Em março de 2020, dentro dos muros do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP), a Polícia Militar de Alagoas realizava mais uma edição do Curso de Formação de Praças (CFP). Mais de mil alunos estavam dedicados à missão de se tornarem os novos soldados da instituição. Porém, o anúncio do avanço de uma doença até então desconhecida levou à suspensão – até aquele momento inédita –, das aulas, gerando incertezas sobre o futuro das instruções presenciais.

O decreto n.º 69.502/2020, assinado pelo Governo do Estado, limitava os horários de circulação e proibia aglomerações, tornando inviável a execução de um curso com mais de mil pessoas de forma presencial. A partir de então, uma força-tarefa foi montada e, por meio de uma colaboração multissetorial, nasceu o SisEducar: a plataforma de ensino à distância da PM.

Segundo o comandante do CFAP à época, coronel Marlon Araújo, a ferramenta foi fundamental para a conclusão do CFP de 2020.

“O EaD não apenas garantiu a continuidade do curso, mas deu à turma CFP 2020 um senso de superação desde o início da carreira. Aqueles alunos foram forjados em um cenário adverso, onde disciplina e resiliência falaram mais alto do que o medo ou o comodismo. A modalidade remota nos forçou a inovar nos métodos de ensino e preparou os alunos para uma realidade operacional que exige adaptação constante. O aprendizado não foi só técnico, mas também emocional e estratégico”, destacou o oficial.

Na Academia de Polícia (APM), os cadetes do Curso de Oficiais estavam no último ano de formação. Segundo o capitão Victor Araújo, que participou da etapa como instrutor e membro da Divisão Técnica da unidade de ensino, a chegada do SisEducar foi fundamental para que o CFO não atrasasse.

“Naquele momento, a maioria das instruções práticas já havia sido concluída, com isso conseguimos migrar para o método on-line o restante das disciplinas sem prejuízo para a qualificação dos alunos. Então, o calendário foi mantido e o risco de uma contaminação pela Covid-19, reduzido”, pontuou o militar.

À época subcomandante do CFAP, a tenente-coronel Josiene Lima ressaltou que a implementação trouxe a tecnologia ao protagonismo do ensino na PM-AL, sem comprometer a qualidade das instruções e da gestão das turmas pelo Corpo de Alunos.

“O ensino a distância não foi criado para substituir as atividades em sala de aula, mas para apresentar novas possibilidades de alcançar o conhecimento técnico. Foram quase sete meses de paralisação das instruções presenciais sem perda do empenho e da integração entre instrutores e alunos”, enfatizou a oficial.

A soldado Hillary Nadine, pertencente à turma CFP 2020, recorda o impacto positivo que a implementação do SisEducar trouxe aos alunos que viviam a incerteza da pandemia.

“A experiência com a plataforma EAD foi extremamente importante, pois permitiu dar continuidade aos estudos mesmo em um período tão desafiador como o da pandemia. A ferramenta não apenas garantiu o acesso constante aos conteúdos, mas também trouxe praticidade e flexibilidade para organizar o tempo de estudo de acordo com as demandas da rotina diária. Essa adaptação foi essencial para manter o foco, superar as dificuldades impostas pelo contexto e, acima de tudo, contribuir de maneira significativa para o meu desenvolvimento profissional durante o CFP”, destacou a policial.

Processo de criação

O projeto de criação de um sistema de ensino existe desde 2018. Inicialmente, o ambiente virtual era utilizado somente por alguns profissionais para armazenar informações relacionadas aos cursos de formação e capacitação realizados pela PM-AL. Com o cenário incerto da pandemia, representantes das unidades de ensino e do setor de informática da PM se reuniram para planejar a ampliação e o funcionamento integral da plataforma na modalidade a distância.

Entre os desenvolvedores do SisEducar estava o major Caldas, pertencente ao setor de tecnologia da informação da PM-AL. O oficial relata que o grande desafio foi viabilizar um servidor capaz de suportar o volume de informações a ser armazenado.

“O processo de criação passou por um extenso período de análise e levantamento dos requisitos das escolas. Foi necessário discutir as necessidades imediatas para possibilitar o reinício do curso. A partir de então, definimos as etapas de expansão para as demais capacitações promovidas pela instituição”, relembrou o militar.

Outra mente por trás da criação do sistema, o major Edval Lemos explicou que a construção do SisEducar segue um processo conhecido como “cebola”, dividido em módulos e adequado à demanda de cada setor.

“No momento da criação de um sistema, entramos em contato com os gestores responsáveis por cada setor da estrutura de ensino. A partir disso, eles apresentam suas principais necessidades e, juntos, pensamos na execução de ferramentas, como, por exemplo, o espaço destinado aos cálculos automáticos das notas de cada instrução”, pontuou o militar.

Outra fase importante na criação foi o estudo de outras plataformas de ensino já existentes, como a da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

“O SisEducar foi criado como um sistema de organização de informações. Para transformá-lo em uma plataforma de ensino, foi necessária a implementação de ferramentas de interação coletiva, como a inserção de fóruns e atividades. Nesse sentido, o diálogo e a inspiração em plataformas já existentes foram fundamentais”, completou o oficial.

Também idealizador, o major Daniel Souza desenvolvia, à época, as atividades pedagógicas na chefia da Divisão Técnica do CFAP. Presente no setor desde o período anterior à implementação, ele destacou o salto na eficiência obtido com a gestão dos dados a partir da digitalização dessas informações.

“A necessidade de modernizar nosso sistema de ensino já vinha de antes da pandemia. Por vezes, os procedimentos eram feitos manualmente, tornando um método obsoleto e suscetível a erros. Com isso, começamos a pensar em uma forma de tornar o fluxo de gestão dos cursos mais assertivo. Imagine só, uma turma com mil alunos tendo documentos de nota e presença conferidos em papel”, enfatizou o policial.

Dinamismo no fluxo de informações

Além de possibilitar a realização simultânea de diversos cursos, o SisEducar trouxe facilidades para os profissionais que auxiliam na gestão dessas capacitações. Entre eles está o 2º sargento Thiago Borner, da equipe de assistência pedagógica do CFAP. O militar relata que a plataforma centralizou as informações de forma virtual, facilitando a integração e aumentando a transparência do conteúdo.

“O SisEducar promoveu a informatização de processos antes executados manualmente. A plataforma permite o gerenciamento centralizado de informações acadêmicas, proporcionando maior eficiência operacional, reduzindo a incidência de erros administrativos, assegurando a rastreabilidade dos dados educacionais e fortalecendo a padronização e a transparência das atividades acadêmicas”, reforçou o profissional.

O sistema está presente na Central de Acessos da PM, disponível para todos os militares, sem a necessidade de criação de um cadastro prévio. A plataforma atende tanto os policiais que atuam como instrutores quanto os alunos.

O sargento Borner explica que, no ambiente virtual, estudantes e instrutores têm acesso ao lançamento, consolidação e acompanhamento de notas e escores individuais, com cálculo automatizado das médias parciais e finais, além do controle de frequência por disciplina e carga horária, com registros sistematizados e em tempo real.

Já para os gestores, a plataforma de ensino à distância também facilita a geração de relatórios para acompanhamento institucional de desempenho e evolução dos cursos, além de auxiliar na elaboração dos Quadros de Trabalho Semanal (QTS), documento que apresenta os horários, disciplinas e distribuição da carga horária semanal do curso.

Formação continuada e acessível

Com a normalização das atividades, a plataforma de ensino a distância tornou-se um importante instrumento de democratização do acesso às instruções fornecidas pela PM. Segundo o atual diretor de Ensino, Instrução e Pesquisa (Deip), tenente-coronel Fernando Soares, o SisEducar possibilitou a realização de turmas simultâneas, com maior participação de militares.

“Hoje, com a existência do Ensino a Distância, conseguimos formar uma turma de 200 policiais no Curso de Aperfeiçoamento de Praças (CAP), uma capacitação obrigatória para a ascensão na carreira dos sargentos. Além disso, é possível executar instruções em diversas áreas de atuação, tanto no âmbito administrativo quanto no operacional”, enfatizou o oficial superior.

A consolidação da plataforma proporcionou um aumento significativo na quantidade de cursos promovidos pela PM-AL. De acordo com dados fornecidos pela Deip, apenas nos seis primeiros meses de 2025, a instituição já superou o total de qualificações promovidas ao longo de todo o ano anterior: foram 29 capacitações realizadas, contra 25 em 2024. A expectativa é de que, até o fim do ano, o número de atividades formativas ultrapasse a marca de 40.