Vida e Saúde

A ciência do amor: como o cérebro constrói os ‘caminhos da paixão’

Pesquisas buscam explicar o que parece inexplicável: os motivos e mecanismos do amor

Agência O Globo - 16/12/2025
A ciência do amor: como o cérebro constrói os ‘caminhos da paixão’
Imagem ilustrativa gerada por inteligência artificial - Foto: Nano Banana (Google Imagen)

“Eu possa me dizer do amor (que tive)/Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure”. Assim termina um dos mais célebres poemas de Vinícius de Moraes, o Soneto da Fidelidade. Pode-se dizer que Vinicius era um estudioso do amor e que, talvez, esses versos inspirados nos célebres de Camões sejam, de certa forma, uma boa definição do sentimento.

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No entanto, a poesia não é reconhecida pelo rigor metodológico da ciência. E, assim como o Poetinha, diversos pesquisadores têm buscado compreender e explicar as razões do amor.

O 'estresse' de se apaixonar

Casados há 50 anos, os professores de Harvard Richard Schwartz e Jacqueline Olds são exemplos de quem tenta entender como nos relacionamos — talvez na busca de compreender o segredo de tantos anos juntos.

“Evidências de amor romântico foram encontradas em basicamente todas as culturas”, afirma Schwartz em entrevista à Harvard Medical School: “Apaixonar-se é um processo turbulento e estressante, com aumento dos níveis de cortisol”. Fernando Gomes, professor livre-docente da USP, acrescenta: “Estudos com neuroimagem mostram que o amor romântico ativa intensamente o sistema de recompensa, especialmente a via mesolímbica dopaminérgica, associada à motivação, energia e busca. A fase inicial, do flerte ao encantamento, é uma tormenta organizada de estímulos cerebrais”.

Os vínculos em desenvolvimento

Com o tempo, os níveis do chamado “hormônio do estresse” (cortisol) tendem a voltar ao normal, mas as atividades das vias dopaminérgicas permanecem elevadas, explica Schwartz. Além disso, segundo Gomes, o cérebro apaixonado apresenta redução na atividade do córtex pré-frontal, área relacionada ao pensamento crítico: “Isso ajuda a entender por que, na paixão, tendemos a enxergar mais os aspectos positivos do outro do que o conjunto completo da relação”.

Em seguida, os neurônios passam a se comunicar por meio dos neurotransmissores do apego, como a ocitocina e a vasopressina, que se tornam cada vez mais dominantes, fortalecendo a conexão “profunda, segura e confiante”. Vale ressaltar que esses neurotransmissores não atuam apenas em relações românticas, mas também nos laços de amizade e familiares.

Coração partido dói mais que joelho ralado

Como canta Kell Smith em “Era uma vez”: “Por que um joelho ralado/ Dói bem menos que um coração partido”. Mais uma vez, a ciência confirma a poesia: uma desilusão amorosa pode causar danos reais ao corpo humano. A síndrome do coração partido, por exemplo, descrita pelo cardiologista Ilan Wittstein, provoca um inchaço temporário do ventrículo esquerdo do coração.

No estudo do cientista, publicado em 2005 pela Universidade Johns Hopkins, alguns pacientes analisados apresentaram resultados semelhantes aos de pessoas que sofreram infartos ou outras lesões musculares cardíacas.

Outro estudo, publicado na revista PNAS em 2011, demonstrou que a dor de perder uma pessoa amada — ou um amor — é registrada no cérebro nas mesmas áreas responsáveis pela dor física: um coração partido realmente dói.