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Centro Cultural Ivan Barros: o recanto da memória e da cultura em Palmeira dos Índios

Espaço cultural e apartidário é reduto da memória e do povo palmeirense

Roberta Sampaio 14/08/2025
Centro Cultural Ivan Barros: o recanto da memória e da cultura em Palmeira dos Índios

A cidade de Palmeira dos Índios, berço de rica cultura e história no Agreste alagoano, celebrou um momento significativo em 24 de janeiro de 2024 com a inauguração do Centro Cultural Ivan Barros. Este novo espaço, idealizado e fundado pelo renomado escritor palmeirense e membro da Academia Alagoana de Letras, Ivan Barros, promete ser um marco na preservação e disseminação da cultura local, oferecendo um convite à comunidade para se reconectar com suas raízes históricas e literárias.

Situado estrategicamente na Rua Otávio Cavalcante, 100, no coração da cidade, o centro é a materialização de um sonho antigo de Ivan Barros. "Este centro é um sonho realizado, onde podemos celebrar a literatura e a história de nossa cidade", afirmou o escritor. A concretização desse projeto foi impulsionada pelo incentivo de figuras como Geraldo Sampaio, ex-ministro do Tribunal de Contas, e o médico e confrade da Academia Alagoana de Letras, Francisco Sales, que considerava Palmeira dos Índios o "berço da cultura, capital da cultura no sertão no Agreste", digna de um espaço para preservar sua memória e história.

Um guardião da história e das personalidades locais

O Centro Cultural Ivan Barros foi meticulosamente concebido para ser um repositório vivo da identidade palmeirense, abrigando um acervo que celebra tanto os feitos de seu fundador quanto os legados de outros personagens ilustres.

* Luiz Torres: Uma das homenagens mais sentidas é a Luiz Torres, descrito por Ivan Barros como um "amigo irmão". Torres foi o autor do Hino, da Bandeira e do Símbolo de Palmeira dos Índios, desempenhando um papel crucial na cultura da cidade. Foi ele quem incentivou Ivan Barros a se candidatar à Academia Alagoana de Letras, e uma sala no centro leva seu nome.

* Graciliano Ramos: O centro dedica atenção especial a Graciliano Ramos, um dos maiores nomes da literatura brasileira e figura proeminente de Palmeira dos Índios. O acervo inclui uma rara e completa coleção do jornal O Índio, um periódico centenário onde Graciliano Ramos iniciou sua trajetória como escritor, ao lado de outras figuras ilustres como José Pinto de Barros e Cícero Pereira. O centro também exibe bustos e fotografias do autor de "Vidas Secas". Ivan Barros detalha que foi Luís Carlos Prestes quem o convidou a filiar-se ao Partido Comunista, embora Graciliano nunca tenha sido de fato comunista.

* Jofre Soares: O auditório principal do centro, com capacidade para 60 pessoas, foi batizado em homenagem a Jofre Soares, sargento aposentado da Marinha e ator. Soares iniciou sua carreira no teatro amador de Palmeira dos Índios e alcançou projeção nacional ao atuar no clássico filme "Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos. Seu talento o levou ao Rio de Janeiro, onde se tornou um dos atores mais requisitados em filmes e novelas.

* Simão Dias e a Igreja do Rosário: O centro presta tributo a Simão Dias, um escravo que, ao fugir de União dos Palmares, prometeu construir a Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Palmeira dos Índios em troca de sua carta de alforria. A igreja, construída por negros escravos e onde se encontra o túmulo de Simão Dias, é um marco histórico da cidade, e uma escultura no centro lembra sua saga.

* Lampião e Maria Bonita: A rica e complexa história do cangaço também tem seu espaço. O centro exibe uma homenagem a Lampião e Maria Bonita, incluindo fotografias das cabeças decepadas do casal, o atestado de óbito de Lampião, e uma placa que oferecia recompensa por sua morte. A saga de Lampião e Maria Bonita continua sendo um dos tópicos mais lidos e pesquisados na imprensa local.

* Outras Personalidades: O centro conta ainda com galerias que registram a memória de diversos líderes políticos de Alagoas que incentivaram a criação do espaço, como o governador Divaldo Suruagy e o Ministro Humberto Martins. Há também fotos de Mário Lago, ator e cantor que foi amigo de Ivan Barros e a quem o escritor ajudou a escrever o livro "Chico no e das Alagoas".

Um acervo de documentos e memórias visuais

Além das homenagens às personalidades, o Centro Cultural Ivan Barros abriga um inestimável acervo de documentos históricos e visuais que narram a trajetória da cidade:

* A escritura de demarcação da Vila de Palmeira dos Índios de 1822, um documento raro encontrado no cartório do pai de Ivan Barros, Luiz de Barros. Uma cópia é guardada no centro, enquanto o original foi doado ao Instituto Histórico.

* A coleção completa do jornal O Índio, que é a única coleção completa conhecida no Brasil.

* A ata de inauguração da Estação Ferroviária de Palmeira dos Índios em 1930, um documento crucial que demonstra a importância do transporte ferroviário na época, assinado por figuras como Padre Macedo e Graciliano Ramos.

* Paisagens antigas de Palmeira dos Índios, incluindo fotos da feira de 1930, da Praça da Independência em 1940, e outros registros que permitem um mergulho no passado da cidade.

Conexões com a História Nacional

Ivan Barros também utiliza o espaço para compartilhar sua profunda conexão com a história política nacional. Ele revela detalhes sobre o assassinato do presidente Juscelino Kubitschek (JK), que ele conheceu pessoalmente. Barros acredita que a morte de JK em um suposto acidente de carro foi, na verdade, um assassinato orquestrado no âmbito da Operação Condor, que visava eliminar líderes políticos. Seu livro sobre o tema inspirou a abertura da Comissão Nacional da Verdade que apurou o caso. O centro possui uma fotografia de JK e um relato vívido de Ivan Barros sobre o dia do acidente.

O centro também faz menção a outros eventos e figuras políticas, como o Movimento Renovador de 1963 em Palmeira dos Índios e uma fotografia da visita de Jânio Quadros à cidade.

O futuro e a conexão digital

O Centro Cultural Ivan Barros não se limita ao espaço físico. Há planos para o lançamento de uma plataforma digital e perfis nas redes sociais, que divulgarão a programação cultural, eventos, exposições e atividades interativas. Essa iniciativa visa ampliar o alcance do centro, promovendo a cultura palmeirense para um público ainda maior.

Para Ivan Barros, este é mais do que um centro cultural; é um "patrimônio do Povo de Palmeira dos Índios para preservar a sua memória e a sua história", um legado que perdurará para as futuras gerações.

O legado da tribuna do sertão

A história de Palmeira dos Índios e a cultura alagoana também são contadas através do jornal Tribuna do Sertão. Fundado em 1996 por Ivan Barros, o semanário, que em 10 de janeiro de 2025 completou 28 anos, consolidou-se como um dos pilares do jornalismo em Alagoas. Atualmente sob a direção de Vladimir Barros, filho de Ivan Barros, o jornal é o semanário mais antigo de Alagoas.

A Tribuna do Sertão tem sido fundamental na divulgação de notícias e no impulsionamento do desenvolvimento regional, pautando debates sobre cultura, política, economia e questões sociais. Ao longo de quase três décadas, o veículo manteve seu compromisso com a informação de qualidade e a verdade, adaptando-se às mudanças tecnológicas e reforçando sua presença digital, enquanto mantém a tradição de um jornalismo ético. Como expressou Joaldo Cavalcante, ex-secretário de Comunicação de Alagoas, a Tribuna do Sertão "já faz parte da história da imprensa alagoana".

A inauguração do Centro Cultural Ivan Barros e a contínua atuação da Tribuna do Sertão reforçam a importância de Palmeira dos Índios como um polo cultural vibrante, determinado a preservar seu passado e a inspirar seu futuro. O centro está aberto ao público, sem necessidade de agendamento prévio, de segunda a domingo (exceto sábados), das 8h às 12h, convidando a todos para uma imersão na rica tapeçaria histórica e cultural da Princesa do Sertão.