O dia seguinte às votações que pouparam Carla Zambelli (PL-SP) da cassação e suspenderam Glauber Braga (PSOL-RJ) por apenas seis meses consolidou, entre membros do Centrão, oposição e esquerda, a percepção de que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), perdeu o controle do plenário, saindo enfraquecido do episódio. Procurado pela reportagem, Motta não se manifestou.

As decisões tomadas irritaram tanto o ex-presidente da Casa e um dos principais líderes do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), quanto aliados do governo Luiz Inácio Lula da Silva e a oposição. Motta tornou-se alvo de críticas internas, que se multiplicaram em grupos de WhatsApp das bancadas do PL e do PP, onde parlamentares passaram a questionar sua condução à frente da Câmara.

No caso da votação que livrou Glauber da perda de mandato, a principal insatisfação veio do Centrão. O deputado do PSOL é considerado um dos maiores desafetos de Lira, que teria articulado sua cassação. Lideranças de partidos de centro alegam que havia um acordo entre Lira e Motta para que o atual presidente da Casa levasse adiante o processo contra o psolista.

Diante da dificuldade de Motta em reunir votos para cassar o mandato de Glauber, o Centrão precisou buscar uma "saída honrosa" para evitar o desgaste do presidente junto aos colegas.

No plenário, assim que Motta orientou seu grupo a votar pela suspensão de seis meses, líderes aliados como Doutor Luizinho (PP-RJ), Pedro Lucas (União Brasil-MA) e Adolfo Viana (PSDB-BA) passaram a telefonar para suas bancadas, orientando a mudança de voto — agora pela suspensão, não pela cassação. Para um líder do Centrão, esse episódio evidenciou a fragilidade de Motta.

Outro deputado afirmou à reportagem, sob reserva, que essa articulação era delicada, pois poderia gerar ruídos com Lira, principal articulador da candidatura de Motta à presidência da Câmara.

Em um grupo de WhatsApp com parlamentares do PP, Lira criticou a condução de Motta, mencionando falta de controle do plenário e classificando a situação como "esculhambação". O jornal O Globo teve acesso a trechos dessas conversas. Entre as mensagens, Lira lamentou a forma como Motta foi exposto.

Lira também se queixou da falta de solidariedade dos colegas com Motta, que, no dia anterior, teve sua autoridade questionada após Glauber tentar obstruir os trabalhos da Casa ao sentar na cadeira da presidência. Segundo Lira, Motta foi exposto de maneira inaceitável e teve sua liderança esvaziada mais uma vez.

A fala de Lira repercutiu entre líderes da Câmara, que já avaliavam que Motta vinha subestimando o clima político e insistindo em pautas de alto risco sem articulação prévia.

Um importante integrante do Centrão afirmou que a cassação de Glauber era dada como certa, já que sua postura em plenário e nas comissões irrita diversos deputados. Para esse parlamentar, havia votos suficientes, mas faltou habilidade política ao presidente da Câmara. "Ao não conseguir cassar o psolista, Motta errou um pênalti sem goleiro", resumiu.