagoas, tive oportunidade de homenagear Padrinho Climério, concedendo seu nome à rodovia asfaltada entre São Luis e Flexeiras e a um conjunto residencial, construído em Maceió. Mas, em verdade, ele está imortalizado pelo fato de haver sido um dos construtores de nosso progresso.