RJ em Foco
Tiroteios e crimes paralisam trens e causam 682 interrupções no Rio este ano
Malha ferroviária passa por áreas dominadas pelo crime; tiroteios afetaram viagens, em média, uma vez a cada 20 dias
Um olhar sobre o mapa da malha ferroviária revela que os trens, responsáveis por transportar 300 mil passageiros por dia em cinco ramais e três extensões, passam às margens de 179 comunidades controladas pelo Comando Vermelho (CV), pelo Terceiro Comando Puro (TCP), pela Amigos dos Amigos (ADA) e por milícias. A passagem de composições por áreas conflagradas se reflete na quantidade de vezes que, devido à violência, os usuários ficaram a pé em 2025. Só nos dez primeiros meses do ano, problemas de segurança pública, como trocas de tiros, roubos e furtos de cabos e vandalismo, provocaram 682 cancelamentos ou interrupções de viagens. Significa dizer que, em média, houve duas ocorrências deste tipo por dia.
À luz do dia:
Crime premeditado:
Os dados das interrupções são da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transporte (Agetransp). As favelas estão mais concentradas na Zona Norte — são 104. Mas há comunidades ao longo da linha férrea no centro do Rio (quatro), na Zona Oeste (41) e na Baixada Fluminense (30). Com 104 estações, os ramais da SuperVia ligam a capital a 11 municípios, por meio de 270 quilômetros de trilhos. De janeiro a novembro deste ano, a concessionária registrou 16 trocas de tiros que afetaram a circulação dos trens, uma a cada 20 dias, em média.
Até 18 horas de paralisação
A duração das interrupções por toda extensão de um ramal ou apenas um trecho, causada por disparos, variou de 15 minutos a até mais de 18 horas. A maior delas aconteceu no ramal de Belford Roxo. Após um tiroteio entre bandidos e policiais, em Costa Barros, uma bala atingiu a rede elétrica aérea, em 29 de agosto, por volta das 6h. Quatro estações tiveram que ficar fechadas. O serviço só foi completamente normalizado por volta das 5h do dia seguinte. Mas foram os usuários do ramal Gramacho/Saracuruna os que mais sofreram com este tipo de problema. Nada menos que nove trocas de tiros foram registradas nos 11 primeiros meses do ano no trecho que liga a Central a Saracuruna.
Deste total, sete aconteceram próximos às estações de Vigário Geral, Parada de Lucas e Cordovil, que sofrem influência do TCP e, juntas, formam o Complexo de Israel, na Zona Norte. Esse território é controlado por Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, um dos traficantes mais procurados do estado, com 11 mandados de prisão expedidos pelo Tribunal de Justiça do Rio. Já as outras duas interrupções de tráfego no mesmo ramal aconteceram por tiroteios ocorridos na altura do bairro Corte Oito, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, área sob influência do CV no Complexo da Mangueirinha.
Quem usa o ramal diariamente sabe que as interrupções causadas por tiroteios não são raras. Há quem use as redes sociais para alertar os outros usuários sobre a ocorrência de tiros. “Bala voando aqui no Corte Oito”, escreveu um passageiro, no dia 22 de agosto, para avisar sobre mais uma paralisação no serviço dos trens.
— É muito ruim ter interrupção assim. Volta e meia acontecem tiroteios ali perto de Vigário Geral, e os trens ficam parados. O que a gente faz é sempre sair de casa com meia hora de antecedência. Para ter um tempo maior e não chegar tarde ao trabalho — disse um gestor de logística, de 38 anos.
Magistrado do TRF-2:
Outras seis interrupções por trocas de tiros foram registradas no ramal Belford Roxo. Cinco delas aconteceram nas proximidades das estações Costa Barros, próximo ao Complexo do Chapadão, e em Del Castilho, ambas em áreas que têm territórios sob influência do CV. E uma na altura de Barros Filho, próximo ao Complexo da Pedreira, que tem áreas controladas pelo TCP.
No dia 23 de agosto, o tráfego ferroviário foi interrompido no ramal Deodoro, nas proximidades da estação do mesmo nome, por mais de duas horas. O local é próximo a um dos acessos à comunidade do Muquiço, que tem territórios controlados pelo TCP.
Ao observar o mapa, é possível ver a concentração de favelas dominadas por milícias na Zona Oeste. Apesar disso, nos 11 primeiros meses do ano, não houve registro de impacto na circulação de trens provocado por tiros na região.
Nova direção à vista
Um leilão judicial, previsto para ocorrer no dia 27 de janeiro, vai definir o novo operador do sistema de trens que substituirá a Supervia, atualmente a responsável pela operação das composições que ligam o Rio a outros 11 municípios.
Na última terça-feira, o governador Cláudio Castro anunciou que a Procuradoria Geral do Estado e a Secretaria de Transporte e Mobilidade Urbana (Setram) concluíram um edital, que será divulgado pela Justiça, com as regras para a escolha da nova permissionária da concessão.
O contrato será uma permissão, segundo modelo definido pela Procuradoria Geral do Estado. O operador vai gerir o sistema por cinco anos, podendo ser renovado por igual período. A remuneração da empresa passará a ser por quilômetro rodado e não mais pela quantidade de passageiros. O modelo é semelhante ao que já existe nas barcas, onde a operadora recebe por milhas náuticas percorridas, e o estado fica com o valor arrecadado com as passagens. Assim, o governo passa a ter mais controle das tarifas, reduzindo os pedidos de reequilíbrio contratual por queda de demanda.
Em setembro de 2024, o governo estadual chegou a anunciar que a SuperVia iria operar apenas até novembro. Em seguida, um novo acordo estendeu o prazo para o dia 16 de março de 2026. Agora, a estimativa é que a nova concessionária passe a operar o serviço a partir de abril.
Responsável pelo patrulhamento dos 270 quilômetros da ferrovia usada pela SuperVia, a Polícia Militar informou, em nota, que o policiamento no sistema ferroviário é realizado “de forma dinâmica, com equipes distribuídas por roteiros de atuação ao longo da malha”. O documento diz ainda que as equipes atuam “com patrulhamento preventivo nas plataformas, acessos e áreas internas das estações, além de rondas embarcadas e reforço nos horários de maior fluxo”. E que o efetivo também é ampliado por meio do Regime Adicional de Serviço (RAS).
Já a SuperVia disse que o furto de cabos é “um problema persistente” que atrapalha a operação dos trens. E que aplica “uma espécie de verniz permanente em todos os cabos com o objetivo de inibir a ação dos receptadores. Ou seja, os cabos passaram a ter uma espécie de ‘DNA’, o que facilita a identificação do equipamento ao ser encontrado com um receptador”.
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