Brasil
IA nacional: em parceria com o BRICS, Brasil mira a 'soberania das nuvens', diz secretário à Sputnik

À Sputnik Brasil, secretário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação afirma que o Brasil está trabalhando em uma IA própria, similar ao ChatGPT, destaca a importância de criar uma arquitetura baseada em português e diz que o tema está em discussão no BRICS.
A OpenIA, dona do ChatGPT, divulgou um levantamento recente que aponta o Brasil como o terceiro país que mais utiliza a tecnologia da empresa, atrás apenas de EUA e Índia. O dado vem em um momento em que a dependência tecnológica dos EUA é discutida no Brasil.
Em agosto, o governo federal divulgou a versão final do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, encomendado em janeiro ao Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. O plano prevê um investimento de R$ 23 bilhões, ao longo de quatro anos, para, segundo o governo, transformar o país em referência mundial em inovação e eficiência no uso da inteligência artificial, especialmente no setor público.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Henrique Miguel, Secretário de Ciência e Tecnologia para Transformação Digital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), explica que a IA não é um tema sensível apenas para o Brasil, mas para o mundo, e que países como a China e membros da União Europeia (UE) demonstram preocupação com o tema.
"Os países aqui, do Sul Global, os países de porte similar, os países da América Latina, todos eles têm essa preocupação da dependência dessas ferramentas e desses sistemas. E buscam, então, tomar medidas para diminuir, reduzir ou até, como no caso da China, se tornar, de certa forma, independente, em um grau maior, das tecnologias que são oferecidas por um grupo bem reduzido de empresas, na maioria, empresas americanas", afirma.
Miguel destaca que o plano do Brasil visa alcançar a chamada "soberania das nuvens", que seria uma forma de treinar as bases de dados sem usar as ferramentas das grandes empresas de tecnologia, em sua maioria, norte-americanas.
"Seria uma nuvem brasileira soberana, é uma questão relacionada a não disponibilizar, não treinar as nossas bases de dados com ferramenta das grandes empresas, porque aí nós estamos abrindo mão, de certa forma, de um ativo."
Ele afirma que China, Índia e África do Sul são importantes para a construção de uma nuvem soberana brasileira, por conta das medidas regulatórias, aspectos tecnológicos, tecnologias que estão empregando, questões de segurança, de acesso e de evolução.
Já a Rússia manifestou interesse em colaborar em áreas como tecnologias quânticas e segurança cibernética, consideradas estratégicas e complementares à pauta.
"Todas essas questões relacionadas não só à temática principal de IA, mas também de IA, segurança cibernética, tecnologias da informação e comunicação, semicondutores, processadores de alto desempenho, esses são os temas básicos que interferem na IA e que estão sendo, então, discutidos com esses países do BRICS."
Segundo Miguel, países como Emirados Árabes e Arábia Saudita já avançaram em programas de desenvolvimento de Large Language Models (LLMs), que são ferramentas de IA de "machine learning" (aprendizado de máquina, em tradução livre), projetadas para entender e gerar textos semelhantes à linguagem humana.
Ele afirma que durante as reuniões do G20 e do BRICS as lideranças presentes identificaram o problema em comum: a descaracterização e falta de diversidade dos conteúdos gerados pela IA, porque o treinamento das LLMs atuais é feito com base em inglês.
"O treinamento dessas bases foi feito com base basicamente iniciando em inglês. Não é que ela não fala português, ela fala português, mas ela sempre transforma em inglês, ela sempre pega o conteúdo de informações do treinamento inicial, é realmente inglês", afirma.
Ele afirma que o aprendizado da IA em português é tão importante quanto foi no passado a luta para ter teclados com símbolos e acentos típicos da língua portuguesa, como til, cedilha e os acentos agudo e grave.
"Então, isso é importante para a formação das nossas crianças, dos nossos jovens. É importante também sob o aspecto cultural. Então, é realmente uma preocupação que está sendo endereçada. Mas, repito, é um desafio, é algo que tem que se trabalhar."
O secretário afirma que a IA que o MCTI está trabalhando vai ser próxima do ChatGPT, será uma alternativa, mas que o intuito não é concorrer com as ferramentas que já estão no mercado.
"Mas ela tem que ter a finalidade de treinar em base de dados que só nós temos aqui. Então, a nossa preocupação com a nuvem, com a LLM, é o treinamento utilizando essas bases de dados."
Miguel acrescenta que há também o desafio de desenvolver os principais componentes de uma unidade central de processamento (CPU, na sigla em inglês), componente de hardware que é a unidade computacional principal em um servidor, e de uma Unidade de Processamento Gráfico (GPU, na sigla em inglês), unidade responsável por processar imagens e vídeos, utilizando uma tecnologia aberta.
Ele afirma ainda que vários países estão investindo em RISC-V, uma arquitetura de conjuntos de código aberto, simplificada e mais fácil de entender, que é apontada como uma revolução nos semicondutores.
"O Brasil também criou essa tecnologia. São centros, núcleos de desenvolvimento utilizando os processadores com tecnologia RISC-V. Inclusive, o Brasil faz parte de um grande consórcio internacional, juntamente com os países do primeiro mundo, a Índia, a China, a África do Sul, países aqui também [América Latina], países da União Europeia."
Segundo ele, essa parte de desenvolvimento do hardware, baseado também em chips, é a mais difícil e cara do processo, porém crucial.
"Porque aí você tem uma soberania completa. Mas num grau maior, você pode, a partir de processadores e GPUs existentes, construir o nó e a plataforma do supercomputador. Isso também está sendo trabalhado aqui [no MCTI]", afirma o secretário.
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