Icaraí, bairro mais populoso e valorizado de Niterói, registrou um aumento expressivo nos roubos de celular no primeiro semestre de 2025. Foram 32 ocorrências entre janeiro e junho, número recorde na série histórica do bairro e mais que o triplo dos nove registros do ano passado. O crescimento de 255% foi o maior entre os bairros de Niterói com mais de dez casos, colocando Icaraí como o segundo local com mais roubos de celulares na cidade, atrás apenas do Centro. Por outro lado, os índices de assaltos a pedestres e roubos de veículos permaneceram estáveis na região.

Destino dos aparelhos roubados

Parte significativa dos celulares furtados em Niterói tem como destino a Feira do Laranjal, em São Gonçalo, área sob domínio do Comando Vermelho. Em julho, agentes da 76ª DP (Niterói) prenderam em flagrante Carlos Henrique de Paula Gonçalves, dono de uma banca na feira e apontado como um dos principais receptadores de dispositivos roubados na cidade.

Gonçalves foi identificado após uma operadora de telefonia informar à polícia que um aparelho roubado em Niterói havia sido religado e estava em uso por outra pessoa. A investigação levou à localização do novo usuário, que devolveu o telefone e relatou tê-lo adquirido na barraca de Gonçalves, na Feira do Laranjal.

Na residência do acusado, foram encontrados dezenas de aparelhos, sendo sete provenientes de roubos ou furtos. Em depoimento à Justiça, Gonçalves alegou desconhecer a origem dos dispositivos, afirmando que costumava comprá-los quebrados para consertar e revender. No início de junho, ele foi condenado a 21 anos de prisão pela juíza Juliana Cardoso Monteiro de Barros, da 3ª Vara Criminal de São Gonçalo.

Mercado ilegal incentiva crimes

“O celular é um objeto pequeno, de alto valor agregado e indispensável. Como todo mundo tem um, qualquer pessoa na rua vira alvo. Além disso, não existe política nacional nem estadual eficaz de rastreamento e enfrentamento ao mercado de receptação. E esse mercado ilegal movimenta bastante dinheiro, incentivando a prática do crime. Redes estruturadas de receptação sustentam o aumento do crime nas ruas”, analisa Carolina Grillo, professora do Departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Sobre o Mapa do Crime

Quais são os bairros mais perigosos do Rio e de Niterói? Onde os roubos avançaram? Qual o horário menos seguro para circular? Para ajudar a responder essas perguntas e entender a dinâmica da violência, o Mapa do Crime foi desenvolvido como ferramenta interativa de monitoramento de roubos, com dados inéditos por bairros.

Após o lançamento da primeira edição em 2024, com dados da cidade do Rio, a plataforma agora traz informações do primeiro semestre de 2025 sobre quatro tipos de crimes — roubos de celular, a transeunte, de veículo e em coletivo — em 147 bairros do Rio e 51 de Niterói.

O levantamento foi produzido a partir de microdados obtidos via Lei de Acesso à Informação junto ao Instituto de Segurança Pública (ISP). O órgão divulga mensalmente estatísticas por áreas de batalhões e delegacias, abrangendo vários bairros. Para detalhar as dinâmicas criminais hiperlocais, o GLOBO solicitou dados mais precisos e recebeu informações por bairro, tornando possível este inédito nível de detalhamento dos indicadores criminais no estado.