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O Romance
A chuva forte, contínua, desaguava no telhado, corria dentro da calha de zinco e jorrava na extremidade em forma de cascata. O alvoroço das crianças tomando banho na bica improvisada quebrava a monotonia daquele entardecer. Um relâmpago iluminou o céu e o mar, avistaram-se pequenos barcos e jangadas balançando ao mar revolto, pescadores retornavam mais cedo da faina diária. O trovão assustou a meninada.
Marquinhos pensou nos caranguejos, durante trovoadas eles saem do buraco, as cinco armadilhas fabricadas por ele em lata de azeite deviam estar desengatilhadas, manhã bem cedo iria apanhá-las. Pensava no baita goiamum capturado dentro da lata. No início da tarde ele havia colocado armadilhas em tocas de goiamum no sítio de Dona Sinhá, nos arredores do Riacho Salgadinho.
Raios, trovões, continuavam mais forte. Da varanda, onde os meninos saltitavam molhados, conseguiam perceber o horizonte da imensidão do mar apenas durante o rápido clarão do relâmpago. Em frente à casa, um moderno bangalô na Avenida da Paz, estacionou um carro, Ford 46, preto, dirigido pelo Doutor Bernardo. De capa e guarda-chuva ele correu, abrigou-se na varanda, os três filhos em roupa de banho, molhados, deram-lhe abraços. Feliz por estar em casa, recomendou à esposa: “Isabel mande esses moleques se enxugarem e trocarem a roupa, vai continuar chovendo, tenho medo de uma cheia igual ao ano passado, mês de maio é mês de muita chuva”.
O pedido à Isabel era ordem aos filhos. Os três correram para os quartos, tomaram banho, vestiram pijama, voltaram à sala, hora de jantar. O pai se balançava numa cadeira de palhinha, copo de conhaque Napoleón na mão, ouvia o noticiário da Rádio Difusora de Alagoas (ZY – O4). O locutor alardeava estragos da chuva caída inesperadamente em toda região. O médico e sua bela senhora estavam preocupados naquele maio de 1949.
Doutor Bernardo, cirurgião, querido, respeitado, gostava de exercer a cidadania, de contribuir com trabalho à comunidade. Além da medicina, dedicava-se a outros afazeres, jogador e juiz de futebol, diretor de clube, provedor de Casa de Saúde, de Orfanato. Parte de seu tempo ajudava aos mais carentes, entretanto, não abria mão do lazer, leitura, cinema, teatro, futebol, praia, cerveja e uísque, amava o carteado dominical com amigos, jogo de pôquer, baratinho.
Fabiano 11 anos, Marco Antônio 10 anos e Andrezza 8 anos, seus filhos, seus tesouros, como apresentava aos amigos. Bernardo Peixoto Lins, nascido de família de fazendeiros, descendente do Presidente Floriano Peixoto, foi educado nos melhores colégios, escolheu a carreira de medicina. Seu pai encheu-se de orgulho durante a formatura do filho em Salvador. No retorno a Maceió montou um moderno consultório no centro da cidade, Rua do Comércio, para onde afluiu uma excelente clientela. Alegre figura humana, trabalhador, eficiente cirurgião, fazia clínica geral pela escassez de médicos na época.
Bernardo fez nome e história, quando solteiro foi dado à boemia nos cabarés de Jaraguá, as mulheres se encantavam com sua gentileza, excelência na conversa, culto, chegado às artes, adorava os grandes romances da humanidade, possuía uma biblioteca particular recheada, tinha preferência especial pela cultura popular, pesquisador, apaixonado pelo rico folclore nordestino, cantava música de folguedos, guerreiro ou pastoril…
(Trecho inicial de meu novo romance, o enredo, a história de uma família, três irmãos, suas vivências passadas na política das Alagoas e pedaços do Brasil, revelações, muito sexo e bom humor, em 3 volumes. Parte I, de 1949 (Grande cheia de Maceió) a 1968 (Decretação do AI-5) será lançado em 2015 (quase pronto). Parte II, de 1969 a 1991 será lançado em 2016. Parte III, de 1991 a 2014 será lançado em 2017. Ficção combinada com acontecimentos reais, história viva, os personagens serão identificados, aguardem, dois terços dos 3 volumes estão escritos, alinhavados. Vai dar o que falar.)
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