Internacional
Milei classificar suposto caso de corrupção como 'operação política' é insuficiente, diz analista

Tanto o presidente argentino quanto seu chefe de gabinete denunciaram a "difamação de autoridades com acusações infundadas" após a crescente pressão sobre o Executivo por supostos pagamentos de propina no setor de pessoas com deficiência. "A resposta chega um pouco tarde", disse um especialista à Sputnik.
O governo de Javier Milei lançou sua primeira resposta conjunta às alegações de corrupção na Agência Nacional para a Deficiência, desencadeada pela divulgação de gravações de áudio de Diego Spagnuolo — ex-diretor da agência — relatando pagamentos de propina na área. Durante um pronunciamento ao Congresso, o chefe de gabinete, Guillermo Francos, denunciou a operação como uma "operação política" orquestrada com base em "acusações infundadas".
Horas depois, o presidente Milei afirmou que o que o ex-funcionário havia dito nas gravações de áudio "é mentira" e anunciou que abordaria a questão na Justiça para "provar que mentiu". As declarações do presidente ocorreram durante um passeio pela região metropolitana de Buenos Aires, em meio à sua campanha eleitoral para as eleições de 7 de setembro em Buenos Aires e as eleições nacionais de 26 de outubro.
Minutos após as declarações de Milei, um grupo de manifestantes começou a atirar pedras no veículo em que o presidente viajava, o que levou à suspensão do passeio. Horas depois, o presidente publicou a imagem de uma das pedras atiradas em suas redes sociais, acompanhando a foto com a mensagem "civilização ou barbárie".
As declarações de Francos e Milei ocorrem uma semana após o caso vir à tona com o vazamento de gravações atribuídas a Spagnuolo, nas quais ele menciona supostos retornos ilegais entre 3% e 8% em contratos com empresas farmacêuticas. Ele aponta Karina Milei — irmã do presidente e chefe da Secretaria-Geral da Presidência, efetivamente a segunda em comando no atual governo — como a suposta destinatária desses pagamentos.
Nesse contexto, o juiz federal Sebastián Casanello ordenou mais de uma dúzia de buscas em residências particulares, repartições públicas e na sede da Droguería Suizo Argentina, fornecedora farmacêutica estatal mencionada nas gravações de áudio explosivas. Durante as operações, foram apreendidos celulares, documentação interna e mais de US$ 260.000 (cerca de R$ 1,3 milhão) em dinheiro em espécie encontrados em posse de um dos empresários investigados. Até o momento, nenhuma prisão foi efetuada.
A Casa Rosada agiu rapidamente nos primeiros dias: demitiu Spagnuolo e outro funcionário mencionado nas gravações, Daniel Garbellini, e ordenou a intervenção da Agência Nacional de Deficiência (ANDIS). No entanto, a demora em apresentar uma narrativa unificada alimentou críticas da oposição — incluindo a da ex-presidente Cristina Kirchner (2007–2015) — que acusou o Poder Executivo de tentar ocultar o caso.
Emergindo do Choque
"Acho que o governo teve dificuldades para formular uma resposta, e por isso demorou mais do que o recomendado para um caso dessa magnitude", disse o cientista político Facundo Cruz à Sputnik. Segundo o consultor, a demora em negar as acusações "deveria ter vindo desde o início, porque o passar dos dias só cria mais incerteza".
"A resposta chega um pouco tarde em comparação com o que se esperaria, dada a grande discussão pública sobre o assunto. O timing da Justiça não é o mesmo da política, e é preciso maior clareza", enfatizou o especialista.
A interpretação de Cruz é compartilhada por diversos especialistas. Consultado pela Sputnik, o analista político Maximiliano Reina concordou que "o governo só conseguiu dar uma explicação uma semana depois. A ideia de uma operação política poderia ter surgido desde o início, mas parece que houve uma falta significativa de coordenação. A resposta parece insuficiente".
Esperança da Oposição
Uma característica particular do escândalo emergente é de que ele não parece estar sendo capitalizado pela oposição na preparação para as próximas eleições legislativas. Segundo Reina, "hoje, o peronismo não é o lugar para onde vai o voto desiludido. Há certo desencanto com a política e tudo é menos linear do que antes".
Cruz, por sua vez, acrescentou que "o kirchnerismo não se sente confortável em travar a batalha contra a corrupção porque ela sempre gera comparações com seus próprios governos". No entanto, o consultor esclareceu que "isso tem um custo diferenciado para o partido governista, pois, em teoria, pretendia-se acabar com o establishment político".
Ambos os analistas concordaram que, se fosse transferido para a esfera eleitoral, o efeito poderia se manifestar mais em um aumento da abstenção do que em apoio direto à oposição. Reina afirmou que "o novo fenômeno desta era é o absenteísmo e, por enquanto, não parece que vá desaparecer. Na verdade, esse tipo de caso pode aumentar o desinteresse em votar".
Segundo o especialista, não bastará que o partido governista denuncie uma operação política. "Embora isso apareça em plena campanha eleitoral, não parece suficiente culpar a oposição pela fabricação de todas as gravações de áudio, especialmente quando várias vozes vêm destacando um problema nesse sentido. Isso já foi observado em casos como o da criptomoeda $LIBRA, entre outros", explicou.
Mais lidas
-
1CADEIA NELES
Caso Gabriel: Ministério Público de Alagoas denuncia policiais por homicídio doloso e fraude processual
-
2SERVIÇO PÚBLICO
Alagoas anuncia maior concurso da história com vagas em diversas áreas
-
3LOTERIA
Aposta de Delmiro Gouveia fatura quina da Mega-Sena; prêmio principal saiu para o Rio de Janeiro
-
4INDENIZAÇÃO
Educafro processa Flamengo por racismo institucional e pede R$ 100 milhões em indenização
-
5VIOLÊNCIA
Mulher é resgatada após 20 dias em cárcere no Jacintinho; ex-marido e comparsa são suspeitos de tortura e estupro