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Para além do tradicional samba de sábado do Armazém, Rua do Senado guarda tesouros artísticos e culturais

Eleita a mais 'cool' do mundo, rua vive momento de efervescência de música a antiquários

Agência O Globo - 21/12/2025
Para além do tradicional samba de sábado do Armazém, Rua do Senado guarda tesouros artísticos e culturais
Imagem ilustrativa gerada por inteligência artificial - Foto: Nano Banana (Google Imagen)

O samba de sábado é uma tradição, e, claro, contribuiu para a eleição da Rua do Senado, no Centro, como a mais cool do planeta segundo a revista Time Out. O fato é que a vizinhança do antigo Armazém Senado, onde acontecem as concorridas rodas, anda cada vez mais movimentada. Tem gente que chega para ouvir a música, aproveita para comer e beber ali por perto... e vai ficando. Com o início do verão, a expectativa é que a rua fique ainda mais bombada, como point de descolados, locais ou turistas.

Como BRTs e táxis:

Amor no ar:

As opções são várias, e parte da graça é descobri-las. A campeã carioca das ruas do mundo guarda um baú de tesouros. Às vezes literalmente, já que é conhecida por abrigar antiquários de móveis que ficam expostos na calçada e no asfalto.

— Amei este lugar e os móveis antigos. Tem peças boas e assinadas. Em comparação com São Paulo, onde vivia antes, o preço está muito bom. Comprei uma cadeira e uma luminária — conta a designer de joias Fernanda Balieiro, de 29 anos, que é brasiliense e mora há um mês no Rio.

Assim como ela, outros que estavam por lá num sábado recente contam que se surpreendem, mesmo que já tenham passado pela rua outras vezes. O local respira arte. No quarteirão mais movimentado, entre a Rua do Lavradio e a Avenida Gomes Freire, há pelo menos dez antiquários, além de ateliês. Neste trecho, o Solar dos Abacaxis, instalado no imóvel histórico onde ficava a primeira fábrica da Granado, recebe exposições, feiras e oficinas. Em comemoração aos dez anos do espaço (três neste prédio), foi inaugurada uma nova exposição com obras de 30 artistas, entre eles nomes prestigiados como Vik Muniz e Antonio Dias.

— Depois da pandemia, a feira (Lavradio) deixou de ser uma vez ao mês e passou para todo sábado. O quarteirão fica fechado para carros nesses dias, e os antiquários passaram a sair mais. Estamos nos articulando para que (a Rua do Senado) vire um boulevard e fique sempre fechada, pelo menos de sexta a domingo. Já entendemos que há soluções para o trânsito — avalia Consuelo Bassanesi, coordenadora de projetos do centro cultural, que agora chama-se Solar.

O espaço faz parte do novo Mercado Central, inaugurado em novembro, com três lojas de alimentação e bebidas.

— Futuramente haverá uma floricultura, uma loja conceito da Granado e também uma livraria — completa Consuelo, que prepara ainda a inauguração de uma sala de leitura.

Sotaques do mundo inteiro

Diante do Solar acontecem oficinas aos sábados. Enquanto os adultos bebem, crianças ficam ali desenhando ou pintando. É comum também haver filhos de vendedores ambulantes nestas atividades, enquanto os pais trabalham.

Em alguns estabelecimentos, a diversidade de produtos e atividades é o diferencial. No Ateliê Bonifácio, há roupas, brincos e acessórios, apresentações musicais, telas, trancista, aulas de ioga e pilates, além de oficinas artísticas. Todos com artistas negros convidados pela proprietária do espaço, Ju Bonifácio, que está há nove anos na rua.

— Falta o público consumir mais arte afrodescendente. Não adianta ser a rua mais cool se o olhar não mudar. Procuram muito a gente em novembro (mês da Consciência Negra), mas na hora de botar dinheiro no artista, é diferente — observa ela, que serve feijoada tradicional e de feijão vermelho com camarão, feitas por sua mãe.

Um desses artistas convidados é Pablo Poder, que expõe obras definidas como intervenção afrofuturista, na qual sua pintura vem ao redor de fotos em preto e branco.

— Os turistas buscam uma lembrança daqui, muitos querem imagens da Lapa e do Cristo, mas há quem prefira algo mais original. Trabalho com fotos de personalidades brasileiras, como Cartola e Tim Maia. O público que consome arte está aqui — afirma.

O cenário típico dos antiquários inspira as outras casas. Na Destilaria Maravilha, inaugurada há poucos meses, o decorador Jorge Nasi levou um ano e meio para montar o ambiente repleto de peças nas paredes e no teto. Acima do balcão, há uma estátua de 300 anos de uma deusa, feita em mármore por um artista italiano.

— A Lapa é um dos centros culturais do mundo, queira ou não. Recebemos turistas de toda parte, Japão, Suécia... Todos ficam encantados com a nossa arte e nossos móveis dos anos 60 — diz Walduir Barbosa, dono do Barbosa Antiquário, há três anos no local.

A publicitária Raquel Schivano é carioca, mas nunca havia circulado por ali. Depois de almoçar com o marido no Lilia, restaurante citado no Bib Gourmand do guia Michelin — sim, a Rua do Senado também tem gastronomia reconhecida internacionalmente —, aproveitou para garimpar móveis. Um passeio completo.

— Viemos procurar uma mesinha de cabeceira, mas vamos tendo ideias. Vimos uma outra mesa que adoramos — conta.