Poder e Governo

De Malafaia a líderes do Centrão: quem já se manifestou contra a candidatura de Flávio Bolsonaro nos 12 últimos dias

Definido como alguém 'sem musculatura política' e com rejeição mais alta que outros nomes da direita, senador garante que sua iniciativa é 'irreversível'

Agência O Globo - 18/12/2025
De Malafaia a líderes do Centrão: quem já se manifestou contra a candidatura de Flávio Bolsonaro nos 12 últimos dias
Flávio Bolsonaro (PL-RJ). - Foto: Reprodução / Instagram

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) teve sua pré-candidatura à Presidência da República criticada, nesta terça-feira, pelo pastor Silas Malafaia. Um dos principais aliados de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo afirmou que o melhor arranjo político para a direita seria ter uma chapa encabeçada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tendo a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como vice. Além do pastor, Flávio já recebeu críticas públicas de membros do Centrão por não ter organizado sua candidatura em conjunto com outras siglas.

'Chega de PT':

São Paulo:

— Eu não vi ninguém do governo Lula atacar Flávio (após o anúncio da pré-candidatura). Que coisa interessante. É como se dissessem: "É esse aí mesmo que nós queremos". Uma chapa para ser combativa, para ganhar uma eleição, é Tarcísio e Michelle como vice — afirmou Malafaia, em entrevista ao portal Metrópoles.

Flávio oficializou sua candidatura no dia 5 de dezembro, após ser escolhido por Bolsonaro. Três dias depois, o presidente do Partido Progressista (PP), senador Ciro Nogueira (PI), afirmou que, apesar da proximidade com o filho do ex-presidente, política "não se faz só com amizade", mas sim "com pesquisas, viabilidade e ouvindo os partidos aliados".

No mesmo dia, houve uma reunião entre Flávio, Ciro e os presidentes do União Brasil, Antonio Rueda, e do PL, Valdemar Costa Neto. Dos três, só Valdemar endossou publicamente a candidatura do parlamentar, afirmando que "se Bolsonaro falou, está falado".

Depois do encontro, o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), confirmou que os partidos não foram comunicados previamente sobre a movimentação e que, por isso, precisariam discutir o tema com suas respectivas bases. A avaliação inicial do Centrão foi que Flávio não seria capaz de unir a oposição.

— Minha relação com Ciro, Rueda e outros nomes é muito boa. Eles se preocuparam com o meu nome, com base em pesquisas, de eu não tracionar. Meu nome está tracionado. Reforcei a eles que minha candidatura é irreversível — frisou Flávio, no dia seguinte, ao visitar o pai na Superintendência Regional da Polícia Federal, em Brasília, onde ele está preso.

Os caciques também chegaram a se reunir com o presidente do Republicanos, deputado federal Marcos Pereira (SP), no dia 9 de dezembro. Desde então, nenhuma das três legendas demonstrou apoio a Flávio de maneira pública.

Em meio às articulações, o pré-candidato ao Senado por Santa Catarina, Carlos Bolsonaro (PL), defendeu o irmão. Ele aproveitou a indefinição para criticar os partidos do centro:

"O que realmente quer o Centrão? Certamente não é liberdade econômica de verdade, nem autonomia do cidadão. O projeto é outro, silencioso, mas evidente para quem presta atenção", escreveu Carlos, nas redes sociais.

A manifestação mais recente foi do líder do PP na Câmara dos Deputados, doutor Luizinho Teixeira (RJ), na quinta-feira passada. Ele defendeu que tanto seu partido, quanto o União Brasil, podem "fazer o movimento que quiserem" em relação ao apoio, já que o PL agiu de maneira "isolada".

— O PP, junto com o União Brasil, participava da construção de uma candidatura de centro-direita. A partir do momento em que Flávio Bolsonaro puxa a candidatura dele por uma decisão familiar e impõe para a direita, todo mundo que é de centro e centro-direita está livre. Nossa prioridade é eleger deputado e senador — disse o deputado, em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo".

Luizinho também defendeu que uma candidatura presidencial "envolve apoio político, chamar todo mundo para participar e definir qual é o projeto". De acordo com ele, dentro da legenda, há até quem queira apoiar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

— Ele já sai com uma rejeição muito alta, tem mais dificuldade de conquistar o eleitor de centro do que o Tarcísio (de Freitas, governador de São Paulo) e o Ratinho Jr. (governador do Paraná) — explicou Luizinho.

'Chapa combativa' x 'Amadorismo da direita'

Na mesma linha, nesta terça-feira, Malafaia avaliou que Flávio não tem "musculatura política" para o pleito contra Lula. Já Tarcísio, por possuir uma rejeição menor, seria importante para angariar votos do Centrão e de eleitores que não votariam em Lula ou Bolsonaro.

— A Michelle encarna (votos de) mulheres, da direita, de evangélicos e é filha de nordestinos — disse Malafaia. — Achei (a candidatura de Flávio) um movimento errado. O Bolsonaro está emocionalmente debilitado porque é vítima de injustiça. Não vou engolir.

Poucas horas após o anúncio da pré-candidatura de Flávio, no dia 5 deste mês, o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo já havia manifestado seu descontentamento:

"O amadorismo da direita faz a esquerda dar gargalhadas. Não estou falando nem contra e nem a favor de ninguém. Somente isto", escreveu Malafaia, nas redes sociais, sem citar o filho do ex-presidente.

Maioria define candidatura como um erro

A nova rodada da pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta semana mostrou que Flávio enfrenta rejeição maior que os outros nomes da direita colocados na disputa. Somam 60% os eleitores que dizem conhecê-lo mas não votariam nele. Esse índice é de 54% para Lula e de 47% para Tarcísio.

Além disso, 54% dos eleitores defenderam que Bolsonaro errou ao indicar o filho como pré-candidato, enquanto 36% dizem que o ex-presidente acertou na escolha. Entre eleitores da direita não bolsonarista, 38% consideram que Bolsonaro não deveria ter indicado Flávio, ante 16% dos que se declaram bolsonaristas

Por outro lado, Flávio tem mais apoio entre o eleitorado bolsonarista do que Tarcísio. O filho do ex-presidente tem a intenção de voto de 90% da parcela desse grupo, enquanto o governador alcança 73% do campo em um cenário de segundo turno contra Lula.