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Fábrica de beneficiamento de frutas orgânicas é inaugurada em Santana do Mundaú

27/09/2014
Fábrica de beneficiamento de frutas orgânicas é inaugurada em Santana do Mundaú

  frutadesidratada  Nessa quinta-feira (24), foi inaugurada a Unidade de Beneficiamento de Frutas Orgânicas, que vai atender a demanda produzida pelos produtores rurais da Associação Agroecológica de Santana do Mundaú (Ecoduvale).
A mini-indústria, implantada no Sítio Amoras, é a primeira unidade no Brasil a processar frutas orgânicas desidratadas. O novo empreendimento pode chegar a produzir uma tonelada de doces cristalizados e frutas desidratadas por mês.
A finalidade da nova fábrica é agregar valor à produção de frutas cultivadas no Vale do Mundaú, especialmente a laranja e a banana. Os produtores da Ecoduvale já iniciaram a produção experimental de frutas desidratadas, que deve atender às exigências de um mercado consumidor específico para esse tipo de alimento. Já a produção em escala comercial só deve ser iniciada no próximo ano.
De acordo com Valdelane Tenório, gestora do Arranjo Produtivo Local (APL) Fruticultura no Vale do Mundaú pela Secretaria de Estado do Planejamento e do Desenvolvimento Econômico (Seplande), a implantação da unidade de beneficiamento representa uma mudança na vida social e econômica dos produtores de frutas da região.
“O entusiasmo dos produtores é muito grande, pois eles estavam culturalmente acostumados a produzir somente a laranja in natura, cuja produção não gerava lucros significativos. Com a possibilidade de produção de frutas cristalizadas, vamos atender a um segmento de mercado diferenciado e lucrativo. O valor do quilo da fruta processada, comparado ao quilo da fruta in natura, pode aumentar em até dez vezes”, explicou a gestora.
A fábrica de beneficiamento vai permitir, também, a inclusão das mulheres na cadeia produtiva da fruticultura no Vale do Mundaú. “Elas estavam habituadas a cuidarem da casa, enquanto os homens trabalhavam no campo. Agora, são as mulheres que desenvolvem a maioria das etapas durante o processo industrial das frutas e doces. Isso representa aumento da renda familiar e permanência das famílias no campo”, finalizou Valdelane Tenório.
Cristina Loureiro, analista da Unidade de Agronegócios e gestora do APL Fruticultura pelo Sebrae em Alagoas, afirmou que esse momento é resultado de um longo trabalho que vem sendo desenvolvido desde 2003 com a agricultura familiar da região.
“Os produtores trabalhavam de forma individualizada, sem a perspectiva de outras possibilidades para esse segmento de mercado. O Sebrae passou a orientá-los sobre a gestão da atividade; possibilitou a abertura de novos mercados, promovendo rodadas de negócios; incentivou a compra governamental por meio do Comércio Brasil; e contribuiu na organização dos trabalhadores através do associativismo”, informou a analista.
Somente após todo esse processo foi possível a participação da Associação em editais para APL de baixa renda, garantindo os recursos para a compra de equipamentos e maquinários para a Unidade de Beneficiamento de Frutas Cristalizadas do Vale do Mundaú.

Recursos

Os recursos na ordem de R$ 60 mil reais foram adquiridos por meio da Agência de Fomento de Alagoas – Desenvolve.  O analista de projetos da agência, Mário Amaral, informou que o edital foi direcionado a mini-indústrias que apresentassem projetos inovadores, contribuindo para alavancar o desenvolvimento socioeconômico da região.
“Participaram do edital cerca de 40 pequenas indústrias, e a empresa da Ecoduvale ficou entre as 10 selecionadas pela Desenvolve. O trabalho realizado pelos produtores do Vale do Mundaú é muito organizado, tenho certeza de que esse é o primeiro de muitos projetos que serão desenvolvidos para estimular o crescimento dessa nova atividade”, afirmou Mário.
O secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, José Marinho Júnior, informou que o governo fez a doação de um caminhão para o transporte da produção de frutas, além dos serviços de assistência técnica para a melhoria no manejo do cultivo da laranja, possibilitando maior produtividade.
“A Ecoduvale é um referencial para outras comunidades. O trabalho desenvolvido pelos produtores de frutas vai fortalecer a cultura do associativismo e cooperativismo no Vale do Mundaú. Não tenho dúvidas do sucesso dessa unidade de beneficiamento”, enfatizou o secretário.

Certificação Orgânica

O presidente da Associação Agroecológica do Vale do Mundaú (Ecoduvale), Inácio Francisco, disse que 20 produtores já receberam a certificação de produção de orgânicos. Ele informou, também, que muitos produtores ainda insistem no cultivo tradicional por não conhecerem as inúmeras vantagens que a produção orgânica oferece. Segundo o presidente, uma delas é a redução dos gastos com a adubação.
“No cultivo convencional, o produtor gasta muito com a adubação química e o pagamento de diárias para limpar a roça. Já no cultivo orgânico, o custo é praticamente zerado, porque produzimos “remédios” naturais para combater pragas e doenças. Outro ganho é a forma de produção consorciada com culturas diferentes da laranja, como a batata e a banana, permitindo uma safra diversificada”, destacou Inácio.
Além disso, a comercialização dos produtos orgânicos rende ao produtor um aumento de preço superior a 30% em relação àquele das frutas cultivadas de forma tradicional.

Capacitação

A capacitação para beneficiamento das frutas, que pretende transformá-las em um produto desidratado, só foi possível pelo trabalho do consultor Leonardo Chiappetta, que reside em São Paulo (SP), mas esteve em Santana do Mundaú para a inauguração da fábrica.
Ele informou que, em uma das capacitações que foi realizar no Piauí (PI), representantes do Sebrae em Alagoas  estavam presentes para trocar experiências, e informaram sobre a grande produção de laranja na região do Vale alagoano, mas que havia a necessidade da diversificação dos produtos.
Dono de um empório que comercializa frutas secas, engenheiro, especializado na desidratação de frutas, Leonardo Chiappetta ficou sensibilizado pela situação das famílias do Vale do Mundaú, atingidas pelas enchentes, e esteve voluntariamente em Alagoas no ano de 2010 para realizar o primeiro curso sobre as técnicas de desidratação de frutas.
Durante os últimos três anos, Chiappetta orientou a distância alguns produtores do município, que enviavam amostras das frutas pelos Correios. Nesse contato, o consultor fazia as alterações necessárias para que a fruta desidratada produzida em território alagoano atendesse às exigências de um mercado tão competitivo. Este ano, o consultor esteve em Santana do Mundaú somente para finalizar as etapas da consultoria.
“A produção de frutas desidratadas e doces cristalizados reduz em mais de 70% o desperdício da fruta in natura. O reaproveitamento da casca, do bagaço e de outras partes da fruta que são desperdiçados é transformado em renda para as famílias. A região do Vale do Mundaú produz uma banana que tem um sabor muito diferenciado das frutas comercializadas no Sudeste do país, o que agrega valor ao produto deste estado”, afirmou Chiappetta.

APL Fruticultura no Vale do Mundaú

Em 2008, foi criado, em Alagoas, o Arranjo Produtivo Local (APL) Laranja no Vale do Mundaú, mas somente em 2012 outras frutas foram introduzidas no programa, o que o transformou, então, no APL Fruticultura no Vale do Mundaú.  Atualmente, os municípios de Santana do Mundaú, Murici, Branquinha, União dos Palmares, São José da Laje e Ibateguara estão inseridos no arranjo produtivo da região.
A área de produção é superior a cinco mil hectares, e envolve mais de 1.050 produtores de frutas. O APL Fruticultura no Vale do Mundaú é um estímulo ao desenvolvimento de grupos produtivos, visando ao aumento da renda e à melhoria da qualidade de vida de centenas de pequenos agricultores.
Além do cultivo da laranja lima tradicional e da banana, os produtores também produzem suco congelado, doces cristalizados da casca da laranja, doces naturais de banana e laranja, além de banana desidratada e do artesanato com a fibra da bananeira.