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A Gula

03/08/2014
A Gula

    Zacarias depois da morte da esposa sentiu necessidade de distração noturna, aliviar a dor. Numa noite de brisa foi assistir a um show de jazz no Bar do Rex. Não mais que de repente sentaram-se na mesa vizinha três jovens na faixa de 25 a 30 anos. Uma loura bem vestida, saia vermelha, outra loura de mini-saia, pernas bonitas e a terceira, uma simpática, risonha e bonita gordinha, vestido de renda longo, generoso decote mostrando a exuberância dos seios.
Zacarias se encantou com a beleza angelical da rechonchuda. Nariz perfilado, boca pequena, lábios carnudos, pele branca, cabelos pretos.
O viúvo viu a uva, nova, calculou ter o dobro de sua  idade. Depois de dois uísques ele conversava com as vizinhas. Eram pernambucanas, passaram três dias em Maceió trabalhando, voltavam no domingo, para o Recife. Carol, a gordinha, embarcava para Lisboa na segunda-feira, fazer um curso de teatro, seis meses.
Zacarias estava embevecido com a conversa descontraída das jovens.  Sentiu no sorriso de Carol forte sinal de paquera. Diferença de idade não era empecilho.
Depois do show, Zacarias levou as jovens na Casa dos Buguenvilles. Tocava suave música, convidou Carol para dançar. No salão se abraçaram, ele sentiu o colar do corpo da gordinha ao seu. Mudos, se acarinhavam deslizando ao som de “Blue Moon”. De repente uniram as bocas num beijo contínuo.
Zacarias levou as pernambucanas ao hotel e Carol ao seu apartamento.
No espelho do elevador se olharam abraçados, um belo e simpático casal de gordinhos. Ao entrarem, se beijaram, se abraçaram, Carol foi ao banho. O chuveiro jorrava água morna, Zacarias entrou, ensaboaram-se, enxugaram-se, deitaram na cama, a alcova do viúvo.
Num momento de movimento frenético ouviu-se um estalo forte, a cama quebrou-se, o colchão arriou, peso dos gordinhos. Deram uma gargalhada.
Num momento de descanso, olhavam o teto, Carol confessou.
– “Meu amor quando faço amor, me vem  uma compulsão enorme, dá-me uma fome de anteontem.”
Vestiram-se, desceram, encararam uma macarronada num restaurante italiano. Carol traçou a primeira rapidinho, pediu outra, Zacarias achou a maior graça, veio a terceira e quarta macarronada, inacreditável. Levaram mais duas macarronadas numa caixa para o apartamento.
Dormiram como dois anjos de Botero. Ao acordar pelas 9 horas da manhã, Zacarias deixou sua amada entregue ao sono, levantou-se, escovou os dentes, barbeou-se, tomou banho, vestiu cueca limpa. Foi à geladeira beliscar alguma coisa, quando percebeu, não havia macarronada, saiu-lhe uma gargalhada espontânea tão alta que acordou Carol. Rolaram sorrindo na cama caída.
Resolveram partir para o Recife, dormindo em Maragogi. Hospedaram-se no Hotel Salinas. À noite se divertiram no salão de dança, encheram a cara de uísque. De pilequinho dormiram sem fazer amor.
Pela manhã, Zacarias acordou-se com um roçar do nariz da Carol,  cheirava seu namorado. Beijou-a nos lábios com carinho, lambeu-a. Carol estava voraz. Fizeram amor até mais tarde, a cama não despencou.
Arrumaram-se para partir. Era domingo, véspera de viajar para Europa.
Beleza o café da manhã, comida nordestina, frutas e sucos. O Salinas tem o melhor serviço de café da manhã do país. Zacarias em certo momento saiu para pagar a conta na recepção. Deixou a amada sozinha deliciando seu café da manhã.
Meia hora depois retornou, percebeu um garçom espantado com aquela hóspede, não parava de comer, esvaziando pratos e enchendo-os novamente. Ao ver Zacarias saiu uma gargalhada cúmplice. Cochichou em seu ouvido: “Não pude resistir, você é o culpado dessa fome, meu amor.”
No Recife, Zacarias deixou-a numa mansão, gordinha rica, família tradicional.
À noite, como combinado, Carol apareceu na pousada. Viraram a noite com muito amor, cerveja e pizza. O viúvo estava encantado com a jovem alegre e feliz.
O avião decolou, Carol pediu o primeiro lanche, nas sete horas de vôo comeu dezenove lanches, além do almoço, tomou champanhe na primeira classe pensando no gentil coroa sexy, até pousar no aeroporto de Lisboa.
Zacarias não esquece a bela gordinha e o delicioso pecado da gula. Marcou passagem, no próximo mês, uma semana em Portugal comendo pastel de Belém, baba de camelo e a gordinha gulosa.