Poder e Governo

Chefe da PF critica políticos que defendem combate ao crime apenas no discurso

Andrei Rodrigues aponta contradição em casos como o do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, que teve a prisão revogada por decisão dos colegas parlamentares.

Agência O Globo - 15/12/2025
Chefe da PF critica políticos que defendem combate ao crime apenas no discurso
Polícia Federal - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, criticou nesta segunda-feira políticos que, embora defendam publicamente o combate ao crime organizado, mostram-se condescendentes na prática com alvos de operações da PF. Como exemplo, ele citou a decisão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) de revogar a prisão preventiva do presidente da Casa, Rodrigo Bacellar (União Brasil).

— Eu me refiro a esse contrassenso de políticos serem vigorosos no discurso contra o crime organizado e, na prática, condescender com o crime ao não permitir a continuidade da prisão de um integrante — afirmou Rodrigues em conversa com jornalistas. — Precisamos de menos condescendência com o crime organizado, menos anistia e mais rigor — acrescentou.

O diretor-geral elogiou o “acerto” da chamada “ADPF das Favelas” e destacou prisões como a de Bacellar e do deputado estadual TH Joias, além do desmonte de uma fábrica de fuzis no Rio, como resultados da atuação do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou uma ação mais incisiva da PF contra os principais grupos criminosos violentos e suas ligações com agentes públicos.

Durante a entrevista, Andrei alertou para o risco de banalização do termo "crime organizado" e ressaltou a importância de descapitalizar as facções criminosas.

— Quando tudo vira crime organizado, nada é crime organizado. Isso dificulta a compreensão do fenômeno e o uso das ferramentas adequadas. O objetivo é enfrentar efetivamente o crime organizado — explicou.

Rodrigues também rejeitou o que classificou como "discurso simplório" de responsabilizar o governo federal pela entrada de armas e drogas pelas fronteiras.

— Não podemos transferir responsabilidades. Às vezes ouvimos que basta fechar a fronteira para acabar com o crime, mas isso é um discurso fácil que não resolve o problema — disse, destacando que a fronteira do Brasil com a Bolívia é maior do que a dos Estados Unidos com o México.

— Não tenho notícia de que os Estados Unidos tenham conseguido evitar totalmente problemas com drogas e armas. Nenhum país do mundo está livre de desafios nas fronteiras — concluiu.

Segundo dados da Polícia Federal, foram deflagradas 3.310 operações neste ano, um aumento de 5,6% em relação ao ano passado (3.133). O cumprimento de mandados de prisão também cresceu 10,5% entre 2024 e 2025, passando de 2.184 para 2.413 ordens executadas.