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Especialista alerta para cuidados com vítimas de queimaduras

07/05/2012

        Resfriar a área atingida com água corrente por um período de 5 a 10 minutos é a medida mais importante a ser adotada logo após um acidente com queimadura. A recomendação é do cirurgião plástico do Hospital Geral do Estado (HGE), Thyago Carvalho, que alertou sobre o perigo de agravamento da lesão quando há o uso de gelo, água gelada, manteiga, café em pó, creme dental, plantas ou outras substâncias.

 

Após o resfriamento do local queimado, a vítima deve ser encaminhada para uma unidade de urgência e emergência mais próxima. “Somente nos casos de queimadura por produtos químicos em pó, o mesmo deve ser removido com escova macia ou retirado seu excesso preso às roupas, antes da lavagem com água. Em seguida, protege-se a área queimada com pano limpo para evitar exposição da lesão e hipotermia (queda da temperatura corporal)”, explicou.

 

As crianças ainda são as principais vítimas de queimaduras, que geralmente ocorrem em acidentes domésticos com líquidos quentes como água, café, leite e óleo. A maioria dos acidentes acontece na cozinha, na presença de um adulto, pela falta de cuidado e atenção.

 

Segundo Thyago Carvalho, medidas simples como virar os cabos das panelas para dentro do fogão e evitar a manipulação de café, leite quente ou qualquer alimento em cozimento, com a criança no colo ou na cozinha, são capazes de evitar tais queimaduras.

 

“As crianças maiores passam a serem vítimas de queimadura por chama direta, através da manipulação de álcool, gasolina ou querosene. Cabe aos pais e responsáveis evitar a presença destes produtos em casa ou mantê-los trancados em locais de difícil acesso, além de instruir seus filhos sobre a extrema gravidade de manipular produtos inflamáveis”, orientou.

Mas os adultos também podem ser vítimas de queimaduras evitáveis como o ocorrido com a dona Maria Cícera dos Santos, de 38 anos, internada no hospital Geral há 17 dias. A paciente teve 20% do corpo queimado e está em tratamento de queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus no rosto, costas e braço esquerdo.

 

Natural da cidade de Murici, dona Cícera foi vítima de seu descuido em casa ao esquecer a válvula de gás aberta quando preparava o leite do seu filho de dois anos. Também errou ao ter na cozinha vários itens inflamáveis que em conjunto com o fogo da chama aceleraram e agravaram as queimaduras na pele.

 

“Foi muito rápido, acendi o fósforo e só vi o fogo. Na hora não senti dor alguma. Minha família me levou logo para o hospital da cidade, lá passaram apenas uma pomada. No outro dia comecei a sentir dor e muitas bolhas surgiram, resolvi estourá-las com um espinho de laranjeira e ir ao posto local. Lá os médicos me informaram sobre a gravidade do caso e me encaminharam para o HGE. Só aqui no hospital refleti sobre meus erros. Hoje estou me recuperando de uma infecção e já passei por dois debridamentos”, contou.

 

Referência – Em Alagoas, o Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Geral é referência para a assistência das vítimas de queimaduras, atendendo em média a 45 pacientes por mês, destes, aproximadamente, 20 são pacientes internados e 25 realizam procedimentos ambulatoriais, como curativos específicos para vítimas de queimaduras. A maioria dos pacientes permanece internada por cerca de 20 dias, mas há casos em que a hospitalização pode prolongar-se por meses.

 

“Esses pacientes recebem cuidados diários da equipe multidisciplinar quanto à dieta específica com acréscimo do número de calorias e proteínas, aumento da oferta de líquidos via oral ou por infusão salina, banhos sob anestesia para remoção de secreções e aplicação de pomadas antibióticas e cicatrizantes (curativos especiais), administração de analgésicos potentes e antibióticos para prevenção e tratamento de infecções”, elencou o cirurgião plástico.

 

As cirurgias de queimados envolvem procedimentos de alta complexidade como transplantes de tecidos, pele e retalhos com fragmentos de tecidos que são transferidos de uma região para outra. Também são realizados curativos com debridamento – procedimento cirúrgico para remoção do tecido desvitalizado presente na ferida com o objetivo de promover a limpeza da área – e enxertos.

 

“Em queimaduras mais superficiais, os cuidados com o curativo são suficientes para adequada cicatrização da lesão. Porém, quando a queimadura é profunda e atinge gordura, músculos e ossos haverá a necessidade de restaurar essas áreas através de coberturas de músculo e/ou pele, cirurgias denominadas de enxerto e retalho”, explicou.

 

A maior parte dos pacientes evolui com boa cicatrização e é liberada do ambulatório ainda no primeiro mês de atendimento. Outros pacientes podem ter alteração na cicatrização, formando queloides, que serão tratados através do uso de roupas especiais para queimados durante um a dois anos.

 

“Outras cicatrizes podem provocar retrações, alteração no crescimento das crianças ou impedir o adequado movimento de joelho, cotovelo e ombro, havendo a necessidade de novas cirurgias. Nestes casos, quando o paciente possui sequelas crônicas das queimaduras, haverá seguimento ambulatorial por tempo prolongado, até que todas as deformidades sejam tratadas eficientemente”, afirmou Thyago Carvalho.

 

Gravidade – As queimaduras são classificadas conforme a profundidade que atingem a pele e podem ser de primeiro, segundo ou terceiro graus. A de primeiro grau é a mais simples porque abrange uma camada superficial da pele, provocando aspecto avermelhado. A pele fica dolorida, mas não há a formação de bolhas.

 

As bolhas aparecem na queimadura de segundo grau, que são as mais dolorosas. Já as de terceiro grau têm menos dor devido à destruição das terminações nervosas, mas são as mais profundas e graves. As queimaduras de face, genitália, mão, olhos, ouvido e aparelho respiratório são tratadas em hospital ou centro especializado.