Internacional

De terras raras à Ucrânia: sobre o que Putin e Trump discutirão em encontro?

07/08/2025
De terras raras à Ucrânia: sobre o que Putin e Trump discutirão em encontro?
Foto: © Sputnik / Aleksei Nikolsky / Acessar o banco de imagens

A reunião entre o presidente da Rússia, Vladimir Putin e seu homólogo americano, Donald Trump, foi confirmada pelo Kremlin e pode acontecer já nos próximos dias. À Sputnik Brasil, especialistas avaliaram o que pode ser esperado do encontro e quais acordos podem ser alcançados.

Na quarta-feira (6), Putin se reuniu com o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, em um encontro que foi caracterizada como construtivo e pode ter chancelado a reunião de alto nível que deve acontecer entre Putin em Trump.

Para Héctor Luis Saint-Pierre, professor titular de Segurança Internacional da Universidade Estadual Paulista (UNESP), no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas e líder do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (GEDES), o grande resultado desta reunião, é justamente o encontro entre os líderes das duas potências.

De acordo com ele, pela característica de Trump em "pressionar muito para depois negociar outras condições", podem faltar garantias que indiquem a possibilidade de avanços entre os países.

Além disso, diante deste contexto, Ana Prestes, doutora em ciência política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e analista de relações internacionais, avalia que o encontro é fruto de negociações que foram muito bem preparadas.

"A diplomacia russa ela não toparia um encontro que não houvesse sido bem preparado. Eles não me parecem sujeitos ou suscetíveis a surpresas e constrangimentos", analisa.

Segundo os especialistas, que não enxergam a possibilidade de muitos avanços a partir da reunião, a pauta comercial é o ponto fora da curva onde as conversas podem progredir.

Um exemplo, diz Saint-Pierre, são as negociações comerciais com relação às terras raras. "Uma operação cooperativa de mineração em terras ucranianas, coisas que interessam comercialmente ao Trump".

Prestes, por sua vez, acrescenta que a questão do Irã pode aparecer com destaque na mesa de negociações, com a Rússia reticente aos últimos ataques americanos a Teerã.

"A Rússia, ela tem uma boa relação com o Irã e eu penso que pode ser que paute isso com os Estados Unidos, no sentido de não aceitar ataques ao Irã", afirma.

Como deve ficar o conflito ucraniano na mesa de negociações?

Evidentemente, o conflito ucraniano também estará na mesa de negociações. Entretanto, de maneira diferente ao último encontro de Putin e Trump em 2019. O assunto, inclusive, já teve várias nuances desde que Trump voltou à presidência dos EUA.

Em um primeiro momento, o presidente norte-americano "se apresentou muito amigável, inclusive isolando muito o Zelensky das conversas", recorda Prestes. Foram realizadas conversas telefônicas com Putin e, em seguida, aconteceu uma reunião importante entre a diplomacia russa e a diplomacia americana, sem a participação de outros atores, como a União Europeia.

"Depois esse processo acabou se perdendo", diz a analista. Para ela, a relação pode ter esfriado por resistências da Europa e também por Trump ficar desconfortável ao sentir que não tinha "o controle da situação".

Por outro lado, a Rússia tenta articular a resolução do conflito diretamente com os ucranianos. Neste sentido, três encontros já foram realizados na Turquia.

Saint-Pierre, ressalta, ainda, que as negociações sobre a Ucrânia tem um patamar complexo dado o nível de envolvimento que os EUA colocaram a Europa e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)

"Ao menos a OTAN e a União Europeia decidiram repassar 5% do PIB para a defesa, o que significa gastos extraordinários nacionais para países com dificuldades econômicas e sociais. Esses 5% vão ser destinados, em grande parte, ao complexo industrial militar norte-americano", salienta.

Portanto, diante deste cenário, "qualquer negociação que tenha com Putin vai diminuir a credibilidade de Trump com relação a Europa, porque ele se comprometeu com a Europa de continuar apoiando [a Ucrânia], então os limites das negociações são muito estreitos", completa, destacando obstáculos para uma resolução sobre o assunto neste encontro.

Por Sputinik Brasil