O presidente em exercício da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Guilherme Delaroli (PL), promoveu uma ampla reformulação no alto escalão da Casa e deu início, na prática, a uma gestão própria no comando do Parlamento fluminense. As mudanças incluem a nomeação de aliados com vínculos diretos com a prefeitura de Itaboraí, do qual seu irmão Marcelo Delalori é prefeito. O município é reduto político da família Delaroli. Ontem, o presidente interino exonerou nomes ligados ao deputado Rodrigo Bacellar (União), afastado do cargo de presidente por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

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O novo diretor-geral da Alerj é Luciano Martins Abreu, que ocupava até então o cargo de secretário municipal de Serviços Públicos de Itaboraí. Ele foi exonerado da função pelo prefeito Marcelo Delaroli para assumir o posto no Legislativo estadual. Luciano já havia sido subsecretário no município e, em seu perfil profissional, descreve que era responsável pela gestão de máquinas e equipamentos, além de toda a logística da área, incluindo a coordenação de uma usina de asfalto.

Outro nome vindo de Itaboraí é o do novo procurador da Alerj, o advogado Pedro Ricardo Ferreira Queiroz da Silva, que exercia o cargo de secretário municipal de Governo. A escolha reforça a leitura de que Delaroli substituiu a antiga gestão, associada a Bacellar, por quadros de sua estrita confiança política.

Nas redes sociais, o advogado agradece ao filho do presidente em exercício, que também é vereador na Câmara de Itaboraí, João Delalori, que concedeu ao amigo da família a medalha Pedro Simão, uma homenagem concedida a pessoas que fazem a diferença na luta pela dignidade humana e pela liberdade.

"Quero agradecer primeiro a Deus pela oportunidade e alegria destes momentos. Quero agradecer a generosidade e carinho do Presidente da Câmara de Itaboraí, João Delaroli, por ter me concedido a medalha Pedro Simão. É uma honra receber esta comenda ao lado de referências em minha vida. Dentre grandes personalidades do Judiciário Fluminense", escreveu o advogado.

As mudanças também vieram acompanhadas de exonerações. Delaroli demitiu nesta terça-feira o então diretor-geral da Alerj, Marcos André Riscado de Brito. Também foram exonerados Rui Bulhões, chefe de gabinete de Rodrigo Bacellar, e Robson Tadeu de Castro Maciel Junior, que ocupava o cargo de procurador-geral da Casa. Todos os aliados do presidente afastado eram de Campos, reduto político de Bacellar.

Outro nome que deixou a Alerj foi o da servidora pública Flávia Ferraço Lopes Judice, que atuava como assessor 9 na diretoria-geral da presidência. Esposa do desembargador Macário Júdice Neto que foi preso pela PF nesta quarta-feira. Júdice era relator no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) do caso que investiga o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos, o TH Joias. Flávia foi exonerada a pedido no início de novembro, segundo ato da Mesa Diretora publicado no Diário Oficial. Em outubro, ela recebeu R$ 8,2 mil líquidos.

Na sexta-feira, Delaroli já havia adiantado ao GLOBO que faria mudanças no alto escalão da Assembleia, retirando os homens ligados ao antigo comando. “Saiu a gestão de Campos, entrou a gestão de Itaboraí”, resume um deputado aliado, numa referência ao grupo político de Bacellar e ao novo eixo de poder instalado na Casa.

Desde que assumiu interinamente a presidência, Delaroli nunca escondeu o respaldo político do irmão prefeito em suas decisões, além do apoio do presidente estadual do PL, Altineu Côrtes, de quem é apadrinhado. O discurso, no entanto, mudou ao longo dos últimos dias.

Após a prisão e o afastamento de Bacellar, Delaroli fazia questão de se apresentar como um presidente meramente protocolar, afirmando, ao microfone, que estava apenas “cumprindo o rito regimental” e que a presidência “pertencia a Bacellar”. Ontem, o tom foi outro. O deputado anunciou que vai se mudar para o gabinete da presidência, convocar reuniões e promover as mudanças que julgar necessárias enquanto estiver no cargo.

O tempo dessa interinidade ainda é incerto e depende de decisões do STF e do andamento das investigações que envolvem Bacellar. Como presidente em exercício, adotou um discurso de simplicidade e pragmatismo. “Eu sou um cara simples, xucro e da roça. Entendo de cavalo e de asfalto”, afirmou, sinalizando foco na gestão administrativa da Casa.

A relação de proximidade com o novo procurador da Alerj não é recente. Em 2023, Delaroli concedeu o Diploma Paul Singer a Pedro Ricardo Ferreira Queiroz da Silva, então secretário de Governo de Itaboraí. Na justificativa apresentada à época, o deputado destacou a atuação do homenageado como procurador do município e sua participação em projetos voltados ao desenvolvimento local, como a implantação dos ônibus “Laranjinhas”, que oferecem transporte gratuito à população.