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PF aponta comunicação prévia sobre operação e cita mensagens a gabinete de desembargador preso

Informações constam em representação da PF ao STF sobre suposta obstrução de justiça no Rio de Janeiro

Agência O Globo - 16/12/2025
PF aponta comunicação prévia sobre operação e cita mensagens a gabinete de desembargador preso
PF aponta comunicação prévia sobre operação e cita mensagens a gabinete de desembargador preso - Foto: Reprodução / Agência Brasil

Um termo de depoimento anexado à representação da Polícia Federal ao Supremo Tribunal Federal (STF) revela que a assessoria do desembargador federal Macário Ramos Judice Neto, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), teve conhecimento antecipado da data de uma operação policial contra o deputado estadual TH Jóias, investigado por ligação com o Comando Vermelho. O desembargador foi alvo de operação da PF deflagrada nesta terça-feira.

Segundo depoimento prestado à PF, o delegado responsável informou à assessoria do magistrado, na manhã de 2 de setembro, que a intenção era cumprir os mandados da operação contra TH Jóias no início do dia seguinte, 3 de setembro. O contato ocorreu às 10h49, por mensagem enviada ao assessor identificado como Marcelo, conforme relato formalizado à PF.

O delegado relatou que o assessor respondeu, garantindo que os mandados seriam expedidos ainda naquele dia. Minutos depois, às 11h16, Marcelo enviou um áudio, cuja transcrição foi incorporada ao documento oficial da investigação. Na mensagem, o assessor afirmou que havia acabado de chegar ao tribunal e que conversaria diretamente com o gabinete do relator.

Para a Polícia Federal, o registro do contato demonstra que a data da operação já era conhecida pela assessoria do relator, o que, embora considerado “natural” em investigações de grande porte, acabou se tornando um ponto de vulnerabilidade no cumprimento das diligências.

"A ciência prévia pelo Desembargador, o que se demonstra natural, sobretudo numa investigação dessa magnitude, na verdade se revelou uma possível vulnerabilidade ao sucesso do cumprimento das ordens por ele emanadas. Inclusive, conforme se observa no bojo das declarações de Rodrigo Bacellar, mais precisamente a partir de 8min40seg, o parlamentar afirma que conversou com TH Jóias sobre a suposta operação policial por volta de 11h ao meio-dia daquele mesmo dia 2/9/2025, no interior do Palácio Tiradentes. Ou seja: logo após à comunicação desta Polícia Federal ao Gabinete do Desembargador acerca da data designada para a deflagração", diz a PF na representação enviada ao Supremo.

No mesmo documento, a PF reconstrói o caminho dos acontecimentos após o contato formal. Segundo os investigadores, na noite de 2 de setembro, horas após a troca de mensagens com a assessoria do TRF-2, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar, encontrou-se presencialmente com o desembargador Macário Judice Neto em uma churrascaria no Aterro do Flamengo.

Mensagens extraídas de aplicativos de conversa indicam que Bacellar informou a interlocutores que estava no local acompanhado de “Macário” e de um “desembargador”. Para a PF, o encontro ocorreu na véspera da deflagração da operação, no mesmo período em que um dos investigados trocava mensagens sobre retirada de bens e possíveis medidas evasivas.

A representação também destaca que Bacellar, além de presidente da Alerj, mantinha interlocução direta com alvos da investigação, inclusive orientando sobre deslocamentos e providências logísticas após a circulação de informações sobre a operação.