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Brasil Alfabetizado muda a vida de trabalhadores da zona rural

26/05/2014
Brasil Alfabetizado muda a vida de trabalhadores da zona rural

    123A Escola Isolada Chã do Brejo, pertencente à Prefeitura de Anadia e localizada no povoado que leva seu nome, estava fechada desde o final do ano passado. Foi reaberta por meio de parceria firmada com a Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (SEE) de Alagoas, para abrigar as aulas de alfabetização do Programa Brasil Alfabetizado (PBA).
De lá para cá, a escolinha nunca mais deixou de funcionar. Todos os dias, de segunda a sexta-feira, sempre pela manhã, a professora Valdirene Silva recebe os alunos da alfabetização. São donas de casas, pequenos agricultores e trabalhadores rurais que não tiveram tempo de estudar ou abandonaram os estudos ainda nas séries iniciais. Todos com algo em comum: tomaram a decisão de aprender a ler e a escrever.
O Programa Brasil Alfabetizado está crescendo em Alagoas. Para se ter uma ideia, na 6º etapa, em 2012, cerca de três mil alunos foram encaminhados para turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Já na 7ª etapa, que será concluída no próximo mês de junho, foram inscritos 10 mil alunos, dos quais, seis mil serão encaminhados para concluir os estudos.

Orgulho

“Minha maior alegria é ver um aluno meu assinando o nome, lendo ou escrevendo um bilhete”, afirmou a professora Valdirene. Ela se emocionou ao contar a história da aluna que fez questão de assinar o nome, depois de algumas semanas de aula, quando foi fazer um crediário numa loja em Maribondo. “Até então, ela só assinava com o dedão, na base da impressão digital”, destacou.
Sentada nas cadeiras da frente na sala, dona Maria de Fátima Silva Pereira, 53 anos, ouvia com atenção e uma pitada de admiração as palavras da professora em relação a ela. Com um sorriso nos lábios, confirmou toda a história e deu mais alguns detalhes.
“O rapaz da loja ainda perguntou se eu não queria melar o dedo para assinar o crediário. Eu disse que não. Disse que eu sabia assinar meu nome. Foi quando ele me passou a caneta e eu escrevi meu nome no papel”, afirmou Maria de Fátima, que vem sendo alfabetizada junto com o filho de 39 anos, Daniel Ferreira da Silva, desde novembro de 2013.
“Quando a gente não sabe ler, não pode nem entregar um bilhete. Vai que nesse bilhete está escrito uma ordem para nos matar. A gente morre sem saber”, disse Daniel, com uma dose de bom humor. “Depois das aulas aqui na escola, ninguém me engana. Mesmo que eu não compreenda a palavra, vou perguntar quem entenda, mas só entrego o bilhete sabendo do que se trata”, acrescentou.

    Desafios

Para a professora Alessandra Ferreira dos Santos, que coordena oito turmas e alfabetização em Anadia, os alfabetizandos são muito esforçados, mas muitas vezes enfrentam um grave obstáculo para dar continuidade aos estudos: a sazonalidade da cultura canavieira, a principal empregadora de mão-de-obra da região.
“Muitos alunos deixam a alfabetização na entressafra, porque vão trabalhar na lavoura de cana no interior de São Paulo”, afirmou a educadora. “A turma de alfabetização da Chã do Brejo começou com doze alunos, mas agora só tem nove, porque três viajaram para trabalhar na região de Ribeirão Preto, no Estado de São Paulo”, lamentou.

Projeto estruturante

De acordo com a gestora local do PBA em Alagoas, Adeilma Claudino Fonseca, a alfabetização de jovens, adultos e idosos integra a lista de projetos estruturantes do Programa ‘Alagoas Tem Pressa’, cujo objetivo é promover iniciativas para o desenvolvimento socioeconômico do Estado.
“Os alunos das escolas aqui de Anadia começaram a ser alfabetizados em novembro de 2013, a exemplo de outras turmas espalhadas por escolas de outros municípios. Esperamos que até meados deste ano, todos eles estejam sabendo ler e escrever”, destacou a educadora.
A visita à Escola Isolada Chã do Brejo contou com a presença do diretor de Articulação Institucional da Superintendência de Gestão do Sistema Estadual de Educação, Edvaldo Brandão. Segundo ele, de 2013 para cá, houve uma grande procura da população pelo programa, superando as expectativas da Secretaria Estadual de Educação.
“O desafio agora é garantir não só a alfabetização dos participantes do PBA, mas também assegurar que eles continuem seus estudos nas escolas da rede pública estadual, frequentando as aulas do EJA, a Educação de Jovens e Adultos”, finalizou.