Variedades
Romance de estreia de Rafael Caneca expõe brutalidade dos campos de concentração do Ceará nos anos 1930
Publicada pela editora Mondru, a obra Não volte sem ele marca a estreia na narrativa longa do escritor e servidor público Rafael Caneca, que utiliza a ficção histórica para revisitar um dos episódios mais brutais e silenciados da história brasileira: os campos de concentração criados pelo governo do Ceará durante a grande seca de 1932.
Com paratextos assinados pelos escritores Grecianny Cordeiro e Ronaldo Correia de Brito, o romance explora temas como memória, violência de Estado, esperança, fé e tragédias sociais, destacando-se pela linguagem precisa e pelos personagens densamente construídos.
Uma ficção que revive um capítulo apagado da história
A narrativa se passa em um período em que o governo cearense instituiu “campos de concentração”, então chamados de currais do governo, para impedir que sertanejos assolados pela seca migrassem para Fortaleza.
“Foram estruturas criadas para conter e segregar os mais pobres, sob uma violência estatal explícita, para evitar que os sertanejos pobres se deslocassem para Fortaleza e ‘sujassem’ a capital”, explica o autor. “Ainda assim, muitos sertanejos mantinham a esperança, amparados na sua fé e religiosidade”, contextualiza o escritor.
Nesse cenário, Caneca recupera um passado que, segundo ele, “merece ser lembrado para que jamais se repita”.
Tomás e o encontro com a esperança em meio ao horror
O romance acompanha Tomás, jovem enviado pelo pai à capital em busca do
irmão Antônio. Sua travessia, marcada pela fome, pela seca e pela luta pela sobrevivência, reflete a saga de milhares de nordestinos da época.
Para Ronaldo Correia de Brito, o impacto do livro revela “a força e a permanência do Romance de 30 na nova geração de escritores”, à qual Caneca pertence. Já Grecianny Cordeiro afirma que “o sertão pulsa em cada página, assim como a coragem de um povo forjado na fé e na esperança”.
Da coletânea ao romance: o nascimento de Não volte sem ele
O livro surgiu dentro do Coletivo Delirantes, um coletivo de escritores do qual também fazem parte Stênio Gardel, Marília Lovatel e outros nomes. Ao retornar ao grupo, que organizava uma coletânea sobre fatos marcantes da história do Ceará ligados às antigas estações ferroviárias, Rafael escolheu o tema “A estiagem de 1932 e os campos de concentração / estação de Senador Pompeu”.
O autor escreveu, então, o conto “Patu”, mas percebeu que a história pedia mais fôlego. Assim, ao longo de dois anos de pesquisa e escrita, transformou o texto em romance. “Conhecer profundamente esse episódio me modificou. Reforçou sentimentos de repulsa por acontecimentos que não podem, de forma alguma, se repetir”, relata.
Sobre o autor
Rafael Caneca, 40 anos, é servidor público e assessor jurídico do Ministério
Público do Estado do Ceará. Graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialista em Direito Internacional, escreve desde a infância e mantém, há mais de dez anos, o perfil literário Pacote de Textos, dedicado ao incentivo à leitura.
Integra o coletivo de escritores Delirantes e possui trajetória reconhecida: conquistou o 1º lugar no Prêmio de Literatura BNB Clube 2017 com o conto “Tapera”, recebeu menções honrosas do Ideal Clube (2012 e 2014) e foi homenageado na Semana do Ministério Público de 2023, ao lado de autores como José de Alencar, Rachel de Queiroz e Moreira Campos.
Suas influências literárias incluem Machado de Assis, Graciliano Ramos e José Saramago. Na música, inspira-se em Iron Maiden, Dream Theater, Angra e Titãs. Atualmente, trabalha em dois novos projetos: um romance baseado na queda do Edifício Andrea (2019), em Fortaleza, e um livro de contos que narram tragédias ambientadas em cenários paradisíacos. Seu estilo, segundo ele, é direto, com ironia sutil e crítica social constante.
Ficha Técnica
Título: Não volte sem ele
Autor: Rafael Caneca
Gênero: Romance / Ficção
Editora: Mondru
Adquira o livro pelo site da editora Mondru: https://mondru.com/produto/nao...
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