Geral

Agatângelo Vasconcelos

03/06/2012

A desmistificação de rótulos e tabus tem ajudado, em muito, a compreensão do homem integral que, em sua composição psiquico-somático, agrega os mistérios dos genes que o formaram, às influências recebidas do meio ambiente, da educação e, sobretudo, dos dons naturais que possui, independentemente da profissão exercida.

Até há alguns anos, com exceção dos repentistas e autores de cordel, guardiões da cultura popular, nem sempre subordinada ao grau de instrução, imaginava-se que os pendores literários estariam vinculados ao estudo das ciências humanas e sociais, como direito, filosofia e línguas, enquanto as exatas e da saúde lhes seriam quase antagônicos.
Nos últimos tempos, muitos médicos, engenheiros, matemáticos e economistas, têm despontado, com fulgor, no cenário intelectual, demonstrando que sensibilidade e talento se podem perfeitamente coadunar com o exercício de qualquer atividade humana. A nível nacional, a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores tem revelado inúmeras vocações. Em Alagoas, destacam-se vários cultores das letras, com livros publicados e merecido assento entre os luminares de nossa cultura.
Agatângelo Vasconcelos, nascido em ambiente rural, às margens do Rio São Miguel, no município do mesmo nome, recebeu da família que, segundo ele “ é sempre uma poderosa força agregadora do indivíduo e do tecido social” , as primeiras e principais influências que o transformariam no cidadão que é. Médico, especializado em psiquiatria, desfruta merecido respeito entre colegas e clientes pela forma ética como conduz a sua vida desde à época em que, universitário, participou da política estudantil, chegando a presidir a União dos Estudantes Universitários, durante um período bastante complexo da vida nacional, fazendo-o com tal lisura e isenção que, segundo Luiz Nogueira Barros, seu contemporâneo no curso médico, “lhe permitiram transpor as barreiras ideológicas sem precisar dar saltos, enganar aos outros ou fazer truques, colocando a amizade acima da pobreza das ideologias” .
Como professor universitário ou na presidência da Sociedade Alagoana de Medicina, sempre mereceu o respeito de alunos e parceiros. Assíduo cronista dos jornais da província, é autor de O Asilo de Santa Leopoldina e Fraticídio em Carahybas, com temas psiquiátricos e da coletânea de poemas Sagrado Coração Exposto, onde desnuda sua sensibilidade diante dos dramas da existência. Seu último livro, publicado no início do novo milênio, é biográfico. Segundo o autor é uma tentativa de perpetuar nas lembranças, não deixando que se apaguem, as marcas da passagem entre nós, a trajetória de outro talentoso miguelense. Roberto Lopes – Cores do Tempo e do Espaço é um trabalho completo, de pesquisa e crítica que, por si só, justificaria a presença de Agatângelo, como sócio, no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, para, novamente, encher de saudável orgulho a memória de seus pais, Odilon e Iracema Vasconcelos, em cujo exemplo e carinho ele diz haver bebido o néctar primeiro da sabedoria, do caráter e do talento.