Poder e Governo

Lula critica postura de Trump e defende diálogo: 'Não queremos guerra na América Latina'

Presidente brasileiro condena ataques ao multilateralismo e prega respeito nas relações exteriores

Agência O Globo - 11/12/2025
Lula critica postura de Trump e defende diálogo: 'Não queremos guerra na América Latina'
- Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, em conversa recente com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defendeu que o poder da palavra deve prevalecer sobre o uso de armas e reiterou que o Brasil não deseja conflitos na América Latina. A declaração faz alusão às tensões crescentes entre os EUA e a Venezuela.

Durante discurso em Belo Horizonte, na Caravana Federativa — iniciativa em que Lula e ministros dialogam com prefeitos locais —, o presidente relatou o telefonema com Trump, sem mencionar diretamente a Venezuela ou o presidente Nicolás Maduro. Trump tem pressionado o líder venezuelano a deixar o poder.

— O unilateralismo que o presidente Trump deseja é que o mais forte determine o que os outros vão fazer. É sempre a lei do mais forte. Ontem, quando eu conversava com ele, ele falava para mim... Ele falou muito comigo. Eu disse: "Ô Trump, nós não queremos guerra na América Latina, é uma zona de paz", disse Lula.

O último contato telefônico entre ambos, divulgado pelo Itamaraty, ocorreu em 2 de dezembro. O jornal O Globo questionou o Ministério das Relações Exteriores e a Presidência da República sobre uma possível nova ligação, mas não obteve resposta até a publicação.

Na sequência, Lula relatou parte do diálogo com o ex-presidente norte-americano: "Eu tenho mais arma, eu tenho mais navio, eu tenho mais bomba", teria dito Trump.

— Eu falei (a Trump): "Cara, eu acredito muito mais no poder da palavra do que no poder da arma. Vamos tentar utilizar a palavra como instrumento de convencimento, de persuasão para fazer as coisas certas. Vamos acreditar que a palavra é a coisa mais forte para a gente resolver os problemas", completou Lula.

Lula voltou a afirmar que não deseja confronto com os Estados Unidos, mas criticou a postura unilateral de Trump e os ataques ao multilateralismo.

— Nós estamos vivendo um momento muito importante no Brasil. A democracia no mundo não está bem. O mundo tem pouca liderança mundial. Há uma fragmentação, uma destruição da democracia, uma tentativa de colocar fim ao multilateralismo, que foi o que sustentou a paz no mundo desde a Segunda Guerra Mundial, pelo unilateralismo, declarou o presidente.

Mais cedo, no mesmo discurso, Lula destacou a necessidade de coragem para criticar Trump e reforçou que a relação entre os países deve ser baseada no respeito mútuo.

— É preciso ter coragem. Quando o presidente Trump tomou as decisões que tomou contra o mundo, vocês não têm noção do medo de uma parte da elite brasileira: "ah, tem que conversar, tem que conversar, tem que conversar". Eu aprendi com a mãe analfabeta que ninguém respeita quem não se respeita. Se eu quiser ser respeitado, tenho que me respeitar. É por isso que quero ter uma boa relação com os Estados Unidos. É o país mais rico do mundo, o mais poderoso do mundo do ponto de vista tecnológico, de arma, de ciência. Não quero brigar com os Estados Unidos, concluiu.