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Guedes de Miranda

26/02/2014
Guedes de Miranda

A rua do comércio era o grande ponto de encontro de Maceió. Os bares-restaurantes mais famosos da cidade e as maiores livrarias ali estavam localizados. O cinearte e o grande salão de bilhar imperavam. Papai costumava, no fim da tarde, freqüentar o bar Continental, com um grupo de amigos. Discutia-se tudo. Política, negócios, futebol, cinema, vida alheia, eram analisados, ao sabor das emoções e dos temperamentos. Costumava procurá-lo, juntamente com Divanni, na esperança de que nos pagasse sorvete ou comprasse revistas em quadrinhos.
Saindo da matinê do Cinearte, visualizo papai conversando com o Professor Guedes de Miranda, considerado a maior expressão intelectual de Alagoas. Político militante impressionava pelo fulgor de sua personalidade. Cabeleira esvoaçante, pleno de eloqüência, suas aulas, na Faculdade de Direito, impreterivelmente terminam em aplausos dos alunos, fascinados pelo brilho das palavras, cheias de conteúdo e força. Boêmio, grande conquistador de mulheres, admirado pelos homens, lírico, apaixonado pela velha Grécia, possuía cultura aristótelica, embora Platão, com sua república utópica, seja o modelo a ser seguido. Deputado Estadual, jornalista, advogado, Secretário do Interior, Procurador Geral do Estado e fundador da Academia Alagoana de Letras. Interventor Federal, realizou um grande programa de obras, marcando a sua passagem entre os bons administradores do Estado.
Presidiu as eleições, de janeiro de 1946, caracterizando a redemocratização de Alagoas, quando foi eleito Governador o Ministro do Tribunal de Contas, Silvestre Péricles, e, para o Senado Federal, o General Goes Monteiro.
Alto, robusto, cabelos brancos, transmitia uma imagem de força e autoconfiança. Deixei-me cativar por sua personalidade dominadora. Fui seu eleitor quando disputou uma cadeira no Senado da República.
Assisti sua posse, como Vice-Governador, em 1950, na Assembléia Legislativa, no Governo Arnon de Mello. Embora tenha exercido importantes cargos políticos, no cenário alagoano, sempre o considerei mais o Mestre do que o militante da política.