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Plataformas de entretenimento adulto no Brasil adotam transparência inédita em proteção de menores
Quando empresas de um segmento historicamente avesso à exposição pública decidem apresentar protocolos técnicos, revelar ferramentas de controlo e debater obrigações legais perante audiências externas, evidencia-se que uma mudança profunda está em curso na indústria do entretenimento para adultos.
O setor adulto brasileiro experimenta uma reconfiguração notável. Ao invés de limitar o discurso a métricas comerciais, expansão de mercado e táticas de captação de utilizadores, as operadoras começam a colocar no centro das prioridades temas como blindagem contra acesso de crianças, nitidez normativa e resguardo informático. É neste contexto que emerge o ABIPEA CONNECT 2025, primeiro encontro nacional voltado à responsabilidade digital no mercado adulto, agendado para 5 de dezembro na capital paulista.
Organizado pela Associação Brasileira das Indústrias e Profissionais do Entretenimento Adulto (ABIPEA), o congresso reúne organizações, especialistas em direito tecnológico, segurança informática, proteção de dados, psicologia clínica e educação sexual para examinar de que modo ajustar o funcionamento das operadoras às recentes exigências jurídicas e às demandas da sociedade. Ao invés de abordagens abstratas, a iniciativa privilegia experiências concretas, mecanismos operacionais e instrumentos já ativos – ou cuja implementação se revela inadiável.
Estatuto modernizado e imperativo de reorganização interna
Entre os assuntos prioritários do encontro sobressai a Lei do ECA Digital (n.º 15.211/2025), que atualiza o Estatuto da Criança e do Adolescente para o universo conectado e estabelece responsabilidades precisas para redes sociais, portais de conteúdo e serviços digitais. A norma ganhou tração após a publicação de um vídeo do youtuber Felca, que expôs a comercialização e visibilidade inadequada de adolescentes em ambientes supostamente restritos a maiores. A sinalização do poder público é cristalina: quem lucra com o tráfego digital também deve assegurar a salvaguarda dos mais frágeis.
Para o mercado de acompanhantes e serviços adultos, tradicionalmente atuando em zonas de regulamentação nebulosa ou com reduzida atenção estatal, o ABIPEA CONNECT configura-se como arena estratégica de adaptação. Ao invés de meramente aguardar penalizações e inspeções, o setor articula-se para perceber de que maneira pode cumprir as recentes disposições, resguardar a confidencialidade dos utilizadores maiores e, paralelamente, anular qualquer hipótese de exploração de crianças.
Skokka Brasil e adoção de ferramentas de blindagem sofisticadas
Entre os presentes destaca-se o Skokka, portal internacional de classificados do segmento adulto com mais de dez anos de atuação no território nacional e atividade em aproximadamente trinta países. Ao abraçar o patrocínio do congresso, a companhia instala-se no núcleo do debate acerca de condutas responsáveis, revelando iniciativas implementadas nos anos recentes para consolidar a proteção digital e a adequação jurídica.
Um dos pilares desta abordagem é a incorporação da tecnologia Thorn Safer, ferramenta criada pela organização sem fins lucrativos Thorn, especializada no enfrentamento à exploração sexual infantil. O mecanismo emprega inteligência artificial e repositórios globais de arquivos previamente identificados para detetar e interditar, de forma automatizada, materiais que possam envolver abuso ou exposição de crianças. A tecnologia, porém, representa somente uma fração do arsenal: articula-se com procedimentos de confirmação etária, exame documental, avaliação fotográfica e rotinas permanentes de fiscalização interna.
Esta articulação assinala uma reorientação conceptual. Ao invés de encarar a proteção como obrigação burocrática, o Skokka passa a situar a defesa de vulneráveis e a integridade do ecossistema como elementos fundamentais do próprio desenho operacional. Isto materializa-se em diretrizes internas mais rigorosas, capacitação específica para as brigadas e estabelecimento de canais de contacto acessíveis para quem identifica irregularidades ou possui dúvidas sobre o funcionamento do portal.
Excelência relacional e disposição ao escrutínio externo
O encontro da ABIPEA também incorpora outra vertente de compromisso: a excelência na interação com o utilizador. Os dados do Reclame Aqui ilustram este movimento. Em 2025, o Skokka obteve classificação média de 9,2, garantiu resposta a todas as contestações registadas na plataforma e atingiu índice de resolução superior a 90%, performance que assegurou o Selo RA 1000 e a indicação ao Prêmio Reclame Aqui na categoria Conteúdo Adulto. Num segmento onde numerosas empresas preferem a invisibilidade, expor resultados num espaço público de avaliação configura um gesto significativo de abertura.
Outro aspeto notável é a escolha de parceiros institucionais. Para além de entidades técnicas e organizações de classe, ganham protagonismo instituições que atuam diretamente no terreno, lidando quotidianamente com situações de violência, vulnerabilidade e desigualdade no acesso à informação. Esta aproximação contribui para deslocar o debate do plano estritamente jurídico e tecnológico, trazendo para a discussão testemunhos de quem constata, no dia a dia, as consequências da ausência de proteção online e de canais seguros para solicitar apoio.
Dos compromissos declarados às ações permanentes
Ao articular regulamentação, tecnologia, atendimento e impacto social, o ABIPEA CONNECT 2025 propõe um trajeto para o mercado adulto brasileiro: abandonar a condição de tema apenas envolto em tabu e assumir-se como uma indústria que movimenta recursos, postos de trabalho e atenção pública – portanto, compelida a operar com critérios definidos de segurança, conformidade e respeito. O objetivo não passa por "higienizar" o erotismo, mas por garantir que este permaneça entre adultos, em ambiente fiscalizado, com normas conhecidas e mecanismos eficazes de prevenção de danos.
A conferência deve marcar, desta forma, um momento simbólico de viragem. Não elimina todos os desafios nem anula riscos, mas evidencia que o setor começa a comunicar na mesma linguagem de órgãos reguladores, entidades de defesa de direitos e organizações da sociedade civil. O desafio seguinte será transformar as discussões do evento em compromissos permanentes no quotidiano das plataformas – desde o código-fonte até às caixas de entrada das equipas de suporte.
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