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Justiça suspende atuação de dentista por deformações e internação de advogada após cirurgia estética no Rio
Advogada ficou 12 dias internada, parte deles em CTI, após platismoplastia realizada em consultório; profissional virou ré por lesão corporal grave e gravíssima
A Justiça do Rio determinou a suspensão das atividades profissionais de uma cirurgiã-dentista em procedimentos de harmonização facial após complicações graves sofridas por uma paciente submetida a uma platismoplastia — também conhecida como lipo de papada — realizada em novembro de 2024. A decisão envolve o caso da advogada Eloah Teixeira Carneiro Lins, de 56 anos, que ficou internada por 12 dias, parte deles em CTI, com risco iminente de morte.
O procedimento foi feito no consultório da cirurgiã-dentista Cynthia Heckert Brito. Segundo o g1, as investigações apontam que logo após a intervenção, Eloah apresentou deformações no rosto, extensa formação de hematoma e agravamento progressivo do quadro clínico. A profissional foi indiciada pela 42ª Delegacia de Polícia e, posteriormente, denunciada pelo Ministério Público pelos crimes de lesão corporal grave e lesão corporal gravíssima. Com o recebimento da denúncia pelo juiz da 28ª Vara Criminal do Rio, Cynthia passou à condição de ré.
Ao analisar o caso, o magistrado determinou a suspensão das atividades da acusada relacionadas à harmonização facial até o trânsito em julgado do processo. A decisão se baseia no entendimento de que a continuidade da atuação profissional representa risco concreto a terceiros. "Constata-se haver justo receio de que a continuidade do exercício da profissão da acusada propicie a prática de novas lesões à integridade física, à saúde e à vida de terceiros", registrou o juiz, segundo o g1.
Procurada, a cirurgiã-dentista afirmou, por meio de sua defesa, "que prestou todo o suporte necessário à paciente, acompanhou o ocorrido e acreditava que a situação havia sido resolvida de maneira adequada". A defesa informou ainda que pretende recorrer da decisão, alegando que a medida é desproporcional e viola a presunção de inocência.
À polícia, Cynthia classificou o ocorrido como uma "intercorrência", afirmando que esse tipo de situação envolve risco "inerente a qualquer procedimento cirúrgico" e que a paciente teria sido previamente informada sobre essas possibilidades.
Relato da vítima
De acordo com o relato de Eloah, os primeiros sinais de que algo não estava bem surgiram no dia seguinte à cirurgia. Ao perceber inchaço intenso e escurecimento do rosto, ela entrou em contato com a profissional.
— No dia seguinte, 7 e meia da manhã, eu já mandei a primeira foto para ela, com o meu rosto muito inchado e ficando preto, enegrecido aqui perto da boca. Eu falei assim: 'Cinthia, tem alguma coisa acontecendo, não está certo'. Ela: 'não, você é muito branquinha, isso vai passar' — contou a advogada ao g1.
Sem melhora, a advogada retornou ao consultório dois dias depois, já com o quadro agravado.
— Voltei já com o rosto muito preto aqui, no ouvido, no rosto, descendo para o peito. Horrível, parecendo um monstro. E ela me cobrou R$ 200 por uma drenagem.
Eloah afirma ainda que etapas técnicas essenciais da platismoplastia não teriam sido corretamente executadas, como a fixação da musculatura do pescoço com fios de sustentação. Segundo ela, um dos fios teria ficado solto, outro não foi colocado, e restou material cirúrgico que deverá ser removido em um procedimento futuro.
A gravidade da situação levou uma dentista vizinha a alertar Eloah e a encaminhá-la ao Hospital Rios D’Or. No local, médicos constataram que o hematoma extenso comprometia estruturas profundas, como a base da língua e as vias aéreas, colocando a paciente em risco de morte.
— A médica chegou para mim, para o meu marido, e falou: 'O seu caso é extremamente grave, A senhora está indo para o CTI agora. A senhora está com risco de vida. A senhora tem família, pai, filho? Chama, porque eu acho importante eles falarem com a senhora'. O hospital tinha quase certeza que eu não iria sobreviver — relata.
Durante a internação, Eloah diz que Cynthia esteve no hospital em duas ocasiões e manteve a versão de que se tratava de uma "intercorrência". Após receber alta, a advogada afirma ter solicitado a devolução do valor pago pelo procedimento e recebido como resposta um contrato prevendo o reembolso, mas que a impediria de relatar o caso ou de responsabilizar criminalmente a profissional.
— Ela vai e me manda um contrato com cláusula de mordaça, dizendo que devolveria o meu dinheiro, e eu estaria impedida de falar para qualquer pessoa o que aconteceu e de representá-la criminalmente — conta.
Imperícia técnica
Na denúncia, o Ministério Público sustentou que a platismoplastia extrapola o escopo da odontologia, apontou imperícia técnica e concluiu que a conduta revela dolo eventual.
"A imperícia demonstrada, somada à atitude de dolo eventual na condução do caso da vítima, revela um padrão de comportamento profissional que oferece um risco concreto e iminente à saúde e à vida de outros potenciais pacientes, pois, pelo que diz a acusada, e segundo seu entendimento, continua e continuará exercendo tais práticas ao arrepio das normas técnicas dos órgãos profissionais de controle", diz o texto do MP.
O MP pediu a condenação da cirurgiã-dentista, indenização mínima de R$ 200 mil à vítima e a suspensão imediata de sua atuação em procedimentos de harmonização facial — pedido acolhido pela Justiça.
— Ela precisa parar. Eu já fui ao Conselho Regional de Odontologia, já fiz o registro, eu não sei por que essa pessoa que me operou ainda está exercendo essa função — diz Eloah.
Paralelamente, tramita no 9º Juizado Especial Criminal um processo contra Cynthia por falso exercício da medicina, acusação que ela nega.
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