Vida Esportiva
Copa do Mundo 2026: entidade de torcedores diz que anúncio de ingressos mais baratos são 'mera tática para acalmar ânimos' após reação ao preço oficial
Football Supporters Europe (FSE) afirma que recuo parcial da Fifa não resolve problema dos preços e diz que promessa de Copa mais inclusiva foi esvaziada
A decisão da Fifa de anunciar uma categoria de ingressos mais baratos para a Copa do Mundo de 2026 foi recebida com ceticismo por entidades de torcedores. Para a Football Supporters Europe (FSE), que representa associações de fãs em todo o continente europeu, a medida não passa de uma resposta pontual à forte reação negativa provocada pelos valores inicialmente divulgados.
Copa do Mundo 2026:
'Segui meu coração':
“Por enquanto, consideramos o anúncio da Fifa como uma mera tática para acalmar os ânimos diante da reação negativa em nível mundial”, afirmou a entidade, ao comentar a promessa de ingressos a 60 dólares (cerca de R$ 330, na cotação atual), inclusive para a final, na categoria mais baixa, reservados a torcedores oficiais vinculados às federações nacionais.
Na avaliação da FSE, o recuo parcial expõe falhas no modelo de precificação adotado pela Fifa e não resolve o problema estrutural de acesso ao torneio, que será disputado entre 11 de junho e 19 de julho de 2026 no Canadá, no México e nos Estados Unidos.
A crítica ocorre após a divulgação, em 11 de dezembro, dos preços destinados a grupos oficiais de torcedores que pretendem acompanhar suas seleções durante o Mundial. Os valores geraram frustração e colocaram em xeque a promessa da entidade máxima do futebol de realizar a competição “mais inclusiva” da história, como destacou o presidente da Fifa, Gianni Infantino, em setembro.
— O sentimento geral é de decepção — declarou à AFP Guillaume Auprêtre, porta-voz dos Irrésistibles Français (IF), principal grupo de torcedores da seleção da França, com cerca de 2,5 mil integrantes.
Segundo o IF, um torcedor terá de pagar entre 190 e 600 euros por um jogo da fase de grupos, entre 580 e 1,2 mil euros por uma partida das quartas de final e entre 3,6 mil e 7,4 mil euros para assistir à final.
— Percebemos imediatamente que isso colocava em risco o sonho de muitos torcedores — afirmou Auprêtre.
Para o cientista político argentino Christian Crivelli, de 34 anos, que esteve nos Mundiais do Brasil (2014), da Rússia (2018) e do Catar (2022) e pretende viajar à América do Norte em 2026, a estratégia da Fifa foi aproximar os valores oficiais daqueles historicamente praticados no mercado de revenda.
Segundo ele, a entidade tentou “levar os preços históricos de revenda (de ingressos para as Copas do Mundo) para os preços oficiais”.
— Ela tentou dizer: ‘bom, aqui tem muita gente que comprava um ingresso por 60 (dólares) porque tinha sorte e depois revendia por 500 (dólares); vamos nós vender por 500 (dólares)’ — e o choque é esse — disse.
Crivelli administra um dos grupos de WhatsApp da La Banda Argentina, comunidade de torcedores argentinos que se organiza pelas redes sociais para acompanhar a Copa do Mundo de 2026. Para ele, a equiparação é evidente.
— Se você olhar para o que foi a revenda histórica do Catar ou da Rússia, mais ou menos os preços se igualam ao que a Fifa está vendendo agora — afirmou.
A reação aos preços elevados extrapolou o universo dos torcedores organizados. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, também se manifestou e considerou insuficiente a criação de uma categoria mais barata.
“Celebro o anúncio da Fifa sobre a disponibilidade de ingressos mais baratos para os torcedores”, escreveu Starmer na rede social X.
“Mas, como alguém que costumava economizar para comprar ingressos para os jogos da Inglaterra, incentivo a Fifa a fazer mais para que os ingressos sejam mais acessíveis e para que a Copa do Mundo não perca o contato com os verdadeiros torcedores que tornam este esporte tão especial”, acrescentou.
Entre fãs sul-americanos, o impacto financeiro é apontado como fator de desestímulo. O administrador público colombiano César Charry afirma que os preços “estão nas alturas” e inviabilizam o planejamento.
— Caso vá, as economias não são suficientes; basicamente seria preciso recorrer a um empréstimo. Eu teria que pensar bem, porque é muito complexo — disse.
Outro colombiano, Daniel Ballén, afirmou que os valores elevados fizeram com que sua família abrisse mão de gastos do dia a dia para manter o plano de acompanhar o torneio. Segundo ele, a decisão se sustenta porque “a paixão” está “acima” dos custos.
O debate levou até mesmo integrantes do meio esportivo a se posicionarem. Dias atrás, o técnico da seleção da Escócia, Steve Clarke, fez um apelo para que “as pessoas não se endividem para ir à Copa do Mundo”.
Mais lidas
-
1CRISE INTERNACIONAL
UE congela ativos russos e ameaça estabilidade financeira global, alerta analista
-
2DEFESA NACIONAL
'Etapa mais crítica e estratégica': Marinha avança na construção do 1º submarino nuclear do Brasil
-
3ECONOMIA GLOBAL
Temor dos EUA: moeda do BRICS deverá ter diferencial frente ao dólar
-
4REALITY SHOW
'Ilhados com a Sogra 3': Fernanda Souza detalha novidades e desafios da nova temporada
-
5DIREITOS DOS APOSENTADOS
Avança proposta para evitar superendividamento de aposentados