RJ em Foco
Conheça a história de cidadãos comuns que viram Papai Noel no Natal e espalham esperança pelo Rio
Visita do Bom Velhinho a hospitais, asilos, creches e escolas melhora o astral de quem recebe e de quem doa os presentes
O servidor público e morador do Méier Aristóteles de Queiroz, de 62 anos, já é figurinha carimbada em hospitais municipais e asilos da capital fluminense nesta época do ano. Há 26 anos, ele encarna a figura do Papai Noel e, de forma voluntária, leva presentes, abraços e uma palavra de conforto para quem enfrenta a difícil rotina nas unidades de saúde. Quando começou, não usava o tradicional traje vermelho e branco. Promovia as campanhas de arrecadação de brinquedos e ia entregá-los às crianças internadas. Depois, achou que a fantasia tornaria o momento mais lúdico e incorporou de vez o Bom Velhinho.
Conheça os trabalhadores que vão cear dentro das árvores de Natal do Rio:
Verão 2026:
— Percebo que a visita do Papai Noel faz muito bem ao humor dos pacientes, e isso é fantástico. As crianças ficam alucinadas. Elas interagem e começam a brincar. Sabe quando você fica várias horas sem tomar banho e, quando entra debaixo do chuveiro, seu corpo revigora? A chegada do Papai Noel parece causar esse impacto. Muitas mães que estão tristes usam esse momento para desabafar — descreve Aristóteles, que é coordenador de infraestrutura e logística da Subsecretaria de Gestão. — A intenção é ajudar o próximo, mas acabo ajudando a mim mesmo também, me tornando uma pessoa melhor a cada experiência. Passei a enxergar valor nas coisas simples da vida.
Os brinquedos são arrecadados pelas instituições visitadas. A magia do momento é que fica por conta de Aristóteles. Uma de suas idas mais recentes foi ao Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, na manhã do dia 19, acompanhada pelo GLOBO. O personagem é tratado como uma verdadeira celebridade na unidade. Em seu trajeto, causada alvoroço até mesmo entre os funcionários, que o abordam na intenção de garantir uma foto.
Coluna do Leo Aversa:
Ao chegar ao 7º andar, no setor pediátrico, sua presença causa surpresa e desperta sorrisos nos pacientes e em seus responsáveis.
— Muito bonito o presente. Estou me sentindo muito feliz — disse o pequeno Derick Dias Alves, de 5 anos, que se recupera de um traumatismo craniano após cair de uma laje.
Em outro leito, Jucielda Rodrigues Leite, 48 anos, chorou ao receber um abraço do Bom Velhinho. Ela é mãe da paciente Ana Alice Rodrigues, de 12, internada depois de sofrer uma queda lavando o chão de casa.
— É muito tenso ver minha filha deitada na cama de um hospital. Nunca passei por isso. Mas tive um sentimento muito bom, de felicidade, ao ver o Papai Noel e acabei me emocionando — contou Jucielda.
Nem os pacientes mais adolescentes ficaram de fora da festa. É o caso de Diogo Michel, 16 anos, que ganhou um boné e uma bolsa tiracolo preta.
— Eu já sou muito velho para receber visita do Papai Noel, mas foi maneiro — descreveu Michel, que foi parar no hospital após escorregar de uma árvore tentando colher manga.
A agenda foi aberta no dia 1º, no Hospital do Andaraí, há um ano sob gestão da Prefeitura do Rio. O roteiro incluiu ainda hospitais como Ronaldo Gazolla, em Acari; Salgado Filho, no Méier; e Miguel Couto, na Gávea; além da creche e lar de idosos Casa da Mãe Pobre, em Jacarepaguá.
— O hospital não pode ser um lugar só de tristeza e de doença. Ele também é um local de recuperação e de promoção da saúde e da alegria. E o Papai Noel traz, tanto para os pacientes quanto para a equipe, a esperança de que o amanhã vai ser melhor. A felicidade promove bem-estar físico e emocional e colabora para a recuperação do paciente — diz a enfermeira Paula Travassos, diretora-geral do Souza Aguiar.
Quem também doa seu tempo como Papai Noel é o guarda municipal Marlon César Corrêa de Lima, comandante da 8ª Inspetoria (Tijuca). Tudo começou por acaso, quando, no ano 2000, ele se colocou à disposição para substituir um Bom Velhinho que faltou num evento escolar na Ilha de Paquetá, onde atuava à época. Desde então, elege uma instituição, entre escolas, creches e hospitais, geralmente perto de seu trabalho, para receber suas ações natalinas em dezembro. A escolhida deste ano foi a Escola Municipal Rotary Club, unidade para pessoas com deficiência na Ilha do Governador, onde distribuiu presentes no dia 11.
— Foi uma aventura que incendiou meu coração de amor, e a chama nunca mais se apagou. Não levamos a cura, mas alegria e esperança. E eu recebo muito mais do que posso doar. É um carinho incalculável das crianças agraciadas, um sorriso puro. Eu até me emociono ao falar — relata César, com a voz embargada. — Sinto um frio na barriga todo ano porque nunca sei o que me espera. Cada criança reage de uma forma diferente. Então, fico nervoso e ansioso. Para mim, cada evento é como se fosse uma final de campeonato.
César se prepara com um mês de antecedência e chega ao local de viatura. Desembarca com o saco de presentes e vai ao encontro das crianças. O momento marca o encerramento das festas de fim de ano das instituições visitadas. Ele tem uma equipe de pelo menos 15 pessoas por trás: uma maquiadora, uma mamãe noel que o acompanha nos eventos, um fotógrafo e colegas da Guarda Municipal que o auxiliam na arrecadação de presentes quando necessário.
— Um dos momentos mais marcantes ao longo desses anos foi quando sobrou presente num evento e distribuí na rua, em 2017. Saí do Miguel Couto, desembarquei de uma viatura na Voluntários da Pátria, em Botafogo, e entreguei nos pontos de ônibus e a moradores em situação de rua. Peguei todo mundo de surpresa. Ninguém esperava. Umas crianças gritaram "Papai Noel!", outras pediram abraço. Até um motorista pediu um presente para o filho dele — lembra o guarda.
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