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A rainha Djanira

Carlito Lima 10/08/2025
A rainha Djanira
Carlito Peixoto Lima - Foto: Assessoria

Djanira, moça bonita, 18 anos, por onde passava chamava a atenção. Estudava num colégio do Estado e morava perto da Praça Rayol. Seu primo Luiz, todo domingo, pegava o bonde no Centro para visitar os tios, desfrutar da bela praia da Avenida da Paz, comer a feijoada domingueira e conversar com sua paixão, a prima Djanira. Sua timidez nunca o deixou declarar aquele amor, porém todos sabiam daquela paixão escancarada. Ao chegar à casa dos tios cumprimentava-os formalmente, entregava um mimo à prima que displicentemente colocava o agrado em seu quarto, muitas vezes no lixo, sem que ele visse. Djanira nunca acompanhava o primo à praia, preferia seu grupo de amigos entre os quais havia Bernardo, tenente da Aeronáutica que servia na Base Aérea do Recife e gostava dos fins de semana em Maceió.

Tenente Bernardo e Djanira iniciaram um namoro. Os dois se apaixonaram. No cinema, na praia, nos clubes, era um agarrado escandaloso para época. Bernardo tinha uma moto, a namorada amava abraçá-lo na garupa e disparar em velocidade. Djanira ficou mal falada, ainda não havia acontecido a revolução sexual no mundo, as moças tinham de guardar a virgindade para o casamento. Numa bela tarde, Bernardo levou a namorada para as bandas da deserta praia da Jatiúca, foram tantos os abraços e beijos, que naquela tarde acabou-se a virgindade de Djanira. O tenente Bernardo foi transferido para a Base Aérea de Manaus. Os namorados se escreviam constantemente, o tempo foi passando, a troca de cartas foi esfriando. Depois de quase um ano, Djanira recebeu uma carta em que Bernardo a liberava do namoro, não queria mentir, ele estava com uma namorada em Manaus. Djanira chorou muito para esquecer Bernardo.

Quando Luiz soube do término do namoro, tomou coragem, depois de algumas talagadas de cachaça na casa do tio declarou-se à prima prometendo ser um marido exemplar, tinha sido efetivado na Assembleia Legislativa e um futuro promissor como assessor de deputado. Djanira não quis, achava o primo um babaca.

Djanira começou a namorar um fazendeiro de Anadia. Paulo trabalhava com o pai na fazenda, gostava da boemia de Maceió, chegado às mulheres, apaixonou-se pela beleza e sensualidade de Djanira. Ele bem que tentou avançar com as mãos no corpo da namorada, mas ela falava a seu ouvido, “só depois de casar”. Os pais da moça não gostavam do namorado da filha, quase sempre embriagado. Com seis meses de namoro eles noivaram. Djanira não morria de amores, mas queria casar. O grande problema da virgindade perdida, ela resolveu perto do casamento em uma viagem ao Recife com um cirurgião plástico. O médico deixou alguns pontos, quando houve a penetração sangrou o lençol branco e limpo do Hotel Beiriz. Foram morar numa pequena casa no bairro do Farol, Djanira não gostou da vida de casada. Quase toda noite Paulão chegava embriagado. Certa noite durante uma discussão, o marido deu-lhe um tapa; as surras ficaram frequentes. Djanira calava-se, estava infeliz.

Perto do natal ela teve uma surpresa, avistou o tenente Bernardo descendo à praia, foi um abraço forte. A partir daquele encontro, toda tarde, de moto e capacete, dirigiam-se a um motel. Tardes inesquecíveis de amor.

Acontece que Luiz, o primo apaixonado, descobriu a traição de Djanira, enviou uma carta anônima escrita à máquina. Ao ler a carta Paulão ficou louco queria matá-la, porém teve que se controlar, preferiu pegar a esposa em flagrante. Fim de tarde quando a moto saía do motel, Paulão avançou com um revólver na mão. Bernardo parou a moto, assustado, Djanira desceu. Bernardo aproveitou o momento disparou com a moto. Paulão mandou Djanira entrar no carro. Durante o percurso ele olhava a esposa chorando e cuspia em sua cara. Em casa só repetia uma palavra, puta, puta. Deu-lhe fortes tapas, amarrou-a com uma corda, retornaram ao carro. Djanira chorando só pensava na morte. Ao chegar no bairro boêmio de Jaraguá, Paulão parou o carro embaixo de uma boate, chamou Ana, a proprietária, sua conhecida cafetina, entregou-lhe Djanira amarrada.

- Trouxe mais uma para seu puteiro. Ligou o carro partiu em disparada para sua fazenda.

Foi assim que Djanira tornou-se a prostituta mais bonita e mais procurada na Zona de Jaraguá. Dizem, que anos depois, ainda bonita, abriu uma casa de mulheres em Boa Viagem, a mais famosa do Recife. Os fregueses chamavam de a Rainha Djanira.