O impacto da atuação de facções criminosas no aumento dos roubos em Niterói é sentido de forma intensa no bairro Fonseca. Nos primeiros seis meses de 2025, os roubos a transeuntes, de celulares e de veículos cresceram, respectivamente, 20,5%, 175% e 75%. Esses indicadores acompanham a tendência da cidade: após quedas seguidas de 2020 a 2024, os crimes voltaram a subir este ano. Moradores relatam que a oscilação está relacionada à influência do Comando Vermelho, que domina o tráfico na região.

Vida breve nas mãos do crime

Marketing do crime:

Um músico de 37 anos, vítima de roubo de celular em outubro de 2024, numa via entre o Fonseca e o Cubango, conta que, após o caso viralizar em grupos de WhatsApp, traficantes de comunidades próximas proibiram novos roubos no local. Ele voltava para casa, próximo à Alameda São Boaventura — principal via da área, conhecida pelos congestionamentos e acesso a cidades vizinhas — quando foi abordado por um criminoso armado em um Fiat Uno. Além do celular, perdeu fones de ouvido, carteira de identidade, bateria portátil e um terço.

— Na mesma semana do ataque, minha mãe me alertou que haviam liberado o roubo na rua. Após relatar o ocorrido no grupo da associação de moradores, a informação chegou ao tráfico e os roubos foram proibidos novamente — relata o morador.

Expansão da facção fluminense:

O Fonseca é hoje um dos bairros mais afetados pela disputa entre facções em Niterói. Ao menos três tentativas de invasão do Terceiro Comando Puro (TCP) desafiaram a hegemonia do Comando Vermelho, com tiroteios há mais de três semanas.

O aumento dos roubos de carros em Niterói, no primeiro semestre, concentrou-se principalmente em dois bairros próximos a divisas: Itaipu, vizinho de Maricá, e Barreto, próximo a São Gonçalo. Em Itaipu, os casos saltaram de 2, em 2024, para 13 neste ano. Em Barreto, as ocorrências dobraram, de 8 para 16, concentrando-se no trecho da Rodovia Niterói-Manilha. Inquéritos da Polícia Civil apuram a ligação dos roubos em Itaipu com ferros-velhos clandestinos.

O que é o Mapa do Crime?

Quais são os bairros mais perigosos do Rio e de Niterói? Onde os roubos cresceram? Qual o horário menos seguro para circular? Para responder a essas perguntas e compreender a dinâmica da violência, o GLOBO desenvolveu o Mapa do Crime, ferramenta interativa de monitoramento de roubos com dados inéditos por bairro.

Após o lançamento da primeira edição em 2024, com dados do Rio, a segunda edição traz informações do primeiro semestre de 2025 sobre quatro tipos de roubo — de celular, a transeunte, de veículo e em coletivo — em 147 bairros do Rio e 51 de Niterói.

A ferramenta foi elaborada a partir de microdados obtidos via Lei de Acesso à Informação junto ao Instituto de Segurança Pública (ISP). O órgão divulga mensalmente estatísticas por áreas de batalhões e delegacias, abrangendo diversos bairros. Para entender dinâmicas hiperlocais, o GLOBO solicitou dados detalhados por bairro, a menor unidade territorial disponível. É a primeira vez que indicadores criminais no Rio são divulgados com esse grau de detalhamento.