RJ em Foco

Talento da TV, do palco e do carnaval, Haroldo Costa será velado nesta segunda-feira

Sua longa trajetória intelectual e artística foi marcada pela leveza no trato e por permanente sorriso no rosto

Agência O Globo - 15/12/2025
Talento da TV, do palco e do carnaval, Haroldo Costa será velado nesta segunda-feira
Haroldo Costa - Foto: Reprodução / Instagram

Às vésperas de seu 95º aniversário, no último dia 13 de maio, Haroldo Costa deu uma alentada entrevista ao pesquisador e músico Pedro Paulo Malta para o projeto Discografia Brasileira, do Instituto Moreira Salles. Sobre tanto tempo de estrada, resumiu: “posso garantir que a idade não pesa.” Sempre com essa leveza e um sorriso no rosto, o ator e escritor (também diretor e produtor de rádio e TV e jurado de desfiles de carnaval) produziu rico legado para a cultura nacional — e, em particular, afro-brasileira. Seu velório acontece nesta segunda-feira, entre as 10h e as 14h, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju.

Como montar uma decoração de Natal gigante em tempo recorde:

Com 81,9% vivendo em áreas acessíveis apenas a pé, de bicicleta ou de moto:

Carioca da Piedade, na Zona Norte do Rio, o garoto nascido pouco mais de quatro décadas após a abolição da escravatura mudou-se para Maceió aos 2 anos: foi acolhido por parentes após a morte da mãe, a dona de casa Eurides. Aos 10, voltou ao Rio para morar com o pai, o alfaiate Luís Costa — agora na Lapa —, e começou a estudar no Colégio Pedro II.

Além das aulas, se interessou pelo movimento estudantil: chegou a presidir a Associação Metropolitana dos Estudantes Secundaristas (AMES). O gosto pela militância, influência paterna, e pelas artes, o levaria ao Teatro Experimental do Negro, fundado por Abdias Nascimento.

Dos palcos à avenida

A trajetória nos palcos, iniciada nos anos 1940, inclui a fundação do Teatro Folclórico Brasileiro (1950), depois rebatizado como Brasiliana, trupe que se apresentou em 25 países da América do Sul e da Europa. Em cena, Haroldo Costa viveu seu momento mais importante como protagonista de “Orfeu da Conceição” , peça de Vinicius de Moraes, marco inicial da parceria entre o poeta e Tom Jobim, encenada em 1956.

Outra das paixões do artista foi o carnaval. Frequentador da Mangueira, tornou-se salgueirense de coração desde que, na cabine do júri dos desfiles, foi às lágrimas durante a passagem da vermelha e branca em 1963, com o enredo “Chica da Silva”. Haroldo Costa ainda se notabilizou como comentarista de carnaval e jurado do Estandarte de Ouro, prêmio para o melhor da folia oferecido pelo GLOBO desde 1972.

— A credibilidade e o prestígio do Estandarte de Ouro se devem, em grande parte, à presença de figuras como Haroldo Costa no júri. Quando o prêmio foi criado, ele já era uma referência no carnaval e na cultura brasileira. Conhecia a história das escolas de samba como poucos e ajudou a construí-la escrevendo livros, comentando os desfiles na TV e promovendo eventos de carnaval. Foram mais de sete décadas de uma história que justifica plenamente a reverência e o respeito de todos que o chamavam, e continuarão a chamar, de mestre — disse o presidente do júri do Estandarte de Ouro, o jornalista Marcelo de Mello.

Um baluarte, na avenida e fora dela, Haroldo Costa também dirigiu produções de rádio e televisão. Nos estúdios, cumpriu funções diversas, dos teleteatros da antiga TV Tupi, na década de 1950, à realização de musicais, quando começou a trabalhar na TV Globo, em 1965.

Sua obra literária inclui títulos como “Salgueiro: Academia de samba”, “Ernesto Nazareth — Pianeiro do Brasil”, e “Fala, crioulo!”, reunião de depoimento sobre o que é ser negro no Brasil. Entre outros compromissos, Haroldo Costa estava nos ajustes finais de seu oitavo livro. No ano passado, declarou ao blog de Ancelmo Góis, do GLOBO: “Sou de uma geração criativa, que adora trabalhar.” Esse carioca de talentos múltiplos estava internado na Casa de Saúde João de Deus, em Santa Teresa, e morreu às 15h45 do último sábado.

A despedida da escola

Nas redes sociais, a Acadêmicos do Salgueiro se despediu do integrante ilustre: “Haroldo foi muito mais do que um intelectual. Foi memória viva, foi guardião da nossa história, foi voz firme na defesa do samba, do Carnaval e da cultura afro-brasileira”.

Também nas redes, o prefeito Eduardo Paes declarou: “Ontem nos deixou Haroldo Costa, um gigante da cultura brasileira. Guardião do samba, do Carnaval e da cultura afro-brasileira, foi ator, diretor, comentarista consagrado e jurado dos desfiles e do Estandarte de Ouro. Dedicou a vida ao samba e ao Carnaval com dignidade e profundo amor pelo povo do samba. Seu legado é eterno”.

Em nota divulgada ontem, o governador Cláudio Castro lamentou: “O mundo do samba, o Rio de Janeiro e o Brasil estão de luto. Perdemos Haroldo Costa, ator, diretor, escritor e uma das maiores referências do carnaval. Um mestre da nossa cultura, que ajudou gerações a compreender a grandiosidade dos desfiles, dos sambas-enredo e da identidade do nosso povo” diz o texto.

Haroldo Costa morreu de complicações decorrentes de uma pneumonia e de um quadro de infecção urinária. Deixa a viúva, Mary Marinho, com conviveu por mais de 50 anos.