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Enquanto o marido dormia

Carlito Peixoto Lima 07/09/2025
Enquanto o marido dormia
Carlito Peixoto Lima - Foto: Assessoria

- Doutor, na verdade estou cansada do Jorginho, me abusei da vida casada. Casei-me cedo aos 19 anos, hoje com 26 anos, sinto-me jovem, meu marido passa a noite em casa assistindo novela e jogo de futebol. Sem filhos, minha vida é um tédio, acabou a alegria do casamento. Quando fazemos amor é burocrático, obrigatório. Confesso, já tive vontade e oportunidade de traí-lo, entretanto, não faz minha cabeça, tenho forte sentimento de respeito, quero apenas meu marido como era antes. Oriente-me, por favor!

O Doutor Mário Moreira olhou para Laurinha, pigarreou discretamente, com fala bem compassada deu sua opinião.

- Minha querida, você está passando pela crise dos sete anos, todo casal tem esse problema. Está na hora de temperar esse casamento, a cama é ótima para reorganizar uma vida a dois. Faça uma surpresa, no fim de semana você convida o marido para assistir a um filme na NETFLIX com cenas quentes de sexo. Compre duas ou três garrafas de bom vinho, vista um lingerie sensual, e vamos ver no que dá.

Um mês depois Laurinha retornou radiante, satisfeita da vida.

- Doutor, foi um santo remédio, não havia acabado a segunda garrafa de vinho, nem terminado o filme, nós já estávamos abraçados no tapete, tudo como antigamente. Jorginho adorou.

Passaram-se alguns meses, Laurinha retornou ao psiquiatra. Entrou nervosa.

- Doutor, desde aquela época nós estamos praticando experiências novas, coisas que jamais pensei fazer, eu adorando. Acontece que Jorginho me perguntou se eu já tinha ouvido falar em swing, eu pensava ser um ritmo de música. Ele sorriu e explicou: “Existe aqui no Recife o Clube de Swing, entretanto, não é para dançar, esse swing é a troca de casais. Os casais se encontram conversam, bebem, quebram o gelo, depois cada qual arrasta a mulher do outro para o motel. Quando termina é como nada tivesse acontecido.” Continuou: “Nós dois já fizemos todas as experiências que imaginávamos. Será que você toparia fazer essa novidade?” Eu fiquei chocada, sem saber responder. Não é um procedimento correto, mesmo que o casal esteja em crise conjugal. Comecei a achá-lo um grande salafrário, me trocar, saber que eu vou com outro homem que mal conheço. Isso é degradante. Que decepção.

- Querida Laurinha, para algumas pessoas a traição é relativa, é o caso de seu marido aceitar a troca de casais, já para você é inconcebível pela sua formação moral. Conheço bem os padrões rígidos da educação nordestina, porém, a decisão é sua. Nada posso aconselhar. Faça o que seu coração mandar.

Na sexta-feira à noite Jorginho voltou a insistir no swing. Era a evolução dos costumes, dos casais modernos. Laurinha constrangida, com o coração apertado aceitou a proposta, só para satisfazê-lo. Foram ao Clube do Swing, tomaram uma mesa, pediram uísque, Laurinha nervosa e chateada. Logo apareceu um casal pedindo para sentar. Muita conversa, Jorginho estava radiante quando viu a bela mulher da troca. O marido também era um cara bonito. Beberam muito, conversaram, sorriram, até que chegou a hora da troca. Laurinha com o coração aos pulos. Ao entrar no quarto do motel ela caiu no choro, pediu desculpas ao parceiro, não quis de jeito nenhum. O parceiro educadamente compreendia, era a primeira vez. Ele foi elegante não se sentiu ludibriado. Levou Laurinha para seu apartamento em Boa Viagem.

Ela agradeceu ao cavalheiro. Em casa ficou contemplando o mar, pensando. Três horas depois chegou Jorginho satisfeito da vida, perguntando. Que tal? Gostou? Laurinha teve nojo do marido, vontade de jogar-lhe um vaso na cara. Cansado, bêbado, ele vestiu o pijama e deitou-se. Enquanto o marido dormia, ela arrumou duas malas, tomou um taxi para o aeroporto. Pegou um avião, retornou de vez para sua querida cidade, Belém.

Ficou um tempo no apartamento dos pais que lhe deram todo apoio. Laurinha está solteira e feliz, é vista nos bares bem frequentados pelas mulheres mais descoladas da cidade. Vez em quando, em seu pequeno apartamento, ela oferece um bom vinho a algum parceiro, assistindo a um bom filme. Outro dia Jorginho telefonou, ela foi taxativa, jamais voltará. Ele quis saber em que momento ela decidiu a separação e viajou de repente. Laurinha respondeu simplesmente. “Enquanto você dormia.”