Em um pregão marcado por liquidez reduzida, os juros futuros intermediários e longos recuaram na tarde desta terça-feira, 23, após o cancelamento da entrevista do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sinalizar menor volatilidade no cenário político. Operadores também destacaram o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) de dezembro, que ficou abaixo do teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no acumulado de 12 meses — embora, no início do dia, o foco estivesse em aspectos qualitativos menos favoráveis.

Como pano de fundo, um leilão de US$ 70 bilhões em T-notes de 5 anos, com demanda abaixo da média, reduziu os ganhos dos Treasuries, levando o rendimento do T-Bond de 30 anos a recuar. Além disso, a queda do dólar trouxe alívio à curva a termo, apesar da estabilidade nos vértices mais curtos.

No encerramento dos negócios, na antevéspera de Natal, a taxa do DI para janeiro de 2027 fechou em 13,84%, ante 13,839% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,295%, contra 13,354%, e o vencimento para janeiro de 2031 encerrou em 13,575%, ante 13,650% no ajuste anterior.

A melhora dos ativos domésticos coincidiu com o cancelamento da entrevista de Bolsonaro ao portal Metrópoles, decisão tomada de última hora. A defesa do ex-presidente solicitou ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que Bolsonaro seja internado nesta quarta-feira, 24, para realizar uma cirurgia de hérnia inguinal bilateral durante o feriado de Natal.

"Cancelou a entrevista para fazer cirurgia, então acho que não teve muito peso na precificação dos DIs, mas, claro, numa possível entrevista, o mercado financeiro gostaria de ouvir da boca de Bolsonaro quem ele está apoiando, o que aumentaria o trading eleitoral", avalia Marcos Praça, diretor de análise da Zero Markets Brasil.

Para Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno, a volatilidade recente da curva de juros reflete o anúncio da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente. "Se há dois candidatos polarizados, com agendas diametralmente opostas, a economia será impactada conforme o resultado das eleições. Há preocupação fiscal, pois governos de esquerda tendem a adotar políticas mais frouxas, enquanto governos de direita são mais restritivos, com foco em austeridade e enxugamento da máquina pública", explica.

Segundo Praça, o destaque do dia foi o IPCA-15 finalmente dentro da banda de tolerância da meta do Banco Central. "É atípico para o Brasil, uma conquista para o BC."

Houve ainda mínima nos contratos perto do fim do pregão, logo após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciar que janeiro terá bandeira tarifária verde, retomando um patamar não visto há oito meses. O economista Homero Guizzo, da Terra Investimentos, destaca que a bandeira verde em janeiro já era esperada e tem impacto de -11 pontos-base no IPCA.