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O ex-celibatário
-“Não se case com Clarinha, você vai ser o maior corno do Maranhão!” Martelavam nos ouvidos de Nonato, pacato professor, ex padre, depois dele anunciar o casamento final do ano, se chateava com essa advertência. Sabia, a noiva foi boêmia, entretanto, estava mudada e lhe amava, tinha certeza.
Clarinha, morena, lábios carnudos, 25 aninhos, espirava sensualidade por todos os poros, libido constante, furor uterino de dar inveja a personagem do premiadíssimo filme, Ninfomaníaca. A jovem nunca escondeu de gostar e se dedicar aos homens. Numa festa de batizado, comemorando o xixi de sua pequena sobrinha, conheceu o pacato padre Nonato, 43 anos, celibatário por profissão e convicção.
Clarinha entusiasmou-se com figura casta do padre, fascinou-lhe a beleza máscula, quase feia, queixo quadrado, olhar duro, feliz, sorridente. Puxou conversa alegre, divertida, foi correspondida na empatia. Passou a assistir todo domingo a missa do padre Nonato numa capela do bairro. Depois da missa encontravam-se em conversas agradáveis, inconsequentes. Quem podia com o feitiço e encantamento de Clarinha? Na primeira oportunidade estavam aos beijos, até que chegou a hora da onça beber água, uma noitada no motel deixou o padre Nonato transtornado, sua abstinência sexual desde a juventude fez aflorar o homem pecador, transbordando de sensualidade. Não conhecia as variações e possibilidades em torno do tema, Clarinha ensinou tudo. Dentro de quatro meses, Nonato pediu licença devida à Igreja, pediu Clarinha em casamento. Desligou-se dos fuxicos, o casamento foi celebrado no dia de Nossa Senhora da Conceição.
O casal viveu tranquilo, Nonato dedicou-se ao magistério, cultura fecunda adquirida no tempo religioso, não faltou escola para ensinar. Os primeiros anos foram de sexo e felicidade. O tempo é cruel, foi passando, tornando a vida tediosa, Clarinha começou a sentir saudades de sua vida solta na boemia, fez força para ficar em casa sossegada, foi difícil se conter. Não havia completado dois anos de casados, ela deu uma fugidinha com um jovem, cada vez mais constantes, foi relaxando, Nonato descobriu. Decepcionado, expulsou Clarinha de casa, chorona, ela implorou perdão, ele inflexível.
Nonato entrou em depressão, vendeu a casa, deu a parte devida à ex mulher, pediu licença nos colégios, não se despediu de um amigo sequer. Viajou dois dias de carro a Maceió, onde morou com uma irmã. Procurou, encontrou emprego, refez sua vida, pegou apelido de Maranhão entre os novos amigos. Continuou com a fé inabalável , sem perder missa dominical. Certa noite aconteceu uma festa na casa da irmã, boas conversas, gente madura, conheceu Janice, bonita quarentona, desquitada, competente enfermeira, e sua jovem filha. Os dois se deram bem, começaram a sair, certa vez a irmã confessou, a festa foi proposital, para se conhecerem, deu certo. Um ano de encontros, marcaram compromisso. Nonato pela segunda vez casou-se, na Igreja de Bebedouro, tendo o emérito Dr. Ronald Mendonça como padrinho.
Ao conhecer Alice, filha de Janice, 22 anos, um sentimento estranho de medo e atração envolveu Nonato. Os lábios da moça, pele morena, sorriso debochado, lembrava Clarinha. Evitava olhar, conversar, com a futura enteada. Na véspera do casamento ela perguntou-lhe com malícia e ironia.
-” Por que me evita? Você não gosta de mim? Sou uma mulher adulta, não sou criança. Lembre-se, você vai ser meu pai.” Gargalhou…
Depois do casamento, ele sempre equidistante de Alice. Numa noite de calor, ao retornar para casa, Janice de plantão no Hospital, Nonato encontrou a enteada sentada à mesa, ventilador ligado, estudando, vestia apenas calcinha e blusa transparente. O sangue ferveu-lhe nas veias, entrou rapidamente no quarto. Logo notou a porta se abrir, era Alice esplendorosa, sem blusa, olhou-o nos olhos, sorriu, estendeu-lhe os braços.
Hoje o ex-celibatário é praticamente bígamo, Janice faz não saber, Nonato enche Alice de presentes, deu-lhe até um carro. Nas horas íntimas chama a enteada de Clarinha.
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