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Anônimos e famosos como Fernanda Montenegro e Pedro Scooby apoiam ações que garantem um Natal mais solidário no Rio

O premiado chef francês Didier Labbé comanda a cozinha da Ong Corrente do Bem, que há 15 anos serve refeições e entrega donativos a pessoas em situação de rua na cidade

Agência O Globo - 25/12/2025
Anônimos e famosos como Fernanda Montenegro e Pedro Scooby apoiam ações que garantem um Natal mais solidário no Rio
Imagem ilustrativa gerada por inteligência artificial - Foto: Nano Banana (Google Imagen)

A cozinha está a todo vapor, com mais de dez voluntários em atividade. Ovos cozinham numa panela, e o molho do macarrão é preparado em outra. Para animar, uma ajudante pede música. Então, canções da MPB, como “Canta, canta, minha gente”, de Martinho da Vila, embala o trabalho, que tem no comando o premiado chef francês Didier Labbé. A mobilização faz parte de uma das ações da Ong Corrente pelo Bem, que há 15 anos serve refeições e entrega donativos a pessoas em situação de rua no Rio. E é uma das incontáveis iniciativas solidárias que se multiplicam na cidade de janeiro a janeiro e que, nesta época, de Natal, se intensificam e ganham significado ainda mais especial.

O trabalho não para:

Natal acolhedor:

Nesse Rio que se reúne em prol de quem precisa às vezes de comida, às vezes só de um sorriso, há famosos e anônimos. A Corrente pelo Bem tem padrinhos como a atriz Giovanna Antonelli e o surfista Pedro Scooby e, desde meados deste ano, ganhou o reforço do chef Didier. Já no Retiro dos Artistas, onde os mais de 50 residentes fazem uma vaquinha on-line para a compra de presentes como uma máquina de costura e uma vitrola, o almoço de hoje, com bacalhau, chester e peru, é custeado pela atriz Fernanda Montenegro. Enquanto que em hospitais e asilos cariocas, ao longo de todo o mês de dezembro, são cidadãos comuns, como um guarda municipal e um coordenador de logística, que encarnam o Papai Noel para visitar crianças e idosos.

— Estamos em 2025 e, infelizmente, ainda há pessoas desesperadas por comida. Entregar uma refeição para elas e ver a felicidade no olhar não tem preço — afirma Didier. — Assim como no restaurante, a melhor coisa é quando a pessoa quer repetir. Você sabe que conquistou pelo paladar.

Sob sua batuta na cozinha, além do macarrão com ovo, este ano já foram distribuídos em locais como a Central do Brasil pratos como o cassulê (feijoada francesa) e o minestrone (sopa italiana). Na noite do último dia 15, a Ong promoveu o “Churrasco pelo Bem”, numa celebração de Natal nos Arcos da Lapa, com ceia para 600 crianças e adultos. Tudo é feito com doações, essenciais não só para a matar a fome.

— Na rua, muitos querem desabafar e precisam de uma palavra de carinho. Nosso trabalho vai além de entregar a comida e ir embora. Paramos, ouvimos histórias, entendemos suas necessidades — diz Rodrigo Freire, idealizador e presidente da Ong.

É uma troca que há 26 anos motiva o servidor público Aristóteles de Queiroz, de 62 anos. Vestido de Papai Noel, o voluntário leva presentes e abraços a hospitais municipais e asilos. Quando começou, não usava o traje vermelho e branco. Depois, achou que a fantasia tornaria o momento mais lúdico e incorporou de vez o Bom Velhinho.

— A visita do Papai Noel faz muito bem ao humor dos pacientes. Isso é fantástico. As crianças ficam alucinadas, interagem e brincam. E muitas mães que estão tristes usam esse momento para desabafar — descreve Aristóteles, que é coordenador de infraestrutura e logística da Subsecretaria municipal de Gestão. — Passei a enxergar valor nas coisas simples da vida — arremata.

Neste dezembro, ele já passou por hospitais como o do Andaraí e o Miguel Couto. Na visita da última sexta-feira ao Souza Aguiar, no Centro, ele foi tratado como uma celebridade. Ao chegar ao setor pediátrico, sua presença transformou ânimos de crianças como Derick Dias Alves, de 5 anos, e Ana Alice Rodrigues, de 12, ambos internados.

— Muito bonito o presente. Estou me sentindo feliz — dizia o pequeno Derick, que se recupera de um traumatismo craniano após cair de uma laje.

Rio segue em Calor 2:

Diretora-geral da unidade, a enfermeira Paula Travassos comemora:

— O hospital não pode ser um lugar só de tristeza e doença. E o Papai Noel traz a esperança, a felicidade colabora para a recuperação do paciente.

O Guarda Municipal Marlon César Corrêa de Lima conhece bem esse efeito. Em 2000, ele se colocou à disposição para substituir um Bom Velhinho faltante num evento escolar em Paquetá. Desde então, elege uma instituição, entre escolas, creches e hospitais, para ações natalinas em dezembro.

— Foi uma aventura que incendiou meu coração de amor, e a chama nunca mais se apagou. Não levamos a cura, mas alegria e esperança. E eu recebo muito mais do que posso doar.